Um

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Yoongi podia facilmente se equilibrar em cima das próprias pernas, mas naquele momento a tontura e a forma desajeitada como andava era apenas um charme que servia de desculpa para se apoiar firmemente no corpo de Seokjin; o mais velho até ria, o Min não sabia se era porque tinha certeza que tudo aquilo era um teatrinho — e consequentemente uma estratégia para fisgar a atenção e o coração do Kim — ou por realmente achar engraçado e adorável o fingimento.

Os dois subiram devagar a escadaria da entrada no prédio, Seokjin segurando firme na cintura de Yoongi, fazendo o menor querer começar a beijá-lo ali mesmo, mas ele só sorriu. Estava sorrindo e rindo abobalhado desde que saíram do restaurante, talvez até mesmo antes disso, no início da noite. Com um olhar cúmplice e carinhoso, o mais velho deixou o Min no corredor ao se aproximar da portaria do prédio. Yoongi mordeu o lábio, observando Seokjin de costas e tirando o cachecol do pescoço; estava tão concentrado no Kim que até percebeu o semblante estranho dele ao se dirigir ao porteiro. Yoongi franziu as sobrancelhas quando o homem se aproximou de novo, com as chaves do apartamento ao redor do dedo.

— Alguma coisa errada? — perguntou.

— Nada errado — respondeu com um sorriso ao acariciar a bochecha do menor.

No momento, o rubor na face de Yoongi o afastou da situação em questão, então ele apenas acompanhou o namorado elevador acima para o andar em que ele vivia. Seokjin o matinha perto e quente, com o braço ao redor dos ombros do Min, apertou o botão com o número do seu piso.

— Você tá bem?

— Não bebi tanto — disse, passando o nariz gentilmente pela pele do mais alto e entrelaçando seus dedos.

— Pode ficar essa noite?

Os olhos do Min brilharam e ele apenas assentiu, se aconchegando no peito do namorado. Considerava-se sortudo por ter Seokjin, por chamá-lo de seu; além de ser lindo (o que ele não podia ignorar) o Kim sempre o tratara bem, com carinho, tanto que às vezes Yoongi se sentia sobrecarregado de tanta paixão.

A porta do elevador abriu e os dois saíram sorrindo um pro outro de mãos dadas, com o mais velho tirando do bolso as chaves de seu apartamento. Já era algo habitual que estivessem daquele forma, nessa mesma atmosfera, nesse mesmo lugar, mas Yoongi sempre se sentia diferente, era como se toda vez, com Seokjin, fosse a primeira. Estava perdidamente apaixonado, dava pra ver.

— Quer comer alguma coisa?

— Acabamos de vir do restaurante — apontou com humor, o namorado arqueou uma sobrancelha, sugestivo. — Não tô com fome.

Kim tirou o casaco grosso que usava, o pendurando no cabideiro da entrada, Yoongi o entregou o seu para que fizesse o mesmo e o abraçou por trás, acompanhando seus passos.

— Que tal um filme?

— Sem paciência pra filmes agora — o baixinho soltou com um risinho arteiro antes de começar a beijar a nuca do maior. Seokjin sentiu os pelos se arrepiarem e virou-se para Yoongi, o abraçando completamente e beijando sua testa. — Eu quero você.

— Diz que não está com fome, mas suas ações dizem o contrário — disse.

Yoongi riu, se doando ao maior ao colocar os braços por cima de seus ombros longos e retribuindo imediatamente o beijo que recebera. Seus dedos iniciaram rapidamente o desabotoar de botões da camiseta do mais velho, no entanto Seokjin o impediu ao empurrar o corpo do Min na direção da sala, os dois caindo no sofá aos beijos. Com habilidade, Yoongi empurrou os sapatos para fora dos pés, massageando o couro cabeludo do namorado com os dedos ágeis, puxando cada vez mais ele para si. Ouviu o zíper da calça do mais velho ser aberto, mas antes que pudesse prosseguir nas preliminares, Seokjin segurou suas mãos e beijou sua bochecha com carinho, fazendo o menor sorrir. Puxou-o para um beijo mais profundo e lento de imediato.

— Promete que vamos ter o pra sempre — pediu, ofegante, olhando no fundo dos olhos do Kim.

— Namorar um escritor já não me torna eterno? — ele respondeu, beijando rapidamente o Min mais uma vez.

— Te amo — confessou.

— Eu sei — sorriu.

Ele acordou no meio daquela noite com algo o perturbando. Não sabia exatamente o quê — podia ser um sonho ruim, Yoongi vinha tendo vários pesadelos ultimamente, e apesar de não ter o sono leve, podia ser algo do exterior, algum barulho o atrapalhando de dormir. A cortina do quarto esvoaçava com o vento noturno e Yoongi levantou-se para prendê-la, só então percebeu que Seokjin não estava do seu lado, mas de fato escutava barulhos vindos da sala. Voltaria para cama, mas agora o sono já tinha ido embora.

Levou um tempo para voltar à realidade, mas ele se levantou e saiu do quarto silenciosamente, com medo de assustar o namorado acordado na sala. Estava sonolento, mas parou ainda no corredor quando ouviu uma voz nada familiar vindo da cozinha. Do outro lado do cômodo, um relógio marcavam quatro da manhã. Cedo demais para visitas.

Seu cérebro inicialmente não prestou atenção na voz, apenas nas situações que poderiam se encaixar aquele cenário, mas quando ouviu a voz do namorado, passou a se atentar ao diálogo.

— Então pega sua carteira e vai embora — Seokjin disse. — Não posso deixar você com a chave, Jungkook.

— Isso tudo porque ele está aí?

— São quatro da manhã, tenha noção — advertiu. — Da próxima vez, deixe a chave.

— Por que você é tão duro comigo?

— Não estou sendo duro, estou sendo racional. Eu avisei para você que traria Yoongi hoje e mesmo assim você veio. Ele pode acordar e aparecer a qualquer momento.

Ele. Estavam falando dele.

— Desculpa — disse a outra voz. — Eu só estava com saudades, te esperei a manhã inteira.

— Fiquei preso no trabalho.

— Não me dê desculpas, só me dá um beijo.

Yoongi cobriu a boca, assustado. Ou seria surpreso? Queria poder observar a cena para entender que tipo de brincadeira era aquela mas logo ouviu os estalos soarem, o que só podia significar uma coisa: Seokjin estava beijando outro homem.

— Precisa ir embora, amor — Amor. — Te ligo e te busco mais tarde.

— Preciso de você, Jin — respondeu o outro. — É tudo que eu preciso.

— Não podemos, aqui não — reprimiu. Yoongi fechou os olhos marejados, imaginando a cena e todas as opções sujas de desfecho para aquele cenário. — Jungkook.

— Rápido, vai.

Ele queria vomitar.

— A gente não vai nem fazer barulho.

Queria desaparecer.

— Te amo, Jin — disse.

— Eu também, bebê.

Cobriu mais forte a boca para que seus soluços não escapassem da sua boca, mas as lágrimas ainda molhavam os dedos, o fazendo ciente do quanto chorava. Apoiou-se na parede, com medo de cair sem forças se não tivesse algo para se equilibrar, e agora era de verdade, não era charme ou teatrinho. Pensava que poderia cair e desmaiar ali mesmo, mas só voltou para o quarto e deitou-se na cama, cobrindo-se completamente e chorando baixinho, mas podia ouvir muito bem o próprio choro, e sabia o que estava acontecendo na cozinha, a poucos metros dele.

Seokjin estava o traindo. Tinha o trocado. Yoongi era substituível.

Ouviu a porta do apartamento ser aberta e então fechada, e suspirou, prendendo todos os sentimentos dentro de si e os pensamentos que se enrolavam em sua cabeça o fazendo sentir dor. Queria ligar pro seu melhor amigo, fugir dali, se esconder, mas não tinha saídas, Seokjin se deitou novamente na cama e Yoongi começou a fingir que estava dormindo, até que de fato dormiu. Ou desmaiou de decepção ao ter o coração brutalmente quebrado.

Ele não precisava de pesadelos, a sua realidade já estava o assombrando.  

Poljubi Me SadOnde histórias criam vida. Descubra agora