Capítulo 1 - Josi

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Esse ano seria diferente. O encontro literário de dezembro, que acontecia sempre no shopping ou alguma cafeteria no período vespertino, aconteceria de noite, em um pub, com direito a usar a minha melhor roupa de balada. Ideia de Julinha, que todo ano procura fazer algo diferente para que nossa reunião seja memorável.

O presente do amigo secreto foi substituído pelo valor a ser pago na entrada no pub, alguns drinques e muita dança. Eu iria extravasar todos os 354 dias do ano até hoje que trabalhei até a exaustão. Exagero da minha parte dizer que sempre foi assim, que não tirei algumas folgas para ir à Bienal do Livro, ou mesmo outros encontros literários, mas o final do ano tinha chegado e minhas costas e cabeça mostravam que eu exagerei.

O trabalho foi em excesso, não as folgas, para que fique bem esclarecido.

Saí para a área da frente de casa que dividia com os meus pais, peguei meu celular e chamei o motorista particular para me levar a esse tal lugar. Fiz uma consulta rápida nas mensagens trocadas no grupo que fazia parte e digitei o endereço: Rua das Flores, 137. Por morar próximo ao centro, minha carona veio rápido, diferente do trajeto, que estava mais longe do que comentado.

Julinha e Deborah tinham ido no mês passado nele e falaram que era perto de casa. Conferi o trajeto no mapa, ele estava seguindo à risca a indicação que passei no aplicativo.

Por via das dúvidas, enviei minha localização em tempo real para Letícia, a amiga querida que tinha muitas coisas em comuns comigo.

Letícia>> Para onde você está indo?

Josi>> No pub, coloquei o mesmo endereço que vocês compartilharam no grupo.

Letícia>> Eu acho que não. Você bebeu antes de sair de casa?

Revirei os olhos sorrindo, ela conseguia ser divertida até nos momentos de tensão.

Josi>> Estou chegando, iremos tomar uma tequila para postar no Instagram e esfregar minha liberdade na cara daquele idiota.

Letícia>> Sim, seu ex perseguidor precisa ver que você está em outra. Mas não sei se esse momento será comigo, acho que você está indo encontrar outras amigas, está do outro lado da cidade.

Nem deu tempo de pensar no quanto o namoro de dois meses que vivi esse ano contribuiu para que eu me sentisse cansada. Além de ser muito ciumento, meu ex se tornou um perseguidor depois do término, enviando mensagens e criando perfis nas redes sociais só para dizer que me queria de volta, eu o bloqueava sempre.

Alerta de encosto acionado.

O carro parou em frente a um local com muro preto, vários carros de luxo parados na calçada me assustaram e com um sorriso sem graça, saí do carro em direção a única porta que poderia ser vista.

137 bem grande mostrava que sim, era o local que indiquei, mas onde estava o nome do pub?

Com meu salto alto e vestido justo, caminhei sentindo meu coração acelerar. As palavras da minha amiga começaram a pesar e a dúvida pairou no ar, será que estava no lugar certo mesmo?

Abri a porta e dei de cara com um armário, ou melhor dizer, com um homem alto, largo e exalando força bruta. Arregalei meus olhos e fiquei parada o observando, na dúvida se deveria fazer algo até que ele permitisse.

— Não vai entrar? — perguntou me fazendo voltar a respirar normalmente e caminhar pelo corredor com luzes em tons vermelho e amarelo.

Não lembrava de nenhum corredor de bordel na entrada, nas descrições de Julinha ou Deborah. Continuei dando passos para frente e a música sensual aumentou cada vez mais, o ar condicionado fez meu corpo arrepiar e quando finalmente cheguei no final do corredor, o que vi me assustou ao mesmo tempo que me surpreendeu.

Estava no lugar errado, definitivamente. Mulheres dançando seminuas em postes ao redor, mesas espalhadas pelo salão e a quantidade de homens era quase unânime de clientes, se não fosse eu.

Merda, tinha vindo parar em um puteiro. Será que hoje em dia tinha outro nome?

— Está perdida, querida, ou procurando emprego? — Uma mulher apareceu na minha frente, seios expostos e muito brilho no corpo me fizeram dar um passo para trás. Ela era linda, mas a vulgaridade tirava um pouco da sua real beleza. A Música havia diminuindo um pouco, o que me deixou escutar com tranquilidade. — Acho que é o primeiro, você tem cara de virgem.

— Não! — rebati na hora, nem sabia o que estava negando, ainda mais quando ela riu baixo inclinando a cabeça para o lado me analisando. — Quero dizer, vim para um encontro com minhas amigas, acho que minha carona me levou para o lugar errado.

— Ou é o certo. — Ergueu as sobrancelhas várias vezes com diversão. — Vem, vou te colocar em um lugar seguro, antes que os seguranças precisem tirar algum babão da sua cola, confundindo com as dançarinas.

— O quê?

Apesar do choque, quando tocou meu braço e me encaminhou para uma cabine mais ao fundo, fechada com um cordão na frente, realmente confiei que ela poderia me preservar do fiasco que tinha me metido. Havia um grande banco ao redor, um poste no meio e duas mesinhas espalhadas displicente por onde dava para andar.

— Sou Manuelle. — Estendeu a mão e a cumprimentei.

— Josi.

— A perdida virgem. Até parece que você caiu do céu de tanta coincidência.

— De quê?

— Quer beber algo? — perguntou mudando de assunto enquanto olhava ao redor deslumbrada, até parecia uma cena dos livros que li. Tentei não encarar seu corpo desnudo, mas o piercing no seio que ela portava me deixou intrigada.

— Tem o cardápio? Preciso ver o quanto posso pagar.

— Hoje será tudo por conta da casa. Gosta de doce, azedo ou seco?

Sentei-me na poltrona de couro me perguntando se aqui já tinha sido palco de muitas cenas de sexo e eu estava segura para não engravidar. Acabei encarando demais seu seio, depois fui para seu rosto encabulada.

— Eu...

— Doce, com certeza. Seja bem-vinda ao Coliseu, onde o duelo é apenas entre você e a luxúria. Me dê alguns minutos, irei avisar Marcelo que temos uma visita ilustre.

— Quem é Marcelo?

Não me respondeu, virou as costas e seguiu para o salão cheio de mesas e homens. Alguns me olhavam curiosos, outros nem se importaram, estavam focados nas dançarinas.

Oh, céus, o que seráde mim nessa noite?

...

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Querido Fiasco (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora