Prólogo

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Já fazia mais de uma hora que estávamos dentro daquele carro — como se já não bastasse termos passado mais de duas horas dentro de um avião — procurando a nossa nova casa.

— Mamma, as minhas pernas estão dormentes! — disse Matteo, que parecia meio enjoado.

— Giorgio, estamos dando voltas e voltas! — exclamou a Mamma.

— Per favore, Stefania! — Disse, olhando feio para a Mamma e os dois começaram a gritar um com o outro.

Revirei os olhos, será que não tinha uma forma menos italiana de resolver a discussão? Com certeza não, pensei. Continuamos dando voltas e mais voltas, até que por incrível que pareça achamos a casa. Não era exatamente parecida com a nossa antiga, era mais no estilo da América do Norte, toda pintada de verde com uma grande sacada na frente, não era muito grande, deveria ter um ou dois andares e não havia jardim, mas a Mamma daria um jeito.

Era uma bela casa, contudo as primeiras palavras do papá para ela foram: — Tomara que a cozinha seja linda e espaçosa como o corretor de imóveis disse!

— Vamos, vamos Matteo e Anna! Peguem as coisas do carro! — disse a Mamma, e apenas com um clique o porta-malas se abriu, mostrando no seu interior todo o tipo de coisas: malas, colheres de pau, um porta-retrato da nossa nona.

Começamos a carregar tudo para o interior da casa, que parecia ser bem maior do que olhando de fora com todos os detalhes em madeira, algo no canto da parede se mexeu e eu congelei. Uma barata. Depois mais uma e mais uma.

— Ótimo vamos ter que chamar o detetizador. — suspirei.

— A Mamma vai ter um ataque. — disse Matteo, rindo.

Comecei a ouvir um barulho de vozes lá fora, e uma delas, falando super alto era da Mamma.
Terminamos de colocar as coisas no chão e fomos para fora.

— É sempre muito bom ter novos vizinhos. — disse uma mulher esguia de cabelos encaracolados meio acinzentados, com olhos cor de âmbar, a pele clara, aparentava estar na meia-idade, tinha um sorriso gentil no rosto.

A mulher olhou diretamente para mim e sorriu.
As pessoas aqui costumam sorrir para qualquer estranho? Pensei.

— Esses são meus filhos, Anna e Matteo. — disse a mamma e veio apertar as nossas bochechas, os puxões estavam ficando cada vez mais fortes.

— São muito lindos, parecem com você.

— Ainda bem! se parecessem com o Giorgio, mio Dio! — sussurrou a mamma, olhando para o papá que retirava algumas panelas do banco do carro, as duas começaram a rir.

Nesse momento, um menino de olhos curiosos pulou a pequena cerca, sorrindo. Encarei-o. Tinha cabelos escuros bagunçados, os olhos eram cor de âmbar, as bochechas estavam coradas e a pele parecia…brilhar?

— Esses são o pessoal que acabou de mudar? — Perguntou com um tom debochado, a mulher de cabelos cinzas  assentiu.

— Ah, esse é o meu filho mais novo Evan. — Disse, e o garoto a abraçou. Reparei então que a pele que eu achava brilhar estava só coberta de suor.

— Ah! que belo rapaz! — Falou a mamma e apertou as bochechas do mesmo, que exclamou de surpresa.

Logo depois Evan estava nos ajudando a descarregar o resto das coisas, o papá apenas dando as coisas mais pesadas para ele carregar, já que o Matteo não o fazia.

Em algum momento de carregar e descarregar o menino se aproximou de mim.

— As meninas mexicanas são sempre caladas assim? — indagou pensativo.

— Sou italiana, não mexicana. — respondi com um tom rude.

— Ah! é. — Disse e começou a encarar-me — E por que vocês sairiam da Itália para morar numa pequena cidade no sul dos E.U.A?

— Boa pergunta. — falei com um sorriso de desdém,ele olhou-me confuso, suspirei irritada: — Meus pais queriam abrir uma padaria ou restaurante no seu país e bem…aqui estamos nós.

— Seria legal um restaurante de comida italiana. Isso quer dizer que agora seremos vizinhos, colegas de escola e até mesmo amigos! — Diz e dá um sorriso amarelo.

— É, acho que sim. — Sorrio.

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