A carta

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Eles dizem que é só uma fase, mas como você passa por ela quando todo mundo ao seu redor está chorando? O tempo estava nublado, o vento batia levemente fazendo com que as folhas se movessem. Pessoas de roupas escuras me cercavam, enquanto o padre dava o sermão eu conseguia sentir a tensão, todos pareciam incomodados com a minha presença como se eu fosse o responsável por essa reunião infortuna. Não consegui chorar, você espera fazer isso quando alguém próximo de você se vai para sempre...No entanto, não consegui tirar os olhos da Sra.Esther que fazia uma careta de injustiçada e cochichava com as outras pessoas. Ela parecia saber de tudo naquele instante, menos o fato de eu estar notando seu comportamento impertinente. Quando o padre parou de falar e sinalizou a minha entrada, tive uma enorme reviravolta no meu estômago, principalmente por causa de todos os rostos de expectativa virados para mim. No caminho ao padre que estava no centro de todos, percebi que a Sra.Esther estava histérica com suas mãos e boca que parecia que estava improvisando algo. Agora do lado do padre, fiquei paralisado ao encarar todos os rostos que pararam de chorar ao me verem prestes a dar um discurso, quando finalmente ignorei a todos consegui pensar em alguma palavras:

-Eu a ama- Antes de terminar a frase houve um baque, um corpo caindo duro no chão. Era a Sra.Esther! havia desmaiado, todos iam prazerosamente ajudar e estranhamente aliviados. Depois da rápida sugestão de levá-la ao médico todos foram embora sob o pretexto de ajudar. Me voltei a encarar ao padre que estava com uma cara de decepção, depois de ter me dado um sorriso amigável e um tapa nas costas, ele também foi embora. Quando vi que não tinha mais pessoas ao redor me virei para a sepultura da minha falecida esposa onde dizia "Uma alma tão jovem levada por um homem sem coração, vá em paz nossa querida Maria", era a primeira vez que tinha lido aquilo. Em seguida, disse:

-Me desculpe - Queria poder dizer "Eu te amo" ou "Me perdoe", mas tudo parecia sem sentido, pois nunca saberei o'que tinha acontecido após eu ter saído de casa naquela noite, quando despejei palavras sujas, quando a vi pela última vez. Então, chorei e chorei, por Maria meu grande amor.

Nossa casa, agora somente minha, se tornou um exposição de uma tinta branca decaída. Prometi a ela que pintaria, mas nunca o fiz. Minha casa é pequena, assim que você entra se depara com uma pequena cozinha e um balcão separando a pequena sala onde no canto da parede se encontrava nossa cama de casal...que agora será era só minha, por fim o banheiro estreito a esquerda da salinha. Estava tudo muito mal iluminado, ficou tudo mais escuro quando me afundei na cama, e ali percebi que estava no momento da vida onde ela continua a passar, mesmo com um evento surreal que acabara de acontecer, chega a ser...irritante! O meu transe foi quebrado por um pacote debaixo da cama que nunca tinha visto antes, nossa casa era tão pequena que eu já decorara tudo que continha dentro dela. Estiquei para descobrir o'que continha nesse pacote misterioso. Desembrulhava com uma ansiedade, minha cabeça latejava para cada barulho em que o embrulho despejava no silêncio inquietante que antes preenchia nossa casa. Finalmente tirei oque tinha dentro, era uma carta e atrás um livro esquisito na qual não prestei muita atenção, pois a carta era da pessoa mais improvável de todas, era de Maria. Meu estômago pulou ao ver o "Para meu marido Pedro", minha cabeça latejava mais ainda. Me afastei o mais rápido possível, Maria era a última pessoa na qual eu iria querer ouvir me xingando vingativamente. Oque Maria queria dizer? Naquele ponto poderia ser qualquer coisa, poderia ser me culpando , me xingando, me enforcando,não queria imaginar! A culpa foi subindo o quanto mais que ficava inquieto, subia do estômago para a garganta, da garganta para a boca. Fui rápido o suficiente para correr até a privada e despejar tudo. Sentado naquele estreito banheiro contemplando cheiro da minha derrota, percebi a fome que estava. Para ajudar, a geladeira estava vazia e isso realmente ajudou. Limpei minha boca, peguei meu casaco cinza e saí para o supermercado, evitando toda aquela situação angustiante. O sol batia no meu rosto e fiquei repudiado com toda essa luz. Caminhando suado cheguei no supermercado, quando entrei vi que minha colega tinha derrubado umas latas e estava recolhendo incansadamente, meus olhos cruzaram com os dela e pareceu ficar mais envergonhada. Estava tão absorto pela carta que esqueci que as pessoas não estavam mais felizes de me ver. Então, rapidamente peguei um miojo, uma caixa de leite e pães. Voltando para o caixa vi que uma senhora bem familiar com o seu rosto de mal humorada. A Sra.Esther estava andando normalmente pelo supermercado, me aproximei dela e falei:

-Que bom que já está bem não é, Sra. Esther?! - Não senti que minha aparição foi repentina, mas ela deu um grande passo para trás e deu um gritinho.

-OQUE ESTÁ FAZENDO COM ESSA POBRE SENHORA!? Uma moça que estava por perto venho em nossa direção com um rosto boquiaberto.

-Você está bem, senhora? Você não tem vergonha de perturbar essa pobre senhora?!

-Eu só estava- Antes de terminar minha frase, elas já tinham ido embora e Sra.Esther apesar de sua cara sempre ser mal humorada, parecia estar com um risco de sorriso no rosto. Fui ao caixa perturbado com o mal entendido e deparei com a minha colega desastrosa, estava de costas quando pigarreei e ela se virou:

-Ah, olá Pedro! Não te vi aí.

-Olá liza - Falei com pouco entusiasmo diferente dela.

-Tudo bem? Oh desculpa...sei que não está, só foi uma formalidade...

-Tudo bem...Porque você não foi ao funeral?

-Não gosto de ir para enterros -Hm...fiquei desconfiado dessa afirmação. Enquanto ela passava minhas compras observou e disse:

-Isso não é tão saudável, está se alimentando bem?

-Eu não sei cozinhar.

-Oh eu posso te ensinar, é super fácil! Ah também se quiser...pode falar comigo qualquer coisa ok? Eu te entendo- Porque ela está falando isso? Oque ela sabe? oque ela quer desesperadamente saber? os detalhes daquela horrível noite eu aposto.

-Porque faria isso!? Vocês me julgam deliberadamente e não consigo nem me explicar, você não entende, é igual a todos eles! - Peguei minhas compras com vigor e, ao sair , ouvi algo do tipo "Eu só queria ajudar", mas isso não importava o pessoal dessa cidade não prestam para nada. Cheguei na nossa casa decaída e fui jantar, preparei miojo que ficou pronto rapidamente. Já cheio fui para a cama e comecei a pensar. Já estou vivendo com tanta culpa e as pessoas não param de jogar na minha cara, oque faria diferença eu ser condenado pela vítima? Decidi que iria abrir e ler a carta!

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⏰ Last updated: Dec 19, 2019 ⏰

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A morte que me seguraWhere stories live. Discover now