Havia um garoto, um garoto encantadoramente estranho

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O garoto jogou o corpo para trás e fitou o teto do novo apartamento, tocando a ponta do nariz com seu indicador. Era um hábito chato que fazia quando estava pensando. Costumava escutar muitos comentários de pessoas próximas da sua mania, mas não se importava. Sempre acreditou que se ele escutasse comentários desnecessários que outras pessoas faziam, nunca seria feliz.

Provavelmente nunca teria saído da casa dos pais, que queriam aprisioná-lo nos negócios da família. Não era a ideia de ficar preso em um escritório fazendo o que seus pais sempre faziam que o perturbava, mas sim a ideia de não poder descobrir o mundo. Qual era a graça de não poder explorar tudo o que ele tinha ao seu alcance - e fora do seu alcance também.

Balançou os pés e tirou o dedo do seu nariz, sentando-se na cama. Sempre fora mais sonhador do que seus pais poderiam aguentar. Diziam que o garoto viva em seu mundo encantado e distante da realidade, o que sempre o deixava chateado toda vez. Em nenhum momento paravam para entendê-lo e ele não tinha com quem compartilhar todas suas ideias e teorias que enfeitavam sua mente, principalmente porque não tinham paciência. Ele se frustrava e prometia para si mesmo não perder a magia que via no mundo, decidindo explorá-lo por conta própria.

Queria ser ator, aliás. Não daqueles de televisão, mas queria apresentar peças. Ter a interação com o público e ver seus olhos brilhando diante da história que lhes era apresentada, o coração palpitando, os sorrisos nos rostos e o cérebro trabalhando para processar o que estavam assistindo refletiam no garoto como um raio de sol quentinho num dia frio. Para ele, isso era satisfação. Isso também era felicidade.

Andou até a sua cozinha e abriu a geladeira, tentando encontrar algo comestível mas, como havia acabado de se mudar, só encontrou o resto de uma torta que não conseguira comer antes. Fez uma careta e fechou a porta, olhando em volta da cozinha com um bico formado em seus lábios. Teria que sair para comprar algo, além de comprar várias outras coisas para preencher sua cozinha. Não havia levado tantas coisas da sua casa, apenas algumas velhas que haviam sido entregues pela sua mãe para que ele não ficasse sem utensílios. Achava seu filho um dissimulado, mas também precisava despachar as panelas velhas que tinha em casa.

Ele pegou o celular e viu algumas mensagens dos seus poucos amigos, perguntando como o garoto estava. Prendeu os lábios em uma linha e os soltou, fazendo um som de estalo. Uma mania tão chata quanto encostar o indicador no nariz, mas não conseguia fazer nada sobre isso.

Respondeu as mensagens rapidamente e pegou sua carteira, colocando-a no bolso da calça. Precisava fazer tanta coisa mas, naquele momento, queria se concentrar em comer algo. Seu estômago roncava e comer somente uma torta não faria muito bem para ele. Muito menos comer comida congelada que, provavelmente, compraria para o jantar mais tarde. Sabia cozinhar o básico, mas vivia enrolado na sua própria preguiça. Muita preguiça e quase nenhuma panela. Jimin não gostava das panelas velhas, mas não havia falado nada para a mulher. Ela poderia muito bem não estar ajudando em nada, então apenas agradeceu e a deu um abraço apertado, como sempre fazia com todos que amava.

Apertou o botão do elevador e o esperou pacientemente, cantarolando uma música e mexendo a cabeça no ritmo da mesma. Quando o elevador chegou e as portas foram abertas, encontrou uma garota. Cumprimentou-a com um sorriso fraco e encostou-se no espelho, listando mentalmente as coisas que precisava fazer e comprar. Era um pouco tímido, então não costumava puxar conversas com gente que não conhecia apesar de desejar muito conversar com todas as pessoas que estavam próximas a ele.

A porta do elevador abriu e a garota se despediu educadamente, fazendo com que Jimin apenas acenasse, mesmo a garota não podendo ver por estar de costas seguindo seu caminho.

Deu de ombros e seguiu os passos da garota, andando até a rua e soltando um suspiro frustrado. Estava com fome e não conhecia a cidade, tinha certeza que se perderia várias vezes. Acabou por parar em uma lanchonete, pedindo um lanche simples.

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