𝒔𝒊𝒏𝒄𝒆 𝒕𝒉𝒆 𝒅𝒂𝒚 𝒘𝒆 𝒎𝒆𝒕.

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  Os fogos de artifício sempre foram uma das coisas prediletas de San no ano novo. Apesar do barulho ensurdecedor, ver o céu escuro ser tomado pelas formas coloridas que se dispersavam e voltavam rapidamente, com o barulhinho do resto da pólvora descendo devagar até a praia, valia a pena. Olhar para esse espetáculo fazia-o sentir-se como se fosse maior, imponente, só porque era capaz de ver aquilo ao vivo. Ele se sentia vivo. Definitivamente, era seu feriado favorito.
 Aquele show durou por umas 2 horas mais ou menos e, conforme o tempo se passava, menos gente ficava na praia. Naquele ano tinha ido para Jeju com alguns amigos da faculdade, que estavam se divertindo ao máximo (lê-se 'bebendo pra caralho'). Sentia que era o melhor dia de sua vida.
 A turma de artes cênicas fora, também, junto com a de direito, letras e psicologia, da qual San fazia parte. Dentre os alunos com suas roupas coloridas estava Mingi, sentado em uma tanga na areia com algumas cervejas do lado, nem um pouco sóbrio. San conhecia Mingi desde o colégio, e sempre fizeram parte do mesmo grupo de amigos, porém não eram muito próximos naquela época, e ambos nunca souberam o por quê. Porém, quando os dois passaram na mesma faculdade pública, acabaram se encontrando nos corredores do campus e conversaram mais entre si: Mingi pediu o número de San, trocavam mensagens todo dia, combinaram de sair para vários lugares durante a semana e cuidaram um do outro durante as piores ressacas após noites agitadas. No fim, tornaram-se grandes amigos: era inegável o carinho que um tinha pelo outro, e todos poderiam ver isso. Era tão explícito que muitas pessoas perguntavam se estavam juntos romanticamente, levando San a dar uma risada sem graça e negar qualquer coisa sobre.
  O problema é que ele não sabia que Mingi torcia muito para que um dia chegasse e ele finalmente confirmasse as suspeitas daqueles desconhecidos. Mesmo sendo óbvio a paixonite dele por San, este era lento demais pra perceber algo – vivia no mundo da lua, de fato. Na verdade, tinha um pouco de insegurança também, visto que não achava que alguém sequer gostaria tanto dele ao ponto de querer ver sua cara inchada de manhãzinha, com o cabelo todo espetado e tudo mais. Mas Mingi não ligava para isso: conhecia tão bem o amigo que já sabia o que sentia, mesmo que tentasse negar a todo custo por pura timidez. Chegou o momento em que ele se deu conta que estava caidinho por ele, e isso o assustou muito. Pensou muito no que fazer, em como contornar isso tudo, mas não adiantou de nada: toda vez que via o sorriso enorme de San, aquele que ia de orelha a orelha, sentia o coração errar as batidas, as borboletas no estômago e aquela pequena falta de ar, do tipo que você suspira inconscientemente. 
  Mingi não queria parar aquilo, e por isso mesmo tentou mostrar que estava apaixonado de todas as maneiras possíveis, mas San simplesmente não se tocava. No fim, desistiu daquilo, mas ainda estava muito apaixonado por seu amigo. 
  San já desconfiava que sentia alguma coisa a mais por ele, também, mas não sabia dizer o quê. Admiração? carinho? familiaridade? atração romântica? sexual? Ele era uma pessoa um tanto quanto confusa, mas era inegável que sentia o peito palpitar quando os olhos castanhos, cheios de estrelas de Mingi encontravam os seus, em um segundinho rápido. Só faltava-lhe o veredito final.
  Seguiu o som da risada alta, desengonçada, enquanto o maior ouvia alguma piada idiota sobre seja lá o que seja. Sabe quando todo o resto da sua visão embaça, focando em apenas uma pessoa? foi isso que San viu conforme se aproximava. O som dos passos dos pés descalços na areia gelada fizeram Mingi virar – e corar – ao vê-lo. Sorriu involuntariamente e deu tapinhas no lugar ao seu lado na tanga. San aceitou o convite e foi se sentar. O olhar intenso do outro caiu sobre si, e sentiu-se despido: parecia que Mingi conseguia ver o que ele pensava e sentia, tinha-o na palma de suas mãos, e isso deixou-o extremamente desconfortável. Mas, felizmente para ele, sabia esconder muito bem a vergonha e o nervosismo que sentia.
— Feliz ano novo, Sannie. 
— Feliz ano novo.
Sorriram um para o outro. Naquele instante, toda a atmosfera natural e tranquila foi substituída por um bloqueio que nenhum dos dois sabia de onde vinha. Reinou um silêncio por alguns segundos, até que Mingi começou a puxar papo. 
 Conforme falava, Choi sentiu o cheiro de Vodka barata e vinho quando Song falava algo – Estava bêbado, obviamente. Isso o acalmou um pouco, porque sabia que o outro não lembraria de nada no dia seguinte, incluindo qualquer desconforto possível. Ele mesmo bebeu algumas cervejas com ele, mesmo que odiasse o sabor, e nem percebeu que conversaram por umas 3 horas seguidas. A praia, antes cheia de turistas, champagne e crianças correndo, agora estava vazia, somente com os dois sentados ali no meio. A maré subiu tanto que o mar agora tocava os pés dos dois, em seu vai-e-vem. 
  E ficaram ali por mais tempo, até que o sol resolveu mostrar as caras e anunciar o amanhecer. Riam de alguma coisa boba que San contara, uma história antiga de escola que envolvia uma encanação quebrada e alunos encharcados, tudo por culpa de um amigo em comum. Dava para ouvir o coração dos dois a uma boa distância, e quase ensurdecia os próprios, vibrando em suas caixas torácicas. Alguma coisa vinha por aí, eles sabiam.
Então, Mingi resolveu trazer a tona.
— Ei. – com o chamado, San virou. — V-você lembra daquela vez que você subiu em cima da mesa, bêbado, no meio do jantar da família do Yeosang?
— Claro que lembro, fui eu quem levou bronca e expulso da casa dos pais dele! — San riu, mesmo estranhando o gaguejar. — Mas você também não se salva, não: lembra de quando tentou roubar uma placa de trânsito, às duas da manhã, e saiu correndo depois só de pijama?
— Ah, quem nunca, né? 
 Gargalharam. definitivamente, tinham passado por situações peculiares. 
— E da vez que a gente teve que limpar o muro da escola, porque o Yunho acionou o alarme do carro da frente do nada, e pegaram a gente no flagra? 
— Eu fiquei com tanta raiva dele! — San gargalhou. — E o pior foi que ele fugiu depois! ficaram os quatro otários que sobraram pra limpar aquilo lá.
— As uma da tarde, em um sol de 30 graus.
— Em um sol de 30 graus.
 Nesse momento, a tensão de antes deixou de existir, e uma sensação de paz ficou em seu lugar. 
 De repente, Mingi parou de rir e só sorriu. San franziu o cenho, coração quase pulando pra fora da boca. O outro virou totalmente para ele, ficando cara a cara. Dali, não dava mais pra fugir, mesmo que Mingi quisesse sair correndo dali. O amanhecer pintou o céu com suas cores quentes, refletindo a luz no mar, que continuava com o vai-e-vem habitual. O cheiro característico chegou a eles, visto que o vento, suave, trouxera-os de presente. 
  Ele fechou os olhos, inspirou o ar limpo e sorriu. Os olhos cheios de estrelas encontraram os outros, chocados, embebidos naquele sentimento inebriante. Então, ele disse:
— Você lembra de quando ficamos presos na delegacia? aqueles foram as horas mais aterrorizantes da minha vida! você sabe, eu tenho um pouquinho de medo desse tipo de coisa. — sorriu. — Eu não queria ter entrado em uma delegacia, mas você acabou machucado, e eu não podia ficar parado ali, vendo você se foder inteiro. Precisava de alguém do seu lado naquela hora.

fogos de artifício - sangi.Onde histórias criam vida. Descubra agora