Prólogo: Um Novo Coração

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A luz alaranjada e difusa da tarde entrava pelas janelas, rasgando e dividindo o ar estagnado do grande salão real. Sentado em seu trono real, usando sua coroa dourada de sete pontas, cravejada com ametistas e rubis, com um peso que produzia um embranquecimento na pele clara de sua testa, estava o rei. Seu olhar era impaciente e vivia batendo no braço do trono com seus dedos, como se o ritmo das batidas pudesse acelerar a passagem do tempo. Os olhos castanhos fitavam a entrada do salão e nada mais seria capaz de movê-los para outra direção.

Finalmente, depois de uma espera quase eterna, um soldado com um manto roso, desenhado por linhas vermelhas como sangue, entrou pela abertura. Ele trazia na mão uma espécie de bastão muito bem entalhado, com diversos círculos na madeira próxima das extremidades e uma região suavemente arredondada no centro, reservada para se se pôr as mãos. O bastão deveria ter um metro e oitenta e trazia uma pequena pedra delgada, translúcida, quase sem cor, afixada na extremidade superior. Essa cena fez o rei abrir um leve sorriso com ar ade satisfação.

Mais dois soldados vieram Logo atrás do primeiro. E eles arrastavam um homem pelos braços. Um homem com vestes velhas rasgadas e marcado com vários cortes e sague seco pelo rosto. Seus cabelos e barba que já foram castanho-escuros mas possuem uma grande quantidade de fios brancos. Sua pele clara está marcada por vários hematomas e manchas de cores variadas. Seus olhos quase pretos parecem ter perdido a cor. Os dois soldados o arrastam até próximo do trono, uma posição que deveria ser assumida por alguém que requisitasse uma audiência com o monarca.

— Você já está pronto para falar? — perguntou o rei.

O prisioneiro levantou o olhar, procurando atacar diretamente os olhos do rei com os seus.

— Meus segredos são meus e de ninguém mais — ele disse.

Uma ponta de raiva percorreu a expressão do rei. Mas ele não deixou se levar. Afinal, aquele era o seu castelo e o prisioneiro esteve ali por anos sem que lhe causasse nenhuma outra preocupação.

— Não seja egoísta, mago — disse o rei. — Você é o último de sua ordem, o último dos magos imortais. Você deveria ser forte, belo e inteligente, mas mal consegue levitar um graveto. Seu conhecimento seria muito mais útil se fosse transmitido para os meus feiticeiros.

Ao lado do rei, um a sua direita e outro a sua esquerda, estavam dois homens que usavam túnicas vermelhas, com seus rostos parcialmente cobertos pelo capuz. Em suas mãos, seguravam dois cajados parecidos com o bastão na mão do soldado, mas que não transmitiam a mesma força para o olhar. Na extremidade de um deles estava afixada uma ametista e no outro uma esmeralda.

O prisioneiro manteve seu olhar firme, embora parecesse suscetível a desmaiar a qualquer momento. Ele disse:

— Feiticeiros não merecem o conhecimento da magia pura. Eles não poderiam controlá-la e apenas destruiriam tudo ao seu redor. Eu só poderia transmitir meu conhecimento para outro mago e, mesmo assim, ele não o compreenderia apenas com minhas palavras.

— Eu não preciso de todo o seu conhecimento — disse o rei. — Apenas algumas fagulhas seriam o suficiente para garantir o meu domínio sobre o mundo.

O olhar do prisioneiro ficou ainda mais profundo, como se estivesse prestes a saltar e agarrar o pescoço do rei com suas mãos esfoladas. Mas seu rosto ainda emanava uma serenidade ímpar.

— A magia não serve para governar o mundo — disse o prisioneiro —‍, ela existe para protegê-lo.

— E qual é a melhor maneira de proteger o mundo além do controlá-lo? — perguntou o rei. — Sob minhas mãos, eu puniria exemplarmente os criminosos, baniria os maltrato aos animais, evitaria a pobreza e eliminaria abusos. Ninguém poderia pensar em uma maldade sem que tivesse uma mão ou um pé decepado. Todos viveram em paz.

Sonho de Uma Verde Manhã ou O Último Conto dos DragõesWhere stories live. Discover now