cupidos, vela e roda gigante.

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Era sempre o mesmo conto a todos aqueles que o conheciam. A mesma situação onde Geonhak resmungava sobre ser um desastre no amor — o qual tinha fundamento, afinal, todos os seus romances acabaram do pior modo possível — e o garoto se via numa espécie estranha de fossa. Quisera ele poder narrar suas conquistas, mas nem mesmo elas haviam durado o suficiente para serem taxadas como boas.

Eram aventuras que se esvaíam tal qual areia em meio a água do mar.

— Não fica assim, uma hora o cupido vai flechar seu coração. — disse Keonhee se compadecendo do amigo. Geonhak estava cansado de sempre clicar na mesma tecla, de sempre sentir as mesmas emoções fracas e cansado de estar desse modo.

Era evidente que não precisava de alguém que suprisse seus desejos, quiçá correspondesse a seus sinceros sentimentos, entrementes, chegava um momento da existência humana onde acabávamos sentindo necessidades correspondentes ao coração — vontades que, muitas das vezes, envolviam o emocional e o carnal.

E estar sozinho na véspera do dia dos namorados não animava Geonhak em quase nada. Sentia-se sozinho nesse aspecto — o que já não era nenhuma novidade — e seu estado de espírito encontrava-se solitário, como se fosse um lobo que desistiu da matilha e hoje segue sozinho pela vida, o que também não era diferente deste. Afinal, já tinha desistido mesmo do amor.

As tentativas de Keonhee eram claras, visto que entendia os sentimentos que habitavam no amigo, entretanto, nem mesmo isso conseguia animar ele. Haviam saído mais cedo da faculdade enquanto carregavam consigo diversos livros — os quais, sendo eles boa parte de Lee, já que o mesmo tinha ganhado estes da bibliotecária do local — e ao mesmo tempo que ambos os meninos seguiam com os livros, Keonhee cantava algum pop internacional.

— Acho que o cupido deve estar sem flechas nesse momento. — comentou desanimado o mais velho. Afastou brevemente os fios de cabelo com um sopro, o qual ajudou minimamente; deixou um suspiro escapar por entre os lábios evidenciando todo o seu cansaço, para, em seguida, umedecer parcialmente um lábio no outro.

— Seoho e eu vamos sair mais tarde, quer ir conosco? — inquiriu o de fios azulados numa clara tentativa de animar Geonhak. Havia diversos prós e múltiplos contras nessa questão, sabia que se fosse com o casal certamente ficaria de vela, toda via, Seoho amava mimar o segundo mais velho do trio. Mimos no linguajar de Lee Seoho se remetiam a comida, então era um pró levemente interessante. — Seoho quer bancar a adolescente clichê que passa a noite em parques e namora na roda gigante.

E ele também sabia que sobraria — sempre sobrava — mas diferentemente de outras pessoas, Seoho e Keonhee não agiam como um casal meloso diante de Geonhak, eles entendiam a situação do mais velho e a respeitavam. E também era final de tarde de uma sexta, já havia visto pelo menos metade dos filmes no catálogo da Netflix, além de que não estava tão animado para comprar comida e comer enquanto via Desencanto.

Aproveitou do detalhe onde ganharia comida gratuita e concordou com a ideia proposta por Keonhee. Seria melhor que nada, não é mesmo?

[...]

Eram exatas sete da noite quando Keonhee bateu na porta da casa de Geonhak. A mãe deste, Sorin, abriu a porta permitindo a entrada dos garotos e até mesmo perguntou se eles queriam algo; ambos os garotos negaram e questionaram sobre Geonhak, a mesma indicou que eles poderiam ir até o quarto do menino que não havia problema algum.

O garoto encontrava-se sentado na cama enquanto olhava para as próprias mãos, possuía um olhar extremamente perdido e sequer percebeu a presença do casal. Seoho fingiu uma tosse leve, apenas para desviar a atenção de Geonhak para si; temia que a ideia proposta por Keonhee fosse péssima ao ponto de, ao invés de animar o Kim, fazer ela o deixar triste.

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