Cap 1 - Grande Notícia

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"   Podia ver o sol passar pelas folhas enrroscadas nas copas das arvores, o ar alaranjado do por-do-sol, sentia o cheiro doce de petalas. Ela ia todo dia lá, no mesmo lugar, para ouvir os sussurros inocentes dos pequenos seres que viviam ali. Para vê-los correndo e se esbarrando entre as folhas. Para saber como fora seu passado e seu futuro. Para passar o precioso tempo que poderia usar para trabalhar, mas que escolhera usar para encontrar-se nas raízes de uma arvore e pensar, sobre a vida, sobre o mundo, sobre tudo... ".

   A porta se abre em um estrondo, batendo na parede e voltando alguns centímetros bem lentamente. A forma humana na porta me encarava:

  -Clear! Preciso falar com você –ela fala apressada entrando no quarto.

  -Não Agatha, eu sei que você é filha da proprietária do prédio, mas eu já avisei que dás oito ás onze horas é meu momento para escrever… –falo irritada.

  -Mas são quase onze… –ela me interrompe chegando mais perto.

   -Mas ainda são dez horas –eu falo empurrando-a de perto de mim.

   Faz-se silencio.

   O relógio parecia passar cada segundo mais lento. Ela me encarava com ansiedade. O ponteiro passava o ultimo segundo assim tocando no numero colorido. Ela sorri para mim esperando algum sinal:

  -Então, o que é tão importante que não pode esperar 15 segundos?

  -Lembra do Robert?

  -Seu primo mais velho?

  -Sim, aquele de olhos verdes que brincava com a gente sempre quando eramos jovens. –uma boa parte da família de Agatha era indiana, então era dificil alguém nascer com olhos verdes– Bem, ele virá morar aqui ao lado, mas como os pais não virão com eles, minha mãe pediu que eles viessem dormir aqui em casa.

  -Eles?

  -Sim, Morty, o irmão mais novo dele tambem virá –ela fala levantando uma de suas sombrancelhas acusadoras, eu balanço a cabeça tentando lembrar de quem ela falara– bem, então, –ela abre um sorriso de cachorrinho fofo, o tal qual me fazia aceitar qualquer coisa– mamãe pediu para que eu fosse recebe-los quando chegassem, e como você é uma grande amiga minha, e conhece eles desde pequena, pensei que poderia ir comigo recebe-los, pode?

  -Sério isso Agatha?

  -Por favor, você só terá que espera-los comigo na rua.

   Ao mesmo momento em que ela termina, uma voz feminina conhecida grita ao fundo:

  -Agatha, eles chegaram, vá vê-los.

   Ela abre um grande sorriso em seu rosto delicado de Jasmine, com seu braço esquerdo agarra meu pulso e sai correndo pela porta aberta, assim me puxando e me levantando rapidamente da cadeira de rodinhas. Ela me leva escada a baixo em uma velocidade em que eu nem sabia que duas pessoas de mãos dadas seriam capazes de correr.

   Chegando na rua, vejo um carro grande e branco estacionando, nós duas ofegantes pela corrida paramos em frente a porta do prédio rustico. Ela começa a acenar e dar pequenos pulinhos, olhando para o carro em que eles estavam. Eu olho para ela e pergunto:

  -E como ele esta agora?

  -Não sei –ela para de pular– ninguém me falou nada.

   Lembro como ele era quando pequeno, magrelo, não muito moreno, de olhos verdes. Como eu sempre morei nessa rua, fiz amizade com Agatha e a familia dela desde pequena, então eles sempre vinham me chamar para brincar. Agatha sempre muito ativa, ligada no 220, se machucava constantemente, ele sempre nos aconselhando e sempre que ela se machucava ele fazia um curativo para a pirma.

   Uma vez, quando eu tinha sete anos, alguns garotos da minha escola implicaram comigo, e ele me defendeu todas as vezes que os garotos irritantes vinham atrás de mim. Algumas vezes, até se metendo em brigas por minha causa. Ele sempre me tratou como uma irmã dele.

   Como o pai dele é empresário viajara muito, um certo dia ele recebera uma promoção, mas para isso teria que ir para a Coréia. Decidiram então, se mudar para lá.

   Ainda consigo sentir o cheiro de bolo no ar, em pleno outono. Minha tia havia me dado uma meia que minha mãe me obrigara a usar, pois me incomodava. Sentada no sofá de casa assistindo novamente meu filme favorito, Era Do Gelo, ouvi Robert gritando meu nome do lado de fora, e sai de baixo da coberta correndo em direção ao portão. Não parava quieta por causa da maldita meia:

  -Está tudo bem?

  -Sim, só preciso te falar uma coisa –ele olha para meus pés inquietos, e faz uma expressão confusa– está tudo bem?

  -Longa história, que envolvem incomodo e fui obrigada, depois que você me falar te conto…

  -Não dá –ele me interrompe– ja estou atrasado, –ele olha para mim com um olhar de pena ou raiva, nao conseguia indentificar, provavelmente uma mistura dos dois– eu vou me mudar para longe.

  -M-mas, agora?

  -Sim, meus pais já estão indo. Não me contaram para que eu não avisasse ninguém.

  -Por que?

  -Não gostam de muitas cerimônias….

  -Onde está o meu computador? –o pai de Robert grita nervoso enquanto fecha o porta-malas, então olha para mim surpreso– ah, olá Clear, –ele anda em minha direção– me desculpe não avisar antes, tá… Não deu muito tempo para decidimos tudo isso. Manda um beijo de tchau para a sua mãe, ta bem querida? –ele coloca a mão em minha cabeça, bagunçando meu cabelo.

  -Ta bem senhor Wilslon

  -Eu já falei para me chamar apenas de Rick –fala tirando a mão de minha cabeça, com um sorriso gentil e logo em seguida dando meia volta.

   Eu olho para Robert novamente, e nós ficamos nos encarando, os olhos verdes dele já não brilhavam, ele simplesmente olhava para mim, com o ar ríspido de sentimentos. Provavelmente segurando as lagrimas que iriam escorrer durante o caminho para seu novo lar. Tal que moraria ate hoje.

  Apenas lembro-me de sentar no sofá novamente, Sid importuna Diego pela milésima vez na Tv e eu choro em baixo do edredom, choro como nunca havia chorado e nunca mais choraria na minha vida. Bem, até este momento.

   Tudo isso passa em questão de segundos na mente de Clear, segundos suficientes para que ela se distraisse e o grande carro estacionasse. A porta do passageiro abre e um garotinho pula lá de dentro, corre em nossa direção com seus curtos braços abertos em sintonia dos de Agatha, que sai correndo em sua direção, que a cada passo curva mais sua coluna na tentativa de ficar na mesma media de altura do menino:

  -Prima Ga! –ele grita com sua voz estridente.

  -Priminho! –ela grita de volta.

   Os dois se chocam, assim um pegando o outro nos braços, Agatha levanta ele o mais alto que consegue como se fosse um bebezinho em seus braços. Ela já tonta, para de girar e coloca ele no chão, que também estivera tonto. No mesmo instante um homem robusto, sai do carro e olha para eles com desgosto pela bagunça, continua andando em nossa direção quando finalmente me vê e dá um sorriso de canto, Robert havia realmente mudado desde a nossa despedida, não era mais o menino magrelo, mas sim um homem grande e musculoso, tal qual não devia se encaixar nos padrões da Coréia.

  Eu sentia saudades daquele sorriso, agora sem aparelho.

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⏰ Última atualização: Dec 18, 2019 ⏰

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