Isso é um adeus?

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 A lua, ainda que não tivesse seu brilho próprio, sempre fora muito bonita e chamava a atenção de todos quando estava em seu alto e em sua fase cheia. Mas ainda que estivesse daquele modo naquela véspera de Natal, pouco conseguia ter foco em si... O céu estava tomado por volumosas nuvens pesadas e que prenunciava uma chuva daquelas. E assim como ameaçava as pesadas gotas caírem sobre terra, as lágrimas do pequeno Kim Yugyeom, de 10 anos, iam contra a grama na qual ele encarava.

Suas mãos seguravam aquele precioso colar que tanto lhe tinha valor. Era um triângulo de prata com um dente de leão talhado ao seu centro, tendo tanto significado ao jovem, porque fora sua mãe quem lhe dera pouco antes de falecer e o que ele carregou como um talismã por todos os dias... Até aquele específico 24 de Dezembro. Os dedinhos apertavam a correntinha que já estava levemente manchada - já que o menino nunca se atentou a fazer tratamentos de limpeza no acessório - e refletia que aquele era o momento no qual teria de se afastar do seu artefato.

Aquele colar não era dele, aquele colar era ele...

E seu coração sempre estaria onde Jinyoung estivesse, nada mais justo de que o seu talismã ficasse com o menino.

- Meu amor! Eu recebi seu áudio chorando... O que foi? - Ouviu a voz angustiada de Jinyoung, dois anos mais velho que si e seu namoradinho desde a infância. - Me diga o que houve? Por que chora tanto? - Ele abriu os braços e recebeu o manhoso Kim em um abraço daqueles bem apertados, e que nem se precisa de palavras para identificá-los como uma despedida. - Fale algo, Gyeommie... Eu estou agoniado...

- Temos pouco tempo, amor...

- Como assim? - Park riu, já sentindo os olhos marejarem. Yugyeom era sua metade, e vê-lo chorar fazia seu coração se contorcer em agonia. - Pouco tempo nada... Vamos passar o Natal juntos, não é? Foi o que combinamos... Mas porque você me pediu para trazer o presente hoje? - Inquiria. Ele não conseguia manter a paciência... Sempre fora bom em ajudar os outros a lidar com os próprios problemas, entretanto, quando as coisas apertavam para si, era bem complicado. - Yug...

- Shiii... Não posso explicar se você não me deixar falar. - Yugyeom interrompeu, fazendo com que Jinyoung sentasse ao seu lado na grama e encarando o seu colar enquanto procurava as palavras certas a se dizer. - Bem... Meu pai descobriu, Jiny.

- O-o quê?

- Você sabe que minha avó sempre me ajudou com o nosso namoro, certo? Ela nunca teve nada contra e é um anjo na minha vida. - Começou a contar. - E eu pedi um dinheirinho para comprar um presente para você... Seria Natal e nosso primeiro aniversário como oficialmente namorados, eu não podia simplesmente deixar passar em branco. - Fez uma pausa e engoliu todas as lágrimas que insistiam em sair. Sua gastrite até mesmo atacara e ele sentia vontade de colocar tudo o que comera naquele dia, para fora. - Ela adiantou minha mesada e eu consegui comprar aqueles livros que faltam para sua saga favorita. - Explicou. - E minha avó disse que eu deveria colocar uma dedicatória nos livros, para que você sempre se lembrasse de mim aos vê-los... E assim tentei fazer. Porém, meu pai me viu fazendo isso... Percebeu que o garoto que até então eu dizia ser meu melhor amigo, é meu namorado...

- Yug... - Park prestou, pela primeira vez naquela conversa, atenção no rosto do namorado e notou algumas marcas no mesmo, identificando a surra que o garoto deveria ter levado. - Eu sinto muito...

- A-agora meu pai rasgou todos os livros, brigou com minha avó e disse que vai me levar embora dessa cidade de merda... Para longe de você, porque segundo ele, não sou gay, estou sendo apenas influenciado. - Terminou de falar, sentindo as bochechas grudentas por tantas lágrimas, os olhos ardentes e o corpo todo quente, demonstrando que o garoto estava febril por todo o nervoso que se forçava a passar. - Eu escapei enquanto ele arrumava as malas... Escapei para me despedir...

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