— Seu Roberto, mas eu estou te falando, minha mãe preparava pra gente essa alface refogada...
— Sério Maurício? Olha só, amanhã mesmo eu vou comprar um maço de alface e preparar essa receita.
— Pode confiar, coloque bastante alho, um fio de óleo bem quente na panela e depois é só tchááá, aí você vai mexendo né, tchááá....
Afonso, o jornalista, interrompe os dois.
— Mas pra mim alface sempre foi uma coisa, como eu diria, refrescante. Pois vejamos, a couve tem trinta porcento de água, já alface, setenta... Não que eu duvide de você Maurílio, mas ela não ia acabar sumindo na panela?
— Não seu Afonso. Mas tem que ser rápido né, refoga o tempero antes e, na hora em que estiver bem quente, joga a alface picadinha e deixa dar uma fritada. depois é só servir. Ó, é uma delícia.
Tonico, dono do bar, acompanha a conversa com um cigarro queimando entre os dedos indicador e médio da mão direita. Nem se esforça para participar da conversa. Seu Roberto leva o assunto então para um alimento mais substancial.
— Olha, é Maurício né?
— Maurílio, mas tudo bem.
— É Maurílio, eu gosto de uma rabanada e buchada de vez em quando. Volta e meia a mulher prepara pra mim lá em casa...
— Ah, eu gosto também... E joelho de porco?
— Adoro! Diz o seu Roberto
Afonso já mete a colher no assunto.
— Ah, do joelho eu gosto mesmo é do tutano sabe? Acho saboroso.
— Lá na minha terra quando a gente queria fazer piada com o sujeito dizendo que ele estava doido perguntava se tinha comido cabeça de porco! — Maurílio diz e depois solta uma gargalhada.
— Uai?! — Diz seu Roberto. — Eu tenho um amigo que vem lá da capital só pra comer cabeça de porco aqui no interior e ele não é maluco não.
— É por que quem gosta, gosta muito. — Arremata Maurílio rindo. Ele já entra com outro prato. Nesse momento Afonso tinha se ausentado para ir ao toalete.
— Eu gosto mesmo é de cabeça de galinha, já comeu?
Seu Roberto faz uma careta assustada.
— Vish Maria, mas que carne que tem lá pra se comer?
— Oxe, eu como com o osso e tudo, depois de bem fervida, a cabecinha dela fica molinha pra mastigar. é o néctar, como diriam.
— Isso eu nunca comi não, mas coração e pescoço já.
— As melhores partes da galinha são o pescoço e os pés, seu Roberto...
A tarde vai caindo e cai uma chuva de verão passageira. Afonso já voltou do banheiro e ajuda seu Roberto a trabalhar sua cerveja. Maurílio degusta uma cachaça enquanto olha as araras sobre os fios de eletricidade nas ruas do centro da cidade. Tonico fuma outro cigarro com a cara fechada. As araras grasnam nos fios ao por do sol.