01 - Andrew Lewis

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Em um quarto escuro e silencioso, um berço estava encostado em uma parede e dentro do berço havia um bebê bastante fofo deitado, com os dois olhos abertos em silêncio.


— hmm.. apenas o que no mundo acabou de acontecer? — enquanto pensava consigo mesmo, uma dor repentina envolveu sua cabeça, o fazendo não conseguir se conter e começar a chorar enquanto contorcia o corpo inteiro.


Uma série de memórias inundou sua mente, como se uma barragem tivesse acabado de estourar dentro de si e percorreu desenfreada por todos os locais querendo romper todo o seu ser.


A dor etérea sentida em sua alma, com toda certeza foi a maior dor que ele já sofreu em toda sua vida ou pelo menos que ele sentiu em suas 'duas vidas'.


Logo após quase morrer do choque recebido, ele se acalmou e lentamente começou a digerir sua memória pouco a pouco.


Após dez minutos organizando seus pensamentos, ele começou a entender um pouco, o que aconteceu.


Ele recebeu memórias suas, que não pareciam fazer parte de seu atual corpo. Sem contar que atualmente eu sou algum tipo de recém-nascido e mesmo assim mantenho minha plena consciência.


Ele logo começou a vasculhar essas suas memórias.


Sua vida passada não foi uma das melhores, na verdade não teria nada de errado competir entre as piores.


Desde criança sua vida foi um inferno, seus pais eram irresponsáveis e perigosos. Além de se drogarem o dia inteiro sem tempo para cuidar do seu único filho, eles trabalhavam com o tráfico de órgãos, sendo muitas vezes realizado sem o consentimento do doador.


Não bastava ser apenas irresponsável, seu pai era também absolutamente nojento e muitas vezes o estuprou em sua infância. Sua mãe sabia disso mas fingia não saber, afinal o que ela poderia fazer? sendo uma cadela egoísta e amedrontada.


Obviamente ele não frequentava a escola, pois com hematomas cobrindo seu corpo como tatuagens seria meio impossível não alertar o conselho tutelar ou até mesmo a polícia.


Sua vida se resumia a ficar trancado dentro de casa, ele preparava sua própria comida e até improvisou na falta de ingredientes. Ao aprender a viver sozinho em meio a solidão, começou a achar que não era assim tão ruim, pelo menos é muito melhor do que conviver com seus pais.


Realmente seus momentos de felicidade eram todos em momentos de solidão como assistir em sua tv ultrapassada, ler livros desgastados e cozinhar. E seus momentos de tristeza eram definitivamente acompanhados por seus pais.


"Sim, isso foi até eu alcançar meus 12 anos. Meu estado já estava totalmente desanimado e entorpecido, tudo que eu queria era simplesmente morrer, mas como uma criança que nem sabe direito o que é a morte iria arranjar coragem para se matar. "


"Ninguém quer morrer, apenas acabar com seu sofrimento.. "


"E aos meus 12 anos em uma certa noite, meu pai entrou pela porta do meu quarto, bêbado e sob efeito de entorpecentes como sempre. Ele sentou ao meu lado, em cima da cama e começou a acariciar tanto meu corpo quanto minhas partes íntimas, minhas memórias se tornaram vagas a partir daí e tudo que eu consigo lembrar são cenas confusas e com sangue. "


***


Seus pequenos olhos ficaram enevoados e sem vida ao se lembrar desses momentos de sua vida, é como se ele estivesse vivenciando essas cenas em tempo real, sua dor e sentimentos eram tão vívidos e o fez se sentir submerso em lama.


Uma expressão que não era adequado para um recém-nascido.


Seus olhos eram vermelhos escuros, com cabelos curtos e ruivos. Ele permaneceu em silêncio e junto com o silêncio do quarto trazia uma pressão invisível sobre o local.


" Eu ainda não compreendo o por que de eu estar aqui. Eu posso ter morrido? Caído num poço sem fundo e atravessado um portal para outra dimensão? Abrir meu guarda-roupas e acabar entrando em um outro mundo? "


Ele pensou em diversas hipóteses que poderia o levar a essa situação sem nenhuma descoberta relevante.


" Só consegui organizar uma parte de minhas memórias de forma resumida, nenhuma delas me dando algum tipo de explicação. Tudo o que eu posso fazer é lentamente digerir minhas memórias e depois pensar no que fazer daqui para frente " Ele contemplava em silêncio, enquanto continuava a fazer conjecturas


" Uma coisa é certa, meu antigo 'eu' definitivamente não existe mais e eu devo ter ocupado a alma deste bebê. Ou essa alma sempre foi minha e este possa ser meu renascimento. "


Enquanto ele pensava arduamente sobre o que possa ter acontecido, um barulho causado pela fricção da porta desgastada do quarto com o chão foi ouvido.


Infelizmente por causa de estar dentro do berço, ele não conseguia enxergar quem acabara de entrar no quarto. Som de passos começou a soar pelos entornos, causando pequenos ecos pelo quarto vazio.


Estando em silêncio enquanto olhava para cima, repentinamente apareceu uma cabeça em sua visão e logo após isso ele não conseguia enxergar.


Ao perder sua visão repentinamente, ele começou a se mexer freneticamente e fazer barulhos suaves e fofos.


Um homem aparentemente em seus 20 e poucos anos, com longos cabelos negros e olhos vermelhos escuros olhava para a criança que estava com cabelos negros cobrindo sua face, amarrou seus cabelos em um rabo de cavalo e observou novamente.


Após ficar um determinado tempo parado e olhando para a criança, ele quebrou o silêncio.


— ... você tem cabelos ruivos igual sua mãe e olhos vermelhos como os meus.. — o homem murmurou baixo conversando com a criança.


— Eu sou um homem bastante ocupado, então serei breve. Seu nome será Andrew Lewis filho de Jacob Lewis, a partir de hoje irei encarregar uma empregada para cuidar de você.


Jacob disse seriamente, olhando para a criança.


Após refletir sobre falar ou não suas próximas palavras, que não teria sentido algum em dizer, pois a criança não entenderia, ele disse:


— Sua mãe infelizmente não esta viva, pois morreu após o parto.


Após pronunciar essas poucas palavras, Jacob de longos cabelos e bela aparência se retirou do quarto, assim retornando o silêncio anterior novamente.


" Bom.. não tem nada que eu possa fazer, a partir de hoje serei Andrew Lewis. Mais importante, eu preciso organizar minhas memórias dispersas e acalmar essa puta dor de cabeça que estou sentindo. "

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