The Birthday

one shot

Eu estava tirando o leite da última vaca quando escutei os gritos da senhora Min com dois dos seus quatro filhos. De longe pude saber que ela gritava com os gêmeos mais velhos para que saíssem do quarto e fossem ajudar em alguma coisa na propriedade, Yoongi e Suran saíram correndo da casa no mesmo tempo que a mãe dos dois tentou jogar um balde com água neles. A menina acabou se molhando e brigava com o irmão enquanto descia até onde eu e mais três caras estávamos trabalhando. Trocamos olhares e rimos.
Não era de hoje que os gêmeos não costumavam a ajudar na propriedade, eles gostavam daqui mas preferiam ficar no quarto, trabalhando na carreira de cantores. Era o sonho deles. Suran cantaria enquanto Yoongi produziria, e olha que eles eram bons pra caramba.

— Tudo culpa sua! — Ela gritava enquanto tirava os cabelos molhados do rosto, uma das poucas coisas que nos possibilitava diferenciar cada um. Eram idênticos mesmo sendo garoto e garota.
Olhei de canto para Yoongi e vi sua cara indignada.

— Eu falei pra gente vir fazer tudo cedo e você quis ficar me mostrando as canções.

— Mas... mas... elas importam!

— Importariam mais se estivessem acabadas!

— Ora, não me pressione!

Eu e os outros garotos estávamos atentos nos dois agora. Todos tínhamos muito tempo de convivência com os Min e seus filhos, cresci com os gêmeos e sabia bem como era a personalidade de cada um. Os dois estavam bravos. Suran, cansada de ouvir o irmão tagarelar, apanhou um balde médio de água cheio no tanque que usávamos para lavar tarros de leite e jogou no menino. Yoongi parou de falar na hora, levando menos de um minuto para jogar um punhado de terra na cara da irmã. Mesmo com os olhos doendo, Suran avançou nele.
Eu e Namjoon, um amigo em comum, separamos os dois que estavam pronto para sair no tapa. Era engraçado e preocupante, mas não a primeira vez.

— Yoongi, meu Deus! Pare quieto! — Eu o apertava com certa força e poderia fazer com que realmente parasse se ele não fosse tão mirrado que parecia conseguir deslizar por meus braços. Suran estava solta e se escondia atrás de Namjoon, ciente de que Yoongi odiava água gelada.
Assim que ele se acalmou de verdade, sem fingimento, soltei e recebi seu olhar fulminante em irritação. Não deu uma palavra e foi para dentro do galpão achar os ovos que as galinhas colocavam.
Um silêncio se instalou e nossa atenção foi para Suran, com seu rosto sujo e cabelo molhado.

— Você vem pra festa, não é? — Ela perguntou sorridente. Daqui dois dias seria aniversário deles e os pais autorizaram uma festa no pátio da casa. A única coisa que deveríamos temer eram os mosquitos. — Yoongi fez uma playlist irada, eu já vi porque... bom, eu sei tudo dele.

— Vamos ir sim. — Namjoon confirmou e os outros garotos acenaram positivamente com a cabeça.
Suran decidiu parar de falar sobre como tudo seria incrível e como era maravilhoso fazer dezoito anos para entrar no trabalho.
De mansinho fui para o galpão, preocupado e como Yoongi estava. Encontrei-o brigando com uma galinha choca que não queria sair do ninho.

— O que é? Não vai sair? — Ele se irritava com o silêncio do animal e me olhou quando ri, mas me ignorou. — Vai sair sim! — Yoongi, por pura birra, enfiou a mão por baixo da galinha a fim de pegar seus pés e tirá-la do ninho, no entanto, ele se esqueceu de verificar se em baixo dela haviam ovos ou pintinhos. No caso, eram pintinhos, e a mãe furiosa deles avançou em Yoongi para o espantar. Yoongi deu um grito e saiu correndo com a galinha atrás, comecei a rir quando ele precisou subir no trator para se safar.
Minha barriga doía de tanto rir e seu desespero não iria cair no meu esquecimento tão cedo. Eu nem fazia ideia de como ele tinha conseguido subir no trator.

— P-pare de rir! Me ajude a descer agora! — Ele estava vermelho, muito envergonhado, e me deu um tapa no ombro quando fui ajudar. Segurei em sua cintura e o coloquei no chão.
Ele estava com um bico nos lábios, sinal de que estava magoado. Como eu sabia? Bom, eu tinha crescido com Min Yoongi. Éramos bons amigos mesmo ele e a irmã sendo sempre o melhor amigo um do outro. Eu vinha com meus pais para a fazenda quando criança e brincava com os dois, até que me interessei e arrumei o trabalho na propriedade aos dezessete. Sabia quando ele estava feliz, desconfiado, triste, sensível, irritado, tudo. Era fácil ler seu rosto, fácil para mim.
Yoongi era brilhante desde criança, sempre muito criativo e talentoso, amável e engraçado, gentil, inteligente, ele era um arraso.
Senti meu ar faltar quando ele puxou minha camisa e encostou a cabeça em meu peito, soube na hora o que estava havendo; Yoongi estava magoado e queria abraço.
Ele sempre fora assim, afetuoso, e sendo assim os problemas com as outras pessoas foram inevitáveis. Julgavam-no dado, estranho, mimado, e então ele era o marica da escola. O senhor e senhora Min, a pedido do próprio filho, tiraram-o da escola e o educaram em casa até seus quinze anos, onde ele passou por uma fase rebelde de: engulam-me ou morram.
Nessa mesma fase Yoongi declarou aos pais que não sentia atração por pessoas do mesmo sexo, seus pais somente disseram que já sabiam e que ele deveria ser forte. Yoongi sempre foi forte, eu o admirava muito por isso. Ele tinha coragem, já eu, não.
Envolvi o corpo magro com certo cuidado e um pouco de vergonha de estar suado pelo trabalho.