Eu estava correndo de forma desesperada, entrando mais no interior daquela floresta infinita. Tudo aconteceu muito rápido. Senti um movimento nas minhas costas e algo grande pulou sobre mim rosnando de forma assustadora. Com minha parada brusca para não bater no que tinha pulado eu cai e olhei pra frente. Eu não conseguia crer no que via: Uma fera hedionda, suas roupas estavam rasgadas na base, porém o que tinha sobrado dela mostrava que era um príncipe. Suas orelhas eram pontudas no topo da cabeça. O rosto, em formato de meio humano meio lobo mostrava um focinho triangular e caninos brancos alongados e ameaçadores. Os braços, fortes e com bíceps, tríceps, e quantos outros ceps couberem lá. Pernas alongadas e firmes, e pés com garras que poderia matar qualquer um. Estava em posição de ataque. Quando se virou para mim, eu notei algo em seus olhos: Amargura. Os olhos da fera, de um azul profundo demonstravam extrema raiva. Quando me olhou pareceu enxergar minha alma, assim como somente uma pessoa fazia. Era ele.
Ele veio em meu resgate, o mesmo idiota que tinha que escolher entre mim e a Vadia e escolheu ela. O mesmo que dois dias antes resolveu que eu não era mais o suficiente. Foi uma mudança drástica. Algore levantou as sobrancelhas em uma incredulidade mascarada.
-Olha, a princesinha tem um protetor- ele disse em tom sarcástico- mas eu sinto que sabe quem ele é, não ? Sempre consegui descobrir emoções, eu sinto? Seu coraçãozinho está preocupado.- ele começou a andar em um semi-círculo, por onde passava a campina definhava e morria. De repente ouvi um rosnado baixo. Um rosnado de raiva. Percebi pelo olhar da fera que era direcionado a mim.
- Não preciso da sua misericórdia. - a fera disse, sua voz era forte, profunda e carregada de raiva. E autocontrole. Coisa que eu estava rezando pra que ele tivesse. - vá embora daqui, essa briga não é sua. - e virou o rosto, se dirigindo para Algore. - deixe a garota, ela não precisava se envolver. Isso é entre nós.
- Ah, eu gostaria muito de deixá-la ir, porém, sua beleza é encantadora. - como em um estalar de dedos ele apareceu do meu lado, e começou a enrolar uma das mechas do meu cabelo em seu dedo. Eu estremeci. - Tem incrível inteligência, é curiosa, e muito habilidosa com tudo o que pratica. Um presente perfeito para meus filhos. O que me lembra, feliz aniversário, Vincent. - A fera rosnou, e avançou em minha direção. De repente, Algore não estava mais lá. A fera recuou de forma brusca, lançando sobre mim uma enorme coluna de neve. Me derrubando.
- Não mate a garota. Vincent. Ambos a queremos viva. Você mais do que eu.- Com a coluna de neve deslocada com a força da fera, um pequeno lençol de grama se fez visível. E nele uma única rosa, vermelha e viva. Algore pegou a rosa. Mas ela não morreu,como todas as outras coisas vivas que nele tocavam. - Ah, uma lutadora. Sobrevivente de um forte Inverno. Esse será teu presente de aniversário Vincent. - de repente o ar começou a ficar carregado. O tempo fechou e eu comecei a sentir frio, um frio que passava por todos os panos do meu vestido. Mas não um frio de temporadas de inverno. Mas sim um frio de que algo não estava certo, estava ruim. Muito muito ruim. - Sempre tão imprudente Vincent. Nunca pensando em seus atos. Mas agora terá algo com o que contar - Enquanto Algore falava, sua voz saia dobrada, como se dois Algores falassem ao mesmo tempo. - meu presente é, em sua casa, em seu castelo, tudo que lá habita mudará com você. Está destinado a torna-se essa fera hedionda permanentemente, até que consigas com que um coração puro apaixone-se por você. Porém, seu tempo é curto, enquanto vives, esta rosa o acompanhará. Só irás apaixonar-te por que nunca poderás ter. Está fadado a esta vida.
Nesse momento, algo no tempo começou a mudar. Algo na fera começou mudar. Seus traços de fera ficaram mais marcados. Seus músculos tornearam, as íris de seus olhos cresceram como as de um lobo. Em um grito agonizante em cobriu seu rosto com as mãos, e assisti suas garras crescerem. Eu assistia horrorizada a essa mudança, sem ter forças para correr. Como em um passe de mágica tudo parou, o tempo voltou ao normal. A fera caiu no chão com uma aparência exausta, rendida a dolorosa transformação. Algore se virou pra mim.
- Princesa, não pense que esqueci de você. Sua profecia também é nobre. - Tudo começou a mudar, a floresta ficou densa, o barulho da natureza se calou, como se esperasse minha maldição. - seu destino é nobre. Sua família te esconde um segredo. Algo que você estava destinada a não descobrir, mas para seu bem, e pelo bem de sua querida fera será preciso. Posso te adiantar algumas coisinhas: princesa, você é uma caçadora de feras. Seres místicos, há eras sua família caça essa grandes feras. Em um conselho para descobrir o seu futuro, eles concordaram em livra-la desse fardo. Concordaram em não transforma-la em uma caçadora. - ele fechou os olhos e quando ele abriu a flor se cristalizou. - Mas isso estragaria meus planos.- Eles esticou o braço em minha direção e uma névoa esverdeada guio-se em minha direção, misturando-se com o amarelo de meu vestido bufaste de meu vestido.- crescerás em amor, mas uma desilusão amorosa irá amargurar seu coração. Porém, descobrirá sua linhagem, e pensando em somente fazer o bem se tornará uma huntress.
Senti uma pontada no estômago. Minha visão ficou turva, e eu senti minhas pernas reagindo e bombeando, eu iria cair. A Fera gritou e pulou em minha direção. Tarde demais. Eu senti o frio da neve em meu rosto e busto. O gelado do espesso e consistente lençol branco penetrando meus osso. Minha visão começou a escurecer, mas ainda captei umas palavras finais.
- Não! - gritou a fera, agora recuperada avançou em direção ao Algore, que facilmente desviou - Não devia tê-la amaldiçoado. Ela não faz parte disso.
- Sinto muito - Disse Algore em uma falsa tristeza. Girando a flor cristalizada, completou. - Mas minhas maldições são irreversíveis, e mesmo que fossem, por que eu deveria reverte-la ? - e abriu um sorriso, expondo seus dentes pontudos, não grandes.
- Ela é somente uma garota, não merece esse destino. - E avançou. E dessa vez Algore não saiu da frente, esticou o braço e a Fera grunhiu de dor.
- Muitas pessoas não tem o destino que merecem. Meu trabalho seria somente distribuí-los as pessoas certas - Ele jogou a flor em cima de um bolinho de pelo que a fera se tornara - aproveite suas rosas. Sua caçadora, e seu tempo. Tudo ficou escuro e eu perdi a consciência.

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A Fera e a Caçadora
FantasyReleitura a meu modo d'A bela e a fera. Muda muita coisa, mas o conceito é o mesmo. :))