-Um lugar esplendoroso devo dizer, em todas as minhas viagens nunca vi uma cidade tão linda quanto a que eu nasci. Ruas perfeitamente projetadas, casas de madeira com telhados baixos quase tocando o chão, portas ovais e janelas grandes, lindos jardins coloridos rodeando as moradas e suas corpulentas muralhas, que eram mais largas do que altas, eram compostas de monstruosas pedras negras e árvores que cresciam entre elas, fazendo suas lindas e pequenas flores vermelhas rosadas se debruçarem delicadamente sobre as ásperas rochas.
Ainda posso ouvir o som das crianças brincando naquele lugar, elas viviam roubando frutas das feiras. Um povo de cultura e sabedoria, animais racionais que preservavam tudo ao seu redor. Toda noite em que as gigantes luas se encontravam juntas, uma grande festa era feita, como se um ciclo tivesse terminado, como se uma nova era começasse, com boas colheitas, tempos em que a água caía incessantemente sob nossas cabeças, lavando nossos corpos, uma era de prosperidade e alegria para o povo. Nessa noite todos os habitantes de Ewdria saiam de suas casas, e cada membro da família levava um tipo diferente de comida, carne, salada, diversos tipos de ervas e pratos feitos com legumes e sementes, tudo era colocado no chão e as pessoas se sentavam ao redor para se banquetear juntamente de seus familiares e amigos, as ruas eram largas e cobertas por pedras achatadas e sem formato. As praças, ruas, áreas arborizadas e áreas abertas para o céu estrelado eram tomadas pelas pessoas que esperavam ansiosas pelas incríveis luzes azuis, verdes, roxas, rosas, vermelhas e laranjas que dançavam entre as estrelas, um evento extraordinário que nos dava a chance de reencontrar alguns de nosso falecidos entes queridos.
No final deste evento, todas as pessoas de barrigas cheias direcionavam seus olhares para o céu, e admiravam o espetáculo de cores, com o coração leve, a mente no presente, e o corpo relaxado. Em conjunto, eles direcionavam seu radama para chão, e aquela "magia" entrava em contato com a grama e as raízes, produzindo uma melodia suave e continua, como um mantra, algumas pessoas cantavam baixo acompanhando o leve e tranquilo som, enquanto outras apenas curtiam o momento, e relaxavam, até caírem no sono.
Quando todos adormeciam e a música cessava, os pequenos animais do lado de fora da cidade entravam e comiam o resto dos alimentos, em silencio, para não acordar os que dormiam, com a exceção é claro de algumas crianças, que ficavam acordadas justamente para ver os pequenos se alimentarem tranquilamente.
Era tudo tão tranquilo, todos na cidade se conheciam, uma grande e unida família com certeza. Mas um dia, por algum motivo desconhecido, uma lenda acordou, uma besta gigantesca acordou de seu gélido túmulo, a montanha Olarêtche akai, seu topo ultrapassava as nuvens, e a criatura que lá dormia era indescritível, um mostro colossal e deformado. Dizem os contos, que um dia ele já foi como nós, não sabemos nada sobre seu passado, mas tudo o que vemos hoje, é um monstro. uma aberração sem consciência, que desgovernado e pocesso destruiu tudo em seu caminho, queimou e devorou hectare inteiros. Até chegar na minha cidade. Foi tudo tão rápido. Lembro-me nitidamente do que vi aquele dia, aquela sombra colossal se erguendo sob o povo, suas asas enormes se abrindo, e aquela maldita boca ardendo em chamas salivando um líquido vermelho escuro. Caminhando desgovernado sob a cidade, destruindo tudo, em um piscar de olhos tudo queimava, não havia mais gritos, assim como não havia mais vida. As pedras das muralhas caíram. Telhados se desfizeram. Plantações destruídas. O sangue do povo se esvaindo entre as raízes queimadas. O silêncio ensurdecedor tomou conta de Ewdria. E eu, eu fui um dos únicos que escapei, com minha filha, Mira, ainda bem pequena sangrando em meus braços. Dois sobreviventes.
Meu corpo estava no limite depois de caminhar por dias procurando ajuda, com fome, ferido de todas as formas, minha mente sucumbia ao desespero e a tristeza. As feridas de minha pequena filha, Mira, tinham infeccionado, e estava cada vez mais difícil achar comida para mantê-la forte o suficiente para resistir. Até que finalmente encontramos uma pequena fazenda. Uma mulher simpática nos acolheu, Kailo era seu nome, ela nos deu comida e cuidou dos nossos ferimentos. Mais tarde chegou um homem, Vígar, com seus dois filhos, Kahir, o mais novo e Telorg, o mais velho, os três com animais abatidos na caça em seus ombros. Eles usavam peles de animais como vestimenta, o pai era alto com uma cicatriz grande na lateral do pescoço até o meio do peito. Perguntou quem éramos e o que nos havia acontecido, e eu disse:
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Os contos de Gorungûr de Ewdria
General FictionEm um mundo completamente diferente de tudo o que conhecemos, num planeta inamistoso, vive um velho chamado Gorungûr, um viajante sem limites, podemos dizer. Com seus incríveis 137 anos de idade, ele peregrina por todo aquele imenso planeta, cujo no...