Diga que não é verdade

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"Se as lágrimas pudessem ser engarrafadas
Haveria piscinas enchidas por modelos
Disseram: Um vestido justo é o que te torna uma puta."

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   Tisc. Tisc. Balançava meus pés de um lado para o outro, piscava forte a cada cinco segundos contados mentalmente. Beliscava para manter-me acordado e era tudo questão de tempo até o sono voltar. Todos os dias naquele mesmo horário ele sempre sumia, me deixando acordado até tarde com os barulhos que só a noite eram ouvidos. "Mantém os olhos abertos", eles diziam. "Olhe para o lado e veja aquela parede novamente" outra voz dizia em meu ouvido e eu a ouvia, movia meu corpo ficando de lado para a parede branca igual a neve. Cada vez mais sonolento ia me deixando adormecer ali mesmo sobre o tapete marrom do quarto escuro.

  Ironicamente o dia chegou chuvoso, impossibilitando a possível saída do dia. Ótimo, não estava afim de sair. Precisava colocar algumas coisas em dia o que possivelmente iria tomar todo o meu dia, deixei acumular a semana toda alegando não estar bem para tal. Dando de ombros enquanto deixava os papeis sobre a mesa em seguida indo para a cozinha preparar meu café. Sabe quando você fica olhando nenhum lugar específico e não sabe o que pensar? Era exatamente assim que me encontrava na base da pia, piscando varias vezes e balançando a cabeça para saie daquele transe, coloquei meu café em uma xícara branca de porcelana que havia comprado em uma loja qualquer do centro.
  
  O café não estava amargo e nem doce, estava no ponto perfeito e era delicioso o gosto entre meus lábios. Peguei uma torrada com orégano e manteiga, duas mordidas foram o suficiente para come-lá. Arqueei as costas me espreguiçando após tee tomado meu café. Era um dia comum, chuvoso e frio. Claro era tão clichê para os dias normais que nem mesmo me importava, me levantei em seguida indo para o quarto para assim dar início aos afazeres: deitar mais um pouco porque mal havia dormido anteriormente, porém, não conseguia dormir novamente então estava ali jogado na cama sem ter noção de onde deveria começar. Olhei para a janela vendo a chuva escorrer pelo vidro transparente da janela, imaginando como seria se estivesse la fora em meio a chuva, a sensação foi incoerente como se fosse possível não pegar um resfriado ficando encharcado de água. Puxei a manga do meu sobretudo para esconder as marcas anteriores e com isso lembrei que deveria limpar o chão que estava possivelmente marcado com o vermelho escuro que saira de mim...era trágico toda aquela cena, imaginar teu corpo sobre um chão frio e escuro onde você não via nada além do breu da escuridão. Balancei a cabeça afastando aqueles pensamentos, havia colocado em mente que viveria só um dia de cada vez sem pensar no amanhã ou no que pode dar totalmente errado.

"Mãos ficando frias
Perdendo sentimentos, envelhecendo
Eu fui feito de um molde quebrado?
Ferida, não consigo esquecer
Nós cometemos todos os erros
Só você sabe como eu quebro."

 
  Tisc. Tisc. Lentamente me colocava de pé para ir aos meus afazeres do dia a dia. Aos poucos a chuva lá fora ia ganhando mais força, agora com relâmpagos e trovoadas. Estava tudo fechado então não precisava se preocupar, sentei-me de frente para a janela, um ventinho junto com uma brisa fina passava pelas frestas da janela, era gostoso. Parecia como um beijo gelado de uma tormenta no meio do oceano. Eram relatórios e mais relatórios, pilhas e mais pilhas. Nunca mais deixaria chegar naquela situação. Aos poucos fui separando o que era urgente do que poderia esperar mais alguns dias, colocando de A a Z em pilhas diferentes. Comecei com um artigo do escritório que deveria ser entregue no mesmo dia até as quatro, olhei para o relógio na parede no qual dizia alertamente para se apressar, pois já era Três e meia, quase surtei ao ver que não tinha tanto tempo para tanta coisa, e agora a chuva não era nem um pouco atrativa ou cheia de graça, pois não podia molhar os papéis a não ser que quisesse perder o emprego! Certamente, não. Sem parar fui arregaçando as mangas e colocando o artigo em dia. Meu café estava quase frio quando terminei e ao olhar novamente para o relógio, meu corpo se empalideceu. Três e vinte. Três e vinte e eu não sai de casa e a chuva não passou. Três e vinte e o telefone toca, na outra linha uma voz sonolenta e conhecida dizia:

-Cristian Levesc. Sabe que horas são? - meu chefe questionava como se eu não soubesse da hora ou apenas para me lembrar que estava atrasado.

-Sim, Sr.Mclen. Terminei o artigo da editora Lauren. Eles tem até vinte e quatro horas para nos retornar, enviei uma copia para o e-mail deles e estarei deixando a nota com eles. - ele se mantinha calado, pois tinha feito um ótimo trabalho ao meu ver.

-Está demitido. - esperei por mais alguma palavra, mas já havia desligado. Tu...tu...tu...era tudo que ouvia do outro lado da linha.

  Bati o telefone na mesa, irritado por ter perdido o emprego e por ter tantos papéis para serem...Grrr...Peguei todos com sangue nos olhos e sai pela sala pisando fundo, abri a porta da sala onde o vento estava mais forte do que imaginaria, fui até a calçada e lancei contra a chuva aqueles papéis imundos contra a lama, pisei sobre eles até vê-los se enxarcarem com a lama. Pisei e pisei, varias vezes me lançava com fúria, os  chutava para o alto... Cansado de tudo aquilo com o peito arfando sem ar me ajoelhei na poça de lama. Já não sabia se o que escorria pelo meu rosto eram lágrimas ou apenas a chuva escorrendo pelos fios negros de cabelos que caiam sobre os olhos. Estava perdido, Diz que não é verdade que isso aconteceu! Por favor! Não pode ser verdade...Por que logo eu?

Que inferno!!!


 

Internal PrisonOnde histórias criam vida. Descubra agora