Em breve... (degustação)

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(...) Celeste tentava sem sucesso escrever mais uma de suas edições para a Voz Maior. Já era o terceiro papel amassado e lançado ao chão com frases interrompidas. Estava divagante aquela tarde, depois que soube que sua prima Belinda ainda permanecia de castigo desde o ocorrido no baile.

Entretanto, não era apenas isso que estava lhe tirando a concentração, aliás, algo raro de se acontecer, mas também o regimento francês que se acampara no distrito de Santarém. O chefe do exército estava em acordo com o Conselho imperial há duas semanas, mas Celeste não conseguira tantas informações úteis. Curiosa como era, sabia que havia bem mais do que escutava nas reuniões dos homens da família. Algo muito secreto e sério pairava no ar e ela precisava descobrir a qualquer custo. Um exército não ficaria de prontidão nos arredores se não tivesse a intenção de invadir as cidades caso o tal acordo não desse certo.

Apesar de ser uma D'albartine, a família mais respeitada com uma história memorável, a moça era vista por muitos como uma presunçosa de língua e pena afiadas. Isso já havia lhe custado três temporadas e nenhum marido, pois, que homem gostaria de ter ao seu lado uma esposa indócil e que expressava seus pensamentos aos quatro ventos? 

Não que ela se preocupasse com isso, mas a família sim. Liana, sua mãe sempre conversando, tentando entendê-la e conciliar seu temperamento com as possibilidades matrimoniais da filha. Nem tudo estava perdido, afinal de contas, até sua tia Joana contraíra um grande partido se tornando uma marquesa revolucionária.

Que as  mulheres dessa Casa tinham seu estigma,  isso era indiscutível, mesmo que inaceitável para a sociedade. As D'albartine's eram consideradas implacavelmente rebeldes. 

(...)

As meninas da nova geração D'albartine eram "sem limites, excessivas, incontroláveis, indomáveis"; assim afirmavam as vozes que ecoavam pela cidade. Suas atitudes eram recriminadas pela maioria e, enquanto andavam pelas ruas, sozinhas ou em grupos, as pessoas que cruzavam seus caminhos maneavam a cabeça em reprovação. Mas não era todo mundo que se espantava com as moças da Casa D'albartine, elas também já tinham seus seguidores e esse grupo aumentava toda vez que Celeste mencionava suas opiniões sociais em suas colunas. Bem verdade que esses seguidores eram, na maior parte, pessoas de classes inferiores que ela fazia questão de sempre mencionar e defender; por outro lado, mesmo que elas nunca confessassem, as damas aristocratas bem que gostavam das sugestões de mudança para as mulheres em geral. Isso deixava os homens rangendo os dentes, principalmente por saberem que o visconde Henrique Lamartine e os outros patriarcas da família, não aplicavam nenhuma forma de castigo a essas meninas indomáveis.

Certa vez, em um sarau promovido pela família, Celeste e suas primas subiram no palco após a apresentação de violinos e a líder delas disse:

─ Este aqui é um broche dado por nossa avó Eleonor quando ainda éramos bebês ─ e mostraram o pequeno objeto a todos. ─ Uma rosa símbolo de delicadeza e amabilidade, feita basicamente de aço, que representa, também, a força e a resistência dessa família. E a partir de hoje usaremos em nossos vestidos aonde quer que formos e todos saberão quem somos: As Rosas de Aço. Muitos acham que somos indomáveis, não é? Mas a verdade é que sabemos ser delicadas quando necessário, mas resistentes em todo o tempo. Viva as Indomáveis Rosas de Aço!

E levantaram seus broches como se brindassem e prenderam-os em suas roupas. A viscondessa viúva, Eleonor, chorava de emoção. Mas o salão inteiro ficou em silêncio após o surpreso pronunciamento. Os convidados chocados e a família D'albartine observando a reação de todos. Foi constrangedor. Augusto escondia o riso entre as mãos em punho enquanto os olhos de Túlio brilhavam de orgulho. Rodolfo fazia cara de poucos amigos como se dissesse  "se alguém falar alguma coisa errada, não respondo por mim!"

Mas o despertar do choque aconteceu quando o pequeno Antônio com toda sua peraltice gritou:

É isso aí! Viva! Elas são as melhores!

Agora foi a vez de Frederico querer enforcar o menino, mas para a coisa não piorar, começou a aplaudir junto com os outros homens da família. Os convidados não tiveram opção a não ser acompanhar. As meninas fizeram uma reverência e desceram do palco. No outro dia, a cidade estava em alvoroço devido ao episódio. 

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⏰ Last updated: Jan 02, 2020 ⏰

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As Indomáveis Rosas de Aço - Série Casa D'albartine - Livro 2Where stories live. Discover now