Silencioso e melancólico, características que denominavam aquele local. Não havia barulhos ou interrupções, só a garota e o imenso vazio daquele quarto branco, um branco amarelado e distorcido. A garota tentara melhorar o ambiente com algumas flores que a mesma expalhara pelo quarto, mas, ao seu ver, nada poderia mudar a atmosfera daquele lugar.
Meses se passaram e a garota continura tentando deixar aquele lugar digno de felicidade, mas todas suas tentativas falhavam miseravelmente. Talvez o problema fosse ela, ou talvez, fosse aquele quarto, isolado de todo o mundo. A jovem amaldiçoada sua cama e direcionava palavras de baixo calão à prateleira, falava de suas mágoas com o guarda-roupa e contava piadas ao urso de pelúcia, o motivo de tudo aquilo não era a loucura, e, sim, a solidão.
Uma noite a garota calma se encontrava enfurecida, ela desejava sair de lá a todo custo, não aguentava mais aquele vazio que habitava o lugar. Chegou ao ponto que tudo aquilo a assustava, o silêncio, a solidão, o branco das paredes, os móveis, até mesmo seu próprio eu a assustava. Ela só sabia que estava viva, pelo relógio em seu pulso, que produzia aquele som estridente, que se tornara alto o suficiente para a jovem ter que desliga-lo de vez em quando. O som do relógio se espalhava pelo quarto e trazia a felicidade de estar entre outras pessoas, conversar, tomar um chá ou, até mesmo, discutir. Ela queria se sentir humana novamente, masmo que para isso tivesse que ser alguém cruel e patético.
Marfim ou baunilha? A jovem tentava descobrir os tons de branco que rodeavam o quarto. Ela nunca iria descobrir no final das contas, até porquê, não havia internet ou enciclopédias lá, só havia o necessário para ela continuar existindo, mas não o suficiente para se sentir viva.
Era a noite, pelo menos o que o relógio indicava, a sua insônia atacava e sua ansiedade só piorava. Ela não tinha nada a perder, tinha? Ela se deitou e chorou, não existia ninguém para impedir ela, para alegrar ela, para a salvar. Só existia ela e...ela. A garota devia se salvar, não ser salva, mas ela não queria a salvação. Por mais que ela odiasse tudo lá dentro, odiasse até ela mesma, ela não queria sair, o mundo lá fora era pior, não existia nada de bom lá fora, como não existia nada de bom lá dentro, mas no quarto tinha uma vantagem: O silêncio. Ela não iria sair de lá, ela estava bem, ela ia ficar ela, ela precisava ficar bem. Se lá fora só há desgraças, ela prefere ficar desgraçada com a própria solidão e não pela solidão do abandono das outras pessoas.
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O quarto.
RandomMuitas vezes a imaginação cria lugares e memórias distorcidas da realidade, para que assim, o indivíduo tenha uma visão mais alegre ou menos cruel da verdadeira situação. Não é muito diferente da depressão, as vezes ela cria uma espécie de universo...