...pobres garotas

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Sentado aqui, o bucho roncando de fome, ao meu redor os pernilongos fazem sua festa barulhenta, açoitando meu ouvido com seu zunir maldito, e só de pirraça procuro matar o máximo deles, com as mãos. E os que caem nas minhas garras engulo com um gole de saliva catarrenta.

Meu nome é Eu. Batizado de Eu Carestia Silva. Mesmo. Você deve imaginar a quantidade de piadinhas sem graça que já ouvi ao longo da minha vida. E olha que nem religiosos meus pais eram para terem botado em mim esse nome. Mas ele não é importante, na minha história ele não é significativo, de modo algum, é algo para se passar despercebido, mas bem, queria introduzir algo leve antes de lhes dar um soco no estômago.

Sentado aqui, numa cadeira de espaldar alto, tenho aos meus pés, espalhados pelo chão, belos pedaços que parecem humanos, braços, pernas, pés, mãos e cabeças, todos de crianças. Mas não se preocupe, são manequins, descartes de lojas de roupas e algumas bonecas inanimadas.

Nesse ponto tenho que confessar o motivo deles estarem aí. Isso soará um absurdo, revoltante, eu deveria estar na cadeia. (Mas por manequins?) Isso será considerado a escória da escória, e é. Eu sei que é. Eu sei.

Pela descrição você deve estar imaginando que eu gosto de destrinchar crianças e depois comer. Isso consegue ser pior. Eu não as quero mortas, nem mutiladas. Eu as quero vivas e bem, para meu deleite e satisfação. Explico-me, tenho uma condição de nascença… os psicólogos diriam que sou pedófilo.

Desde jovem sentia-me diferente dos meus amigos. Eles queriam pegar as mulheres peitudas das revistas, eu queria a minha irmã, ou qualquer outra criança da idade dela. Fazer com elas o mesmo que aqueles caras das revistas faziam com as mulheres. Milhares de vezes, enquanto minha irmã – seis anos mais nova – tomava banho, eu ficava deitado na minha cama, imaginando.

Nesse ponto tenho que deixar uma coisa bem clara. Nunca molestei minha irmã, embora na época eu desejasse. Nunca molestei minhas priminhas, embora tenha batido muitas punhetas por elas. Nunca molestei minhas vizinhas, jamais encostei nelas, aliás eu era – e sou – uma pessoa muito antissocial, evito chegar perto de todas as meninas. As bonecas da minha irmã não tiveram essa sorte. Coitadinhas.

Hoje tenho 40 anos. Você imagina a quantidade de bonecas que passaram pelas minhas mãos nojentas? As lojas de brinquedos aqui da minha cidade nunca frequentei, para não dar desconfianças, mas as da capital me conhecem pelo nome, sou cliente especial por lá. Eles imaginam que sou um grande benfeitor de algum orfanato, sim, claro.

Só que, depois de todo esse tempo, cansei-me das bonecas, vê? Seus sorrisos falsos, as bochechinhas rosadas que eu adorava deixar brancas e viscosas, o umbiguinho delicado, que eu sentia um deleite absurdo de lamber, sem falar de outras coisas, que não descreverei, não desejo lhes atormentar muito. Mas elas deixaram de me satisfazer. Eu não consigo mais gozar com elas. O que me desespera e irrita, pois em verdade, as quero respirando.

Sou um ermitão por motivos óbvios. Não tenho esposa e deus me livre dos filhos. Trabalho das cinco da manhã às quatro da tarde numa lavoura de cana-de-açúcar, onde não há crianças. Moro em uma chácara afastada do centro, apenas cercado por outras chácaras, em sua maioria vazias, sem crianças por perto também. Só vou à cidade para comprar suprimentos básicos. Sal, farinha, café e açúcar. Sou magro, como pouco e mal. Sinto desejo por crianças e sinto um remorso absurdo por isso. Não imagina quantas vezes já me passou pela cabeça morrer e acabar com essa agonia.

Quando as bonecas pararam de satisfazer os meus desejos, até fiz um belo nó na corda, amarrei na árvore e pensei em acabar com tudo. Mas lembrei da minha irmã. Ana é uma mulher muito carinhosa, está sempre vindo me visitar, por mais que eu não lhe dê muita atenção. Ela aparece com seus dois filhos (graças eles não serem meninas) e coitada, fica reclamando da sujeira aqui de casa, e do trabalho que ela tem para limpar tudo, e do quão mal eu ando comendo. Se ela soubesse o que eu realmente quero comer, choraria uma vida inteira. Eu não me matei esse dia por Ana. Ela sofreria muito. Seu marido e nossos pais estão mortos, sou seu único irmão e não quero nunca que ela sofra.

Gosto de dizer que não morri por Ana, mas o real motivo é muito mais pestilento. Eu não queria morrer sem antes ter uma criança de verdade em meus braços. Eu não podia. E o quanto aquilo me atormentava? Muito. Notou que estou escrevendo sobre isso no passado? Pois bem, a verdade é que agora eu já posso me matar.

Se eu parar a história aqui vou te deixar com a consciência em fúria, certo? Imagino que sim. Mas será de sua conta e risco ler para além disso. Lembra o que dizem sobre a curiosidade? Pois bem, sigamos.

Ontem, quando a corda já estava no pescoço e tudo, desisti. Essa noite não dormi. Passei a noite tentando fornicar com minhas bonequinhas, mas não conseguia, elas não me serviam. Tive até delírios. Elas conversavam entre si, comentando o quão impotente eu estava ficando. Que elas queriam ser abusadas e eu nada. Riam seus risinhos infantis de escárnio, e eu não conseguia uma ereção para aplacar suas boquinhas nojentas. Teve uma mais atiradinha que até fez um strip-tease, mas nada me animou. Eu já estava ficando machucado, e meio ensandecido. Deitei na cama e passei a arquitetar meu plano.

Cada vez que eu imaginava uma criança de verdade vinha a culpa arrasadora. Eu tentava limpar a mente, pedir forças externas, perdão, enquanto lágrimas grossas escorriam de meus olhos. Voltava às bonecas, que costumavam aplacar meu desejo, mas dessa vez não podiam. Um sentimento de repulsa tão grande me invadia e diversas vezes fui até a cozinha buscar a faca mais afiada.

Meus surtos de desejos ficaram cada vez pior, como se os 40 anos de impulsos suprimidos estivessem aflorando de dentro de mim. Eu queria uma garotinha e queria agora. Mas eu também não queria, pois sei o quão errado isso é. Apenas uma criança, inocente, que seria tirada de seu casulo de proteção por um filho da puta desgraçado. Eu não conseguia mais conciliar essas duas versões de mim. Saí de casa.

Eu não acredito em deus. Se ele existisse, eu não teria esses impulsos nojentos e terríveis. Nem os tantos outros estupradores de crianças, e não de bonecas, como eu. Mas vejam se não foi uma preparação divina, logo às 10 horas de uma manhã de sábado eu sair de casa para espairecer e encontrar uma garotinha de sei lá, uns 6 aninhos andando em frente ao meu portão. Sozinha. Na mão rechonchuda uma bonequinha de plástico. Na cabeça um chapeuzinho e atrás de si um cãozinho pulguento.

            – Oi garotinha – ela assustou. Olhou para mim com seus olhinhos verdes e sorriu! Sorriu, para mim!

            – Oi.

            – Está perdida? Cadê a mamãe?

            – Num sei. Tava bincando com o pingo e ela sumiu. Cê conhece a mamãe?

            – Conheço sim. Ela está aqui dentro. Vamos lá chamar ela.

Ela entrou na maior inocência. Ainda quis me dar a mão, mas eu não tive coragem. Devo parar a narração? Você deve estar imaginando o que aconteceu.

Meu coração batia desbocado. Parecia que ia sair pela boca. A culpa e o prazer eram um afrodisíaco tão forte que eu me sentia quente, a ponto de explodir. Minha ereção estava rasgando a calça. A garota era falante. Entrou chamando a “mamãe”. Correu pelo quintal e me olhou com uma pureza de cortar o coração.

Fiz ela entrar na cozinha e ofereci água. Minhas mãos tremiam ao encher o copo. Eu deveria estar com uns 40º de febre. Ainda não tinha coragem de ficar muito tempo perto dela. Estava me acostumando à ideia. Dentro de mim travavam uma luta, o libidinoso x o certo a se fazer.

Minha vontade era de dar vasão aos meus desejos, muitas vezes cheguei pertinho dela, senti seu aroma infantil e quase a desnudei, mas não tive forças. Sequer seu cabelo toquei. Suor brotava da minha testa, escorriam pelas costas, molhavam minhas bolas e me fazia ensandecido.

            – Quer ver minhas bonecas?

            – Cê tem bonecas tio? Posso vê memo? E a mamãe?

            – Venha, o tio vai mostrar pra você.

Levei ela até meu quartinho da perversão. Nunca deixei ninguém entrar ali, obviamente. Ana sempre quis saber o que tinha ali, mas eu disse, apenas coisas velhas. Não eram. Eram minhas bonequinhas.

Quando abri a porta ela soltou um suspiro de alegria. Centenas de bonecas estavam ali, encarando-nos, todas bem cuidadas – sempre passo “creme” na pele delas – a garota me olhou e eu assenti. Ela correu dentro do quarto e ficou admirando boquiaberta. Nessa hora me veio a coragem. Com dois passos eu estava atrás dela. Colado em seu corpo quente. Segurei seu cabelo amarelo, macio como a seda. Ela assustou. Tentou se afastar, mas eu não deixei. Quando ela fez um muxoxo de dor me arrependi. Caí ajoelhado aos seus pés e comecei a chorar. Eu sou um mostro. Um monstro!

Agarrei a garota pela mão e a arrastei pela casa. Fora, eu gritava! Ela não entendia o que estava acontecendo. Começou a chorar também. Pedia a mamãe. Eu chorava junto. Desesperado. Quando cheguei ao portão ouvi alguém gritando.

            – Eliza. Cadê você? Isso não tem graça. Eliza!!!

Era a mãe. Joguei a garota pelo portão e ouvi a garota gritando por ela, que começou a perguntar o que tinha acontecido, o que o homem tinha feito, se a tinha machucado. E eu atrás do portão, ouvindo o interrogatório. Vamos chamar a polícia. Vamos embora.

            – Meu cachorrinho! Gritou Eliza.

O maldito cachorro tinha ficado em minha casa. Agarrei o desgraçado e joguei por cima do portão. Só ouvi um grito dele. A mãe começou a bramar impropérios no meu portão. Eu ia pagar por tudo, pedófilo “estrupador”. Ela ia chamar a porra da polícia… Corri para dentro de casa. Esperei a polícia durante o dia todo. Ela não apareceu.

Desesperado, em profunda agonia, descobri que finalmente podia voltar a gozar com minhas bonequinhas. Durante esse dia, enquanto esperava a polícia, meu apetite só aumentou. Cheguei a abrir feridas em mim mesmo. E o sentimento de nojo e repulsa pelos meus atos fazia tudo mais gostoso.

Quando deu nove horas da noite eu parei para descansar. Sentei na cadeira de espaldar alto no quartinho e fiquei olhando a bagunça que eu tinha feito, inalando o cheiro da minha perversão. Então senti raiva. Uma raiva tão grande que comecei a matar todas as minhas bonecas, calar suas bocas sujas. O machado era perfeito para degolar. Cortou cabeças, pés, braços e olhos. Só parei quando nenhuma delas mais vivia.

Cansado voltei a sentar nessa cadeira e passei a comer pernilongos. Tenho fome, e tenho nojo, e tenho raiva, e tenho medo, e tenho pena. O cabo do machado ainda na minha mão. Esse é o momento de acabar com tamanho sofrimento. Mas alguém decidiu fazer o serviço por mim.

Eles chegaram em três. Escarneceram.

            – O filho da puta brinca de bonecas.

Mas depois entenderam o motivo e seu escárnio voltou em forma de mais raiva. O pai da garotinha, e os dois tios eram homens fortes, curtidos de trabalho duro, embrutecidos pelo tempo. Não tive tempo de gritar, até dei as boas vindas aos seus murros, socos e pontapés. Porém na hora que enfiaram o grosso cabo do machado no meu ânus, e empurraram até minha agonia final, não fiz nada mais que aguentar a dor em quase silêncio, colhendo em minhas mãos o fim do meu tormento. Fixei meus olhos nos olhos azuis de um manequim, sorri para ela, ela piscou para mim.







P.S.: O texto não tem intenção de promover ou incentivar a pedofilia, muito pelo contrário, é uma crítica a ela.

Bonecas estupradasOnde histórias criam vida. Descubra agora