Hoje nós completamos um mês de namoro. Ele deve estar planejando algo incrível nesse momento para comemorar. Eu vou fingir que esqueci. Essa tem sido minha desculpa para muitas coisas, principalmente em relação à João.
Ele é perfeito. Um amigo perfeito, um namorado perfeito. Mas não sei o que têm acontecido. Aquele brilho no olhar, as borboletas no estômago, o nervosismo, o suor das mãos. Tudo acabou. Como se o sentimento fosse simples.
Tem pessoas que acham que ele tem cara de "machão", mas quem realmente o conhece sabe que ele é igual uma porcelana. Todo gesto deve ser cuidadoso. E o que se fala então, pensado e repensado pelo menos três vezes, e ainda têm a chance dele se sentir culpado ou ficar triste.
Era meio dia quando peguei minha bolsa para ir até em casa. Resolvi ir a pé.
Quando passo pela loja descubro o porquê de querer ir caminhando. A loja, aquela bendita loja. Inaugurou ano passado, perto do Natal. Foi dia 18 de dezembro, me recordo bem.
Descobri que havia uma loja de biscoitos de gengibre, os melhores da cidade, e tinha de ir lá. Minha mãe é fascinada por biscoitos de gengibre, então ia fazer uma surpresa para ela.
Pus os pés na loja e o vi. Como era lindo! Com seus olhos cor de mel e seu uniforme nada elegante. Senti meu estômago revirar, junto com a sensação de suor gelado nas mãos. Andei um pouco pela loja, olhando os produtos, até escolher alguns e levar ao caixa. Evitei olhar para ele, afinal, fazia apenas uma semana que havia começado a namorar. Chegou minha vez, seu nome era Miguel. Entregou-me a nota fiscal e agradeceu a preferência.
Naquele dia havia ido de carro. Quando entrei, coloquei a sacola no banco ao lado e analisei a nota fiscal. Percebi que havia um número de telefone.
Um ano depois percebo que a maior merda que já fiz na minha vida foi ligar para aquele bendito número.
Todas aquelas memórias, queimando em minha cabeça, cada vez sinto mais um pouco de peso. Será que ele sabe? Algum dia desconfiou? Imagino que não, ele não aguentaria tal ato.
Hoje, novamente, entro na loja. Observando cada detalhe como se fosse a primeira vez que entrava lá, ando por tudo. Mas no fim não encontrei o que realmente procurava.
Volto para casa inconformado. Mas nada surpreso com o que vejo. Um caminho de pétalas até meu quarto. Sigo até lá com uma dor no peito. Culpa.
Ao adentrar o quarto, o vejo. Lindo como sempre. Usando um terno vinho, segurando um buquê de rosas. Aquele sorriso, que me fez apaixonar, agora me fez derreter. Eu estava em suas mãos. Espalhado no chão do quarto havia pétalas e balões dourados. No canto da cama, uma foto nossa junto com uma camisinha neon.
Esse homem me conhece de uma forma que nem eu conheço. Ele pode até parecer ser uma pessoa santa, apenas de rosto, descobri isso hoje. O pecado em pessoa. Nos faz pensar da pior forma possível. Ele sabia como manipular, fazer tudo ser como quer. Oh, céus! Nunca o imaginei de tal forma.
Depois de um ano, passamos das preliminares. E como foi perfeito! Cada gesto, cada som emitido, tudo perfeito.
Menos minha cabeça, ela pensava na pessoa errada.
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Biscoitos de gengibre
RomanceJoão Augusto ama Pedro. E isso até poderia ser algo simples, caso o garoto em questão não fosse perdidamente apaixonado por Miguel, o simpático rapaz da loja com os melhores biscoitos de gengibre de toda a cidade!