20 de dezembro de 2019

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um dia eu serei grande e terei outras dores. por ora, continuo na mesmice dos cantos e os choros escondidos que no fundo querem ser descobertos, porém não explicados. essa coisa de amar é estranho, dói sempre e nem podemos controlar. se pudesse, tiraria da minha vida, mas não posso. começa com coisas pequenas, mas encorpa-se como o molho do cachorro-quente que nunca tenho paciência de esperar ficar pronto. talvez estejamos falando sobre isso: crescer é adquirir paciência. não sei se estou sentindo isso por ser meia noite, aniversário da minha irmã e the smiths estar sambando nos meus fones de ouvido. é irônico, metade dos meus amigos não conhecem the smiths. talvez mais da metade. talvez todos. queria conversar com alguém, mas tudo é tão complicado. eu sinto meu coração quente, mas algo falta aqui. eu quero chorar e nem sei o porquê. não sei se é de felicidade ou tristeza. às vezes eu sou tóxica comigo mesma, jogo meus sentimentos numa lata de lixo, pensando que assim irão embora. me julgo demais. eu julgo a mim mesma como se eu fosse alguém que não me conhece. eu faço isso. espero que quando eu crescer, tudo fique bem. não, não me importa se meus professores digam que já estou ficando adulta e meus pais queiram que eu arrume um emprego logo. eu não me sinto uma, ainda sou criança, choro por tudo e estou assustada. ainda não tenho tanta paciência, deixe-me treiná-la por mais um punhadinho de anos. sinto-me afogar. eu não sei nadar. agora escuto yes i'm changing de tame impala e você não sabe a ironia deste título. sim, estou mudando. estou mudando tanto que nem me reconheço. sinto que alguém me derreteu e tem me posto em diferentes jarros e moldes para depois me congelar outra vez. tenho medo de evaporar no meio do caminho. e se eu evaporar no meio do caminho? eu estou crescendo e isso é assustador. estou com sono, mas não quero dormir. é dia 20 e minha irmã faz 20. prometi levá-la à itália, vamos viver por lá. mas eu tenho medo, sabe? céus, tenho muito medo. muito medo de eu me enjoar, mudar de sonhos outra vez. estou cansada de mim mesma e das minhas coisas, minha manias. não é que eu me odeie, só estou sufocada. prometi levá-la à paris, pois vamos aprender francês. prometi uma casa para nós, prometi que faríamos tantas coisas... eu não quero quebrar promessas. não quero. tenho medo de evaporar. e se eu evaporar? a ansiedade me faz sentir medo e não quero mais isso. quando eu crescer e estiver com outras dores, espero não chorar a cada espetada que levar. espero não surtar, não postar coisas idiotas na internet para chamar atenção, espero não querer morrer ou desistir de tudo. acho que estou despedaçando e desbotando. não sei. é demais para explicar. quando eu crescer, quero uma casa com minhas regras e uma banheira onde eu possa chorar deitada sem nem perceber. quero uma cama de qualquer tamanho, uma cozinha qualquer. mas eu quero um jardim, uma caixa de som e músicas do último século para tocar. quero a primavera, o verão, o outono e o inverno. quero o vento no meu rosto, no meu cabelo, no meu pescoço, nos meus lábios, na minha intimidade. quero ser preenchida por poesia ao ponto de ter um orgasmo literário. eu não quero crescer. mas se tiver de crescer, queria que fosse do meu jeito. eu sei que não vai ser do meu jeito, por isso não quero crescer. um dia serei grande e terei outras dores. mas, por ora, deixe-me aqui com meu som alternativo e tosse incessante. não estou tão bem assim, mas isso também pouco importa. não é ironia, isso pouco importa. esquece isso.

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não sei porque postei, nada mais faz sentido.

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