Iniciação

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  O Palácio Real era a coisa mais linda que Angelina já tinha visto, e ela absolutamente odiava o lugar e tudo que havia nele.

  Suas paredes brilhantes e seu chão polido. O tilintar de joias e taças de vinho. Pessoas com suas roupas extravagantes e seus sorrisos falsos cheios de segundas intenções. Os murmúrios, gargalhadas e lamentos. Era uma mistura perfeita para lhe dar nos nervos. Porém, ela não sabia o que odiava mais: A família que a estava vendendo ou o homem que estava comprando.

  — Então essa é sua adorável filha, Barão de Roche? Mas é um prazer finalmente conhecê-la! –– Falou o homem à sua frente, que pela aparência tinha idade para ser seu avô, e a olhou de cima a baixo com um olhar de malícia enquanto lambia os lábios, que a fez sentir uma enorme de repulsa.

  — Sim, sim, sim, Duque de Tairem! Essa é minha amada filha, que teremos a honra de conceder ao senhor.

  O barão era um homem baixo e de sobrepeso, que suava bastante e estava sempre a esfregar as mão umas nas outras, sorrir de orelha a orelha e bajular os nobres de maior hierarquia com suas doces mentiras. E para manter o costume, absolutamente nada do que ele tinha acabado de dizer era verdade, pois Angelina Mendore não era uma pessoa de verdade.

  Cinco anos atrás, apenas "Angelina" corria pelas ruas da Capital em trapos, implorando comida e roubando moedas para conseguir sobreviver. Depois de ser raptada por uma família de aristocratas para ser vendida no lugar de sua filha, "Angelina Mendore" se movia lentamente por belos corredores dourados, com um vestido azulado longo e detalhado, cabelos negros presos em um penteado exagerado e olhos escuros cheios de fúria.

  — Então, não vai se apresentar a mim? –– Ele perguntou com um sorriso frouxo. Quando Angelina continuou em silêncio, ele usou uma mão para agarrar suas bochechas e puxar seu rosto para perto dele, que fedia a álcool. –– Não vai me responder? É muda? Vocês deram uma mulher muda? Ou ela não foi ensinada a respeitar seus superiores?

  Quase pulando ao lado do duque, o barão tentou imediatamente acalmar a situação. –– C-claro que ela sabe falar Duque! É que ela é muito tímida! E esta sem palavras diante de tal nobreza que é o senhor! –– Ele falava rápido, a entonação de sua voz impossível de esconder seu pânico.

  Ainda com as mãos pressionadas nas bochechas de Angie, ele olhou dela para o Barão, avaliando a situação, e prontamente soltou seu rosto, satisfeito com a resposta que recebeu. –– Está certo então. É até melhor que ela não fale muito, a boca não é a parte do corpo dela que estou interessado. –– E gargalhou alto, com o barão o acompanhando com uma risada forçada.

  Eles continuam sua conversa, com o barão elogiando o duque a todo minuto. Era natural que quisesse agradá-lo. A família Roche era nobreza, porém eram de um nível baixo de nobreza. Um nível que além de pouco respeito entre os nobres, era cheio de dívidas. E quem além do rico Duque de Tairem para ajudá-los a superar suas adversidades?

  Claro que tal ajuda requer um preço, ou uma filha para ser mais exato. E como o barão já tinha planos de casar sua filha, a solução foi Angelina: Uma menina de rua, adotada pela família Mendore com o único objetivo de desposar de um homem nojento, para ser possuída e depois jogada fora como se não fosse nada.

  Mas ela definitivamente não ia se deixar ser usada assim.

  Ao longo que a festa prosseguia, ela ficava cada vez mais desconfortável. Ela sentia-se observada e julgada, como se todos os sussurros e risos fossem em direção a ela. E provavelmente era, afinal, era ela que estava naquela festa para ser apresentada como futura esposa de um homem desprezível. O fato dele ser barulhento e tentar tocar nela a cada segundo não ajudavam.

Vermelho Real e Sangue PlebeuWhere stories live. Discover now