"Você deveria me ver usando uma coroa
Eu vou mandar nessa cidade de nada
Veja-me fazê-los se curvar
Um por, um por um
Um por, um por
Você deveria me ver usando uma coroa
Seu silêncio é meu som favorito
Veja-me fazê-los se curvar
Um por, um por um
Um por, um por um. - Billie Eilish"Minha risada atravessava os lugares vazios daquela avenida. O líquido transparente de uma garrafa barata, derramava conforme eu entornava o líquido quente para dentro do vazio que era o interior de meu corpo esguio. A noite não era festiva e não tinha nenhuma comemoração para se alegrar. "HA HA HA" Era tudo o que meus lábios formavam pela avenida vazia daquela cidade pacata. Os poucos que ali peranbulavam pela rua semi asfaltada, cheia de buracos, me encaravam como se eu fosse uma peça de carne de um açougue caro. Não perdia meu tempo os encarando, passava sorridente balançando a garrafa que respingava ao movimento, certamente iria passar em algum lugar para comprar outra.
-Oh, espero que algum dia eu consiga sair daqui
Mesmo que demore a noite toda ou cem anos
Preciso de um lugar para me esconder, mas não consigo encontrar nenhum por perto
Quero me sentir vivo, lá fora não consigo enfrentar meu medo. - Billie era fantástica, o que o simples verso lhe fazia se sentir tão cheio de qualquer coisa que venha a se agarrar. Um aclamado pedido de ajuda...Seguia cantarolando versos aleatórios de músicas aleatórias em uma rua aleatória de um dia aleatório. Será que minha vida também é algo aleatório? Como uma explosão de um cometa distante ou uma estrela caindo ao longe. Será que vivemos aleatoriamente? Risos, risos, risos escandalosos seguidos de lágrimas que brotavam de meu rosto.
-PARAAA. - berrei enquanto se ajoelhava colocando as mãos entre o rosto. Por entre os dedos as lágrimas escorriam, como um riacho iam fazendo um trajeto por entre os pelos dos meus braços. Como sem avisar apenas veio, pingos de uma evidente chuva começara a cair sobre meu corpo já gelado pelo asfalto. Ensopado continuei a gritar entre soluços se curvando como se uma dor imensa rompesse de dentro de meu interior. Não havia ninguém naquele momento exatamente ninguém o que me fez rir, rir tão alto que qualquer um que olhasse iria me chamar de louco. Talvez eu tenha perdido um pouco da lucidez? Talvez eu nunca tenha tido!
Não fazia diferença alguma, desempregado, bêbado, ensopado, morto...O que mais eu queria? Mas quem iria me proporcionar algo? Risos, risos e risos. Ria, sem nem twe graça ou alguém ter contado uma piada, ria até soluçar. Suspirava entre um riso fraco e outro até se calar. Colocando meu corpo virado pra cima, virando o resto de álcool que continha na garrafa. A chuva descia e descia sobre meu corpo. Me afundava cada vez mais sobre aquele chão imundo, me sentia cada vez mais horrível sem nem ter com quem dizer. Perdi tudo, mãe, pai, um emprego que eu não dava a mínima...Oh céus alguém me ajuda. Com certeza minha boca deve estar roxa, pois meus ombros tremiam, meus dedos estavam brancos...meus olhos se dilataram como se estivesse provado a mais pura droga, já não estava no chão, pois Já não sentia o mesmo sobre minhas costas. O ar era tão denso que mal conseguia respirar, seria uma dádiva? Não, ainda não era a merda da minha vez. Então que...
"Um...dois...três...passo a corda sobre a Madeira...quatro...cinco...seis...dou um nó sobre o pescoço...como você é fino...hihihi...você não quer fazer isso...hihihi...está...triste?"
Isso só pode ser brincadeira...Eu conhecia aqueles olhos inchados, aquele cabelo despenteado, aqueles pulsos marcados...eu conhecia aquela pessoa, era eu! Isso tem o quê? 5 anos atrás?? E que merda ta acontecendo. Porque? Porque? Porque? Não dava pra se mexer e eu já sabia o que vinha pela frente, podia até sentir a dor onde a madeira do teto havia acertado ao se partir por não aguentar. E lá estava eu, jogado no chão como se fosse um inútil incapaz de tirar a propria vida. Inútil por não conseguir nada, inútil por ser tão inútil! Mas...eu queria mesmo morrer? Eu não estava bem aquela semana, ninguém notava as mudanças repentinas de humor, muito menos o porque de nem se alimentar direito. Ninguém notava que meus dias estavam me destruindo por dentro. Eu...eu só queria conversar, ou sei lá. As paredes é o travesseiros Não ajudavam porque eles não diziam " vai ficar tudo bem, eu tô aqui." eles não falavam nada para parar o sangramento...
E como se um elefante estivesse saído de cima de mim, voltei do inferno que era aquele lugar onde quer que estava. A chuva já tinha passado, e ainda continuava no meio do asfalto sem movimento algum. Levantei cambaleante e aos poucos fui dando passos ligeiros para onde...minha casa, eu acho...minha garrafa estava vazia e isso me irritava. Havia visto quão deprimente era minha vida a 5 anos atrás e paro pra pensar, o que piorou? Hoje ainda é o mesmo de ontem. As pessoas a todo momento dizem para esquecer o passado e pensar no presente, mas o que pensar quando o seu presente é o mesmo que aconteceu a 5 anos atrás? O que você muda dentro de si quando o pior lhe acontece? Todos seguem suas vidas imundas, cheios de ódio e maldade, inveja e avareza, poucos carregam amor e compaixão...Espero achar uma saida para tudo isso, espero ter mais de uma alternativa além do suicídio... Eu preciso pensar...ou parar de pensar um pouco! Minha cabeça precisa parar de rodar para que coloque os pensamentos todos em ordem. Eles estão tão bagunçados que não consigo parar e pensar em como irei resolve-los. Eu...estou tão instabilizado que a Dr. Joke não sabia como me ajudar, não era só um problema a falar e sim uma bagunça de sentimentos emoções que corriam livremente pela minha boca.
Aos poucos fui diminuindo os Passos ao avistar minha casa na esquina da avenida aquarela. O que quer que tenha acontecido aquela noite havia me aliviado, as lágrimas os surtos, os monstros destroçando meu interior, ali era a prisão deles no qual meu corpo se fazia de prisão. Amanhã pela manhã iria falar com Joke...estava instável novamente e com novidades...
"Eu odeio estar tão propício a uma situação."
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Internal Prison
Misterio / Suspenso"Dois mundos diferentes que no final das contas eram um só. Uma prisão interna cheia de monstros que foram ganhando nomes, formas e tamanhos. Eram descontrolados e sedentos, muito mais do que apenas monstros, eram tormentas."