Mariana vivia em uma cidadezinha do interior. Vivia só. Conhecia bem as plantas da região, preparava chás, banhos e poções.
As vizinhas a procuravam para benzer as crianças que não dormiam, que sofriam com cólicas, que estavam enfermas. As moças a procuravam em busca de chás especiais para realizarem seus desejos. Os moços a procuravam em busca de sucesso e da mulher amada.
Mariana era muito popular e bem-vinda em todas as casas. Era convidada para almoços, festas de aniversário e casamentos. Todos diziam que ela era uma santa que ajudava sempre quem precisava. E era verdade, ela era uma mulher do bem, da paz, do amor.
Mas um dia tudo mudou. Mariana estava caminhando pelo bosque e sentiu um leve arrepio na espinha. Ela sabia, no fundo, ela sabia o que estava por vir.
Caminhando pelas ruas Mariana percebia os cochichos, os dedos apontados e as caras viradas. As mães não levaram as crianças para serem benzidas. As moças tinham vergonha de passarem na frente da sua casa. Os rapazes zombavam da sua aparência excêntrica.
De um dia para o outro Mariana não foi mais convidada para festas, casamentos e almoços. Ninguém mais queria ser visto ao lado dela. Era pecado eles diziam.
Era pecado uma mulher viver sozinha naquelas condições. Era pecado uma mulher se vestir daquela maneira. Era pecado preparar chás, banhos e benzeduras. Era pecado não ir à missa aos domingos. Era pecado caminhar pelo bosque durante o entardecer. Era pecado conhecer as propriedades das plantas. Era pecado receber em casa o morador de rua faminto, uma mulher solteira não deveria fazer isso.
Do dia para a noite a sua vida de santa virou a vida da perdição. A admiração virou repulsa. Era pecado lhe dirigir a palavra. Era pecado estar ao seu lado. Ela era uma diaba, eram o que as senhoras de bem diziam ao sair da igreja recém inaugurada na cidade.
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De santa à diaba
Short StoryMariana vivia em uma pequena cidade do interior e era muito querida pelos moradores, porém um dia tudo mudou.