Prólogo

52 3 13
                                    

Quando Marcus olhou mais uma vez pela janela, viu em meio a tempestade uma figura fantasmagórica cavalgando em direção a fortaleza de sua família.

-A deusa veio ajudar! - gritou, mas ninguém ouviu por conta da chuva. Correu dali.

 -Papai, - o rapaz de cabelos cumpridos entrou afoito na sala onde Marlon acalentava seu filho mais novo.

-Faça silêncio, Gregório dormiu.

-Papai! - Marcus insistiu ainda ofegando. -Eu vi uma pessoa se aproximando na estrada. Ela está montada em um corcel branco e brilha como uma estrela! Acho que é a Deusa Mira que veio salvar a mamãe!

-Nunca duvide de seus filhos, Marlon disse a si mesmo. Confuso, mas sem questionar, correu até a janela. Forçou os olhos através da chuva e logo avistou o que o filho descrevera. Avançando na direção do castelo, alguém se aproximava montado em um cavalo a galope. De fato, a estranha figura possuía uma aura de luz, o que fez Marlon duvidar de sua própria sanidade.

-Cuide do seu irmão - disse sem demora. Cobriu-se com sua capa e disparou para fora, mas não sem antes pegar seu pesado machado.

Quando apareceu do lado externo da fortaleza, os soldados, assustados com a presença do lorde, se colocaram de pé e acenderam as tochas no pátio protegido pela chuva. A água estava acima da linha do tornozelo, mas, mesmo assim, ele avançou firme.

 -Abram o portão. Vocês não  viram que alguém se aproxima do castelo?

-Não vimos ninguém se aproximando, senhor – respondeu um dos soldados que carregava uma tocha próxima ao rosto. Logo que disse isso, de um posto acima das muralhas, assopraram uma corneta avisando que alguém de aproximava.

-Abram, eu quero ver pessoalmente quem está viajando nessas condições em direção a minha casa.

Os pesados trincos se soltaram, as correntes tintilaram pela pedra e o pesado portão se abriu. Não havia deusa alguma, apenas uma senhora baixinha numa montaria muito simplória; cascos velhos e cela de couro surrada. E, diferente do que se podia esperar de um ser superior, ela irritava-se com o animal que não mais lhe obedecia assustado com os trovões.

Marlon gritou vencendo o barulho da chuva. -Meu desespero é tão grande que meus olhos já me pregam peças. Vi uma deusa chegando em minha casa e agora só vejo você. Quem é, e o que quer no meio dessa tempestade?

O vento soprou mais intenso e a capa da mulher sacudiu de forma violenta.

-Que diabos! Deixe-me entrar antes que eu seja levada como uma folha!- ela forçou a entrada e Marlon fez sinal para que a deixassem passar.

O cavalo deu vários passos para dentro do pátio coberto. Em instantes, diversos soldados a cercaram com espadas, arcos e machados em punho. Bastava um único sinal de Marlon e ela cairia morta. Contudo, a forasteira não mostrava nenhuma ansiedade.

Um rapaz de rosto sonolento, que empunhava um belo machado dourado, forçou uma voz grossa.

 -Espero que saiba que você está diante do Mestre da Madeira.

-E eu sou a rainha das roupas molhadas – ela respondeu saltando de sua montaria. Em seguida desamarrou a capa encharcada deixando o tecido se espalhar no chão atrás dela. Parecia que não se dava conta das armas apontadas em sua direção.

Marlon, entrou no círculo e se aproximou de forma perigosa - Que demônio ou loucura a fez sair de onde estava no meio desse temporal? Não sabe os perigos...?

Com um breve movimento de mão, ela interrompeu o homem, que era duas vezes maior que ela. Marlon e os soldados sentiram um calafrio percorrer seus corpos, a chuva diminuiu por um instante.

O Príncipe dos Cristais - O Machado de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora