Prólogo

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Me arrisco a dar uma olhada de canto de olho rapidamente e vejo Elis batucar o lápis em cima da mesa, a fitando de forma tão intensa que poderia causar um furo nela. Imagino que sua aparente agonia seja por causa da resposta que ela claramente não sabe. Coitadinha, não posso culpá-la por estar assim. Não gostaria de estar na pele dela.

— Senhorita Elis, qual é a alternativa certa?

Suspiro pesadamente ao escutar a pergunta da professora Teresa Burnier. Por que Elis não estudou como lhe orientei? Avisei a ela para não bobear nessa matéria, se fosse em qualquer outra.

— Eu não...

— Não sabe? — a indagação soou debochada. Os passos da professora se tornaram mais próximos a medida que ela continuou sua fala — Uma questão tão importante assim para nós e você simplesmente não sabe?!

— Me desculpe, Sra. Burnier, eu prometo que na próxima aula eu vou saber te responder qualquer pergunta sobre o Dia da Glória — a voz de Elis soa trêmula e eu sinto que a qualquer momento ela vai começar a chorar.

— Ah, minha adorável menina, mas é claro que você vai saber responder. Vou fazer questão de fazê-la compreender isso. Sua mão.

— Sra.Burnier, não há necessidade disso — me peguei intervindo no castigo de Elis sem pensar direito no que fazer.

— Senhorita Nour, se você não quiser ser castigada junta com a senhorita Elis, sugiro que fique quieta.

— Sim, senhora.

O que eu poderia dizer? Como impedir o que estava prestes a acontecer? Não tenho coragem para fazer algo, ir contra as regras que nos foram impostas por mais que achasse que fosse um erro. Nunca fui corajosa.

— Onde estávamos mesmo? Ah sim, sua mão, senhorita Elis.

Não arrisco mais nenhuma olhada, prefiro não ver. Poucos segundos se passam e a primeira chibatada faz Elis soltar um gemido sofrido. Como um cachorro à beira da morte. O segundo ocorre logo em seguida, e então o terceiro, quarto, quinto, sexto...Paro de contar depois de vigésimo quinto. — Que a senhorita Elis sirva de lição para todas vocês, garotas. O Dia da Glória nunca deve ser esquecido, pois graças a ele somos a imensa nação que somos hoje. Graças a ele, nós mulheres fomos aceitas do modo correto perante a sociedade e todos os demais estão vivos. Não podemos nos esquecer de tudo o que nosso Pai fez para nós.

O silêncio reinou na sala de aula enquanto as palavras duras e precisas da professora ecoavam por todo o lugar.

— Não se esqueçam do porquê que vocês estão aqui.


Nascidas Para MorrerWhere stories live. Discover now