Um grupo de cientistas estuda e trabalha toda uma vida para desenvolver uma solução para seu dia a dia. Este trabalho só é possível porque milhares de mulheres e homens, desde um passado remoto, se dedicaram a desvendar as leis naturais, aplicando o método científico para separar as lendas e ilusões da realidade mensurável. Os frutos desta ciência estão a disposição de todos, não importando a consciência que têm sobre as implicações de seu uso, ou abuso. A grande maioria das pessoas não está interessada em entender a ciência, muito pelo contrário, a despreza pela crescente complexidade do cosmos no qual estamos inseridos. Para estes, a fé, a religião e a superstição são verdades confortáveis e o negacionismo científico uma ideologia que justifica a satisfação de seus instintos acima do bem comum. É apenas uma questão de tempo até que, em nome da liberdade de pensamento, a raça humana se autodestrua.
A ignorância não é um problema novo. Na virada do século XIX para o século XX, governantes em todo o mundo estavam cientes do problema e iniciaram programas para tentar educar a população. Assim surgiram os sistemas educacionais públicos, entre os quais um dos mais bem-sucedidos foi o norte-americano. Não porque tivessem os melhores professores ou escolas, mas simplesmente por adotarem um sistema muito eficiente de transporte dos alunos. Eles perceberam que uma grande democracia precisava de um povo minimamente informado e uma mão de obra capaz de se especializar.
Países capitalistas e comunistas, democráticos ou ditatoriais, todos investiram em educação pública. Contudo, temos que admitir que algo deu muito errado. A ideia de que as pessoas eram ignorantes por não ter acesso à educação se provou redondamente errada. Por diversos motivos, os quais não são o objetivo dessa reflexão, a grande maioria dos estudantes optou por não estudar. Para cada bom estudante existem dez que estão ali apenas pela formatura, e que esquecerão quase tudo que aprenderam assim que saírem da escola.
Pior que isso, saem sem pensamento crítico. Estão prontos a acreditar em qualquer absurdo apresentado por outros, especialmente se esta ideia lhe trouxer vantagens imediatas. Abandonam a ciência, a lógica, e abraçam coisas como o criacionismo, a astrologia e o terraplanismo. Ao mesmo tempo, usam celulares para divulgar sua estupidez, e seu dinheiro para manter um consumismo estúpido, de itens produzidos usando a ciência que eles mesmo renegam, que pouco a pouco está tornando nosso planeta em um lugar verdadeiramente inóspito.
Para essas pessoas, a fé, a religião e a superstição são verdades confortáveis, e os cientistas, professores e pensadores em geral não passam de um mal necessário para manter seus brinquedos, curar suas doenças ou aumentarem sua capacidade de acumular poder. É a turma do fundo, que não estuda e cola para passar, que está colocando em risco o futuro de nossos filhos, de todos os nossos filhos. A ideia de que qualquer a pessoa pode ser educada está errada, e precisamos decidir o que fazer com toda essa gente maldita que está a destruir nosso planeta em nome de Deus, dos astros ou da mão invisível do liberalismo econômico.
O bicho homem deve ser uma aberração aos olhos de todas as outras espécies. Um macaco com pouca massa muscular, pouca habilidade inata e um apetite sem igual por calorias, mas dotados de cérebros gigantescos, capazes de raciocínio, comunicação e aprendizado sem igual. Graças a sua inteligência, os humanos se tornaram mestres do mundo e, através da compreensão das leis naturais, construíram artefatos capazes de inimaginável poder e destruição. Contudo, a mente humana ainda está a um passo de nossos instintos primitivos.
Entre nossos instintos, o mais arraigado é nosso senso de união ideológica. É ele que nos possibilita viver em grandes sociedades, muito além do que a capacidade natural dos primatas. É o que faz milhares de pessoas se matarem em campo de batalha em nome de uma bandeira, ou se juntarem em estádios de futebol a torcer para um determinado time. E, mais do que tudo, é o que faz as pessoas se identificarem umas com as outras, principalmente através das crenças e mitos que compartilham.
Essas crenças e mitos evoluíram com a sociedade, se tornaram em religiões organizadas, e recorrem ao bom senso local das pessoas, ou a força quando necessário, para se estabelecerem. Civilizações inteiras foram destruídas pelas crenças, uma vez que não compreendiam os fenômenos que causavam grandes secas e enchentes, muitas vezes derivadas do esgotamento do solo pela agricultura. A solução de seus governantes se baseava em rezar para as divindades, que como inexistem, não resolveram seus problemas.
Não que isso seja um problema para os religiosos. Toda a tradição dogmática tem um capítulo sobre apocalipse. O fim do mundo finaliza um ciclo que nossos antepassados incluíram em seus livros sagrados porque sabiam que seus reinos e impérios eram finitos. No momento em que morriam de fome ou eram massacrados por invasores estrangeiros, estes textos eram reconfortantes para o povo. Não se preocupem, suas almas jantarão no Valhalla essa noite!
O método científico obviamente bateu de frente com a superstição. O problema é que o poder sempre esteve nas mãos dos supersticiosos, e o ceticismo inerente a ciência mostrou uma realidade muito mais complexa e rica do que os religiosos jamais imaginaram. Seus frutos deram um poder decisivo aos países que investiam em ciência. Restava apenas o problema de educar o povo a ter um pensamento científico.
Infelizmente, a realidade é muito mais complexa do que achavam os primeiros cientistas. Tanto que logo a ciência começou a se especializar em nichos e se articular como um trabalho conjunto, baseado em publicações científicas revisadas por pares. Isto começou a distanciar as descobertas da população, mesmo aquela que frequentou os bancos das escolas e universidades.
Por outro lado, uma enxurrada de bens de consumo de alta tecnologia está disponível a todos que tenham dinheiro para adquiri-los. A comida, antes um bem precioso, se tornou abundante ao ponto de, em sua maioria, ser descartada. Uma área agrária considerável do mundo é dedicada apenas para a produção de ração animal. Dos rebanhos, cada vez menos carne é aproveitada pelas famílias. A cultura da abundância e desperdício se estabeleceu de vez.
Os frutos da tecnologia estão a disposição de todos, mas muito poucos estão dispostos a assumir as responsabilidades por seu uso. E aqui as superstições entram com tudo novamente. É fácil colocar a culpa no destino, é fácil assumir que as consequências de seus atos não existem, porque existe um "Deus" todo poderoso que vai salvar a todos. Ou ainda, que seja o que "Deus" quiser. E o pior de tudo, não importa quão ruim seja a vida do sujeito, existe uma vida após a morte.
Balela! O nome disso é covardia. Por ser um covarde, você opta por sofrer toda a vida com a promessa de uma recompensa após a morte. Tem que ser muito trouxa para acreditar nisso. E as pessoas são exatamente isso, sem nenhuma capacidade de diferenciar uma tapeação da realidade. Ninguém que acredita em vida após a morte deveria ter acesso a qualquer bem de tecnologia, pois é inerentemente incapaz de agir com responsabilidade. Deviam viver no campo feito os bichos que são. Mas isso é apenas parte do problema.
A superstição em geral abrange muito mais que a promessa de vida após a morte, ou reencarnação. Apostam o dinheiro que não tem, mesmo sabendo que as chances de ganho são minúsculas. Gastam seu tempo e dinheiro ouvindo padres, pastores, místicos, gurus, "coaches" e um sem número de mentiras desonestas, muitas vezes ditas por pessoas inconscientes desta desonestidade. A questão é a fantasia do sentido da vida. É tão difícil viver sem sentido? Verdades baratas são mentiras que nos custam caro.
Infelizmente, a humanidade precisa de poucas pessoas que se dediquem ao raciocínio científico e lógico para continuar progredindo tecnologicamente. E, a cada instante, os produtos desta ciência são mais destrutivos e perigosos, alcançando as mãos de uma massa de pessoas que optou por não estudar e abraçou a superstição como modo de vida. A única conclusão é que será apenas uma questão de tempo até que essa maioria de macacos pelados destruam nosso planeta. E o pior de tudo é que se dirão com razão, pois não são eles que destruíam o mundo, mas sim "Deus" realizando a profecia do apocalipse.
Gente, tá na hora de pensar em genocídio. Ou dos cientistas, ou dos estúpidos!
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O porquê do ser humano estar fadado a extinção
Non-FictionA superstição aliada ao avanço tecnológico é uma combinação trágica que levará inexoravelmente ao fim do mundo.