Run

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Essa vai ser um pouco diferente, é que eu tenho sonhado com você, sabe, você nem aparece nos sonhos, mas eu sei que é sobre você e eu preciso te contar sobre o mais forte deles.

Eu estava com as meninas num hotel chique, desses grandes cheio de corredores e portas brancas de abrir com cartão. Lembro que tinha outro grupo de pessoas mas que eu e as meninas não nos demos bem com eles, acho até que rolou alguma intriga entre os grupos, mas eles estavam indo pra piscina do hotel e nós voltando pro quarto, então estava tudo bem.

Daí apareceu um garoto muito bonito, mais alto que eu, cabelo e barba ruivos e a pele clara, trocamos olhares e o flerte me fez seguí-lo até o quarto, ele realmente estava afim de mim e eu dele, acho que ele estava indo pra piscina já que a sunga vermelha dele combinava perfeitamente com a cor que suas bochechas estavam tomando quando passei minhas mãos pelo pescoço dele.
Nós beijamos e o beijo foi muito real, nem parecia um sonho, foi lindo.
Quando estávamos quase subindo de nível, se é que entende, entrou um senhor no quarto, parecia um zelador sem uniforme, mais baixo que eu, careca, só com cabelos nas laterais da cabeça e com um bigodinho bem feio, nós olhou bem feio pegou o telefone e saiu.

Mesmo sendo um sonho eu senti que havia algo errado, corri para olhar pela janela e do segundo andar com vista para a entrada do hotel eu confirmei meu pressentimento.
Quatro freiras, duas carregando sacos de pano, daqueles que colocam na cabeça das pessoas pra sequestrar, e duas com uma estaca e chicote de tortura entravam no hotel acompanhadas por policiais militares fardados.

Não precisei de muito tempo para entender que aquilo era pra gente, cometemos o crime de amar num tempo de ódio.

- Foge comigo? Perguntei.
- Desculpe, não posso, ele respondeu, preciso me salvar.

Abandonado eu abri a janela e corri, pela beirada da varanda do segundo andar até a rua, e corri, chorando, sozinho, triste, apaixonado.
A agonia de sonhar que está fugindo é enorme, nunca parece que está rapido o suficiente e o esforço é enorme! Eu corria em agonia, em dor.
Corri tanto que cheguei em um lugar que eu não conhecia, cheio de barracas de vendas, uma mistura de 25 de Março de São Paulo com o Saara do Rio de Janeiro.

Eu precisava de um lugar pra ficar, vi uma pequena pousada com um nome muito simbólico pra mim, "Cantinho da mamãe". Lembro perfeitamente do rosto da mulher no sonho, era uma mulher negra e baixa, já andava meio curvada para frente por conta da idade mas ela era muito bonita, lembrava a Elza Soares com um toque de Lia de Itamaracá.
Perguntei se tinha um lugar pra mim, e num abraço ela respondeu que sim, viu meus perseguidores atrás de mim e me escondeu em sua pousada e em seu coração.
Eles passaram correndo. Eu estava salvo.
Salvo, mas sem ele.
Salvo, mas sem as meninas.
Salvo, mas sozinho.
Acordei

Eu queria interpretar esse sonho pra você, não sei, acho que o garoto representa a idealização de um relacionamento, o cantinho da mamãe representa o acolhimento que eu não tenho em casa, e a fuga e o abandono representam... Bem... A fuga e o abandono.
Acordei meio afoito, fui tomar café da manhã pensando.
Você teria fugido comigo?

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