Fogos da Meia Noite

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Faltavam somente quinze minutos para a virada quando todos meus familiares saíram do salão de festas e se direcionaram à parte externa para a queima de fogos. Ainda estava cansado porque havia dançado muito com minha mãe e a Bruna, mas como minha parte favorita da noite estava chegando, me animei rapidamente. Já havia procurado minha namorada por todo o salão, mas não a havia encontrado em lugar algum. Resolvi esperá-la em um banco no lado de fora, afinal ainda restava um certo tempo. Acho que não foi uma boa escolha, porque comecei a viajar em meus próprios pensamentos.
De repente, memórias de um ano atrás invadiram minha mente e comecei a lembrar de tudo que havia prometido à Juliana no réveillon 2019: "Meu amor, esse vai ser nosso ano. Todas as viagens que faremos e todos os momentos que estão por vir ficarão guardados na minha memória pra sempre. Te prometo que tudo que acontecer será incrível. Eu te amo demais." É... não deu. Inacreditável como tudo deu errado. Agora estou aqui, a 842km de distância do Rio de Janeiro, prometendo o mundo a outra mulher. Tudo isso em poucos meses. Meu cérebro não parou de me torturar até fazer uma retrospectiva mental desse L-I-X-O de ano. Carnaval, Noronha, término, recaídas, lágrimas... Como tudo desandou em apenas uma semana de março?
O relógio de pulso já marcava 23:50 da noite e nada de Bruna. O jeito era continuar me torturando em memórias que agora nada são além disso. Tantas promessas, tantos planos, de nada adiantaram. No fim acabamos separados, cheios de mágoa e machucados. Maldita hora em que briguei com a Juliana por mais um motivo besta. Jurava que dessa vez iríamos dar certo, estava quase a pedindo pra ficar sério de novo, mas aí começou a mesma ladainha de sempre: se encontrar as escondidas, dormir juntos, jogar papinho o dia inteiro e nada mais. Lembro da nossa última briga. Ela continuava colocando a culpa em mim por toda notícia que vazava e sempre me acusava de apressar as coisas. Depois que brigamos, chamei a Bruna pra vir em casa, bater um papo e pedir desculpa por ter me afastado sem motivo. Estava ficando com ela há uns três meses atrás, mas sem absolutamente nenhum compromisso. Quando a Ju começou a me dar bola, não pensei duas vezes e troquei de companhia. Depois da briga, perdi a paciência como nunca havia perdido antes e pedi Bruna em namoro. Ela era legal, boa companhia, e gostava das noites que passávamos juntos. Até alguns dias atrás tinha certeza de que a amava, mas hoje vejo que está mais pra carinho e gratidão. Por enquanto ela não se incomodou com essa história, então tudo está no lugar. Para duas pessoas que acabaram de sair de um relacionamento e estão machucados, estamos de bom tamanho. Idiota? Sim e muito, mas nessa altura do campeonato só quero que a Juliana sinta o que senti.
23:55. Puxa, nada ainda. Continuava a esperar no banco quando senti um enjoo muito forte. Estranhei porque não havia bebido muito. Corri para o banheiro e coloquei tudo pra fora de uma só vez. Acho engraçado como todas as minhas emoções refletem diretamente no meu estômago. Isso já aconteceu várias vezes após ver algumas postagens da Juliana em Junho. Acabei de me limpar e corri para a queima de fogos. Estava ofegante, pálido e com um buraco em meu coração, mas precisava fingir que estava tudo bem.
Lá só encontrei minha mãe, e ficamos só nós dois para a contagem regressiva. Ela estava muito feliz porque havia tempo que não passava alguns dias junto à minha família materna, principalmente com alguma namorada.
- 5...4...3...2...1... Feliz Ano Novo, meu filho!
- Feliz Ano Novo, Mãe! Te amo!
Todos estavam se abraçando e comemorando demais, e com nós dois não estava sendo diferente. No meio de um longo e caloroso abraço, comecei a chorar. No começo, eram só algumas lágrimas teimosas que insistiam em cair, mas que foram aumentando até chegar em um pranto inconsolável. Me desgrudei de minha mãe e corri para um quartinho reservado. Claro que ela veio atrás.
-Mãe, eu to bem, sério. Pode voltar, só me emocionei com os fogos.
-Nicolas, mamãe te conhece, meu amor. O que aconteceu? Conta pra mim! Brigou com a Bruna?
-Não é ela, mãe. Não é!
-Então quem é, meu filho?
-Não é ela que eu amo, mãe! Não é! Não adianta, eu tentei, eu tentei gostar de outra pessoa, fazer meu futuro com outro alguém, mas não dá! A menina que eu quero tá lá no Rio de Janeiro sozinha com a mãe no primeira virada sem o pai, e eu deixei ela lá! Eu amo a Ju, mãe. Eu amo ela, só ela, mais ninguém. Sou um idiota, um idiota!
-Nicolas, limpa o rosto, mamãe não gosta de te ver assim. Vem aqui, me dá um abraço!
-Não adianta forçar a barra, mãe. Apresentar a família, encher o Instagram de foto, nada é verdade. Eu quero a Ju de volta, mãe, só isso.
-Filho, Deus sabe o que faz, quem for seu sempre volta no final...
E assim ficamos, por uns vinte minutos, só eu e ela, até me acalmar. Por mais que pensem, minha mãe sempre me ajuda com tudo e nunca me julga, mesmo estando completamente errado. Se isso é bom? Talvez não, mas às vezes, a gente só precisa de um colo de mãe pra voltar a ser o que era antes. Tomara que ela me ajude a encarar a Bruna de novo, mas por enquanto nem quero pensar nisso. Só quero ficar igual um bebê chorando no colo da minha mãe como se ela ainda conseguisse resolver todos os meus problemas. Talvez, seja isso que sou, um neném que ainda tem muito que aprender.

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