Coração de Porcelana

A insídia e a surpresa

Bem-vindo e bem-vinda ao nosso mundo, onde os seres ( não todos ) são minérios vivos, existem os ratos que vivem para quebrar e roubar os nossos pedaços. Eles levam os pedaços para o fundo do mar, num lugar desconhecido e até hoje, ninguém que foi levado conseguiu retornar, então não sabemos exatamente o que ocorre com os pedaços levados. Existem tropas de guerreiros e guerreiras que precisam ser fortes, são treinados desde criança para proteger o povo dessa aberração larápia, mas infelizmente, nem sempre os guerreiros e guerreiras conseguem proteger. Já deixo avisado que: Se você se emocionar ou sentir um alto desconforto com as descrições das cenas de quebra e roubo, algum de seus antepassados foram um de nós. Cuidado com ladrões, eles roubam sua alma e essência por motivos desconhecidos, uma das teorias é que seja por ganância.

Bom dia, meu nome é Jade e agora, com 25 anos de idade, finalmente completei o meu sonho de me tornar uma médica, este é o meu segundo relatório. No momento, eu estou analisando o corpo de uma soldada, ela literalmente não tem mais nada da cintura pra baixo, também está sem seus braços. Pobre criatura. Eu estaria me sentindo bem melhor agora se o meu maldito ex-namorado não estivesse entrando pela porta de meu laboratório para conversa fiada.

- ...vai fazer algo hoje à noite? - Diz o nojento, se aproximando de mim.
- Sebastian, eu já lhe avisei: Se não for para falar sobre o trabalho, não venha puxar assunto comigo - Eu respondo, continuando as minhas anotações sobre o trabalho. Eu não vou olhar pra ele.

Então, Sebastian vêm em minha direção e puxa meu braço para longe de minha prancheta, como consequência, acabo rabiscando uma parte do papel.

- Você sabe que eu ainda te amo, não sabe? - Ele, olhando para meus olhos, seus olhos brilhavam à fúria, com seu outro braço, ele retira um isqueiro de seu bolso.
- Sebastian, me solta agora - Por mais que eu esteja tentando manter a pose de valentona, ainda tenho medo! Mesmo eu sendo uma nefrita. As nefritas são quase inquebráveis, porém temos uma certa fraqueza contra o calor. E agora, no caso, seria o fogo.

Logo, o imaturo acende o isqueiro e vem em minha direção, com a intenção de acertá-lo em meu rosto, logo desvio ( por sorte ) desse 'ataque' ainda tentando soltar meu braço de sua mão e felizmente, dessa vez meus esforços valeram a pena! Eu consigo. Ao ver-me solta, ele veio com outro ataque e novamente com o isqueiro aceso, porém, desta vez foi diferente, não só desviei agachando como mirei em seu queixo. Levanto meu corpo para frente rapidamente e pulo, dando assim uma cabeçada em seu quadrado queixo. Como consequência, a jadeita de seu queixo, com esse bruto 'avanço', quebrou-se, e nessa quebra, emitiu um som alto, mais como vidro sendo quebrado e dessa vez, Sebastian finalmente deixou cair o 'objeto incendiário'. O homem logo coloca ambas as mãos em seu queixo ( ou onde deveria ter um queixo ) tentando aliviar a repentina dor.

Os médicos(a) e enfermeiras(o) do hospital, quando ouviram o som, vieram correndo ver o que se ocorreu em meu laboratório, admito que perdi a classe.

- RETIREM ESSE TRASTE DAQUI! IMEDIATAMENTE! - Digo apontando para Sebastian que agora, tem agora parte de seu 'belo' rosto quadrado no chão.

As médicas, médicos, enfermeiros e enfermeiras, sem entenderem nada do que aconteceu, retiram Sebastian de meu laboratório, enquanto o mesmo continuava tentando aliviar sua dor e me xingava. Maldito! Perdi tudo o que estava escrevendo.

( Uma hora depois do ocorrido )

- Senhorita Jade - Uma enfermeira que está na porta de meu laboratório- Trouxemos o corpo da única guerreira que voltou da última guerra... Ela está partida ao meio, você é a única profissional daqui formada em reconstruir corpos, por favor a ajude.- Traga-me para mim - Digo-lhe sem olhar para seu rosto, ainda estava escrevendo em minha prancheta o que Sebastian tinha me atrapalhado há uma hora atrás.

A enfermeira, baixa e dos cabelos alaranjados ( a gema dela provavelmente é uma calcita laranja, se não me engano ) trouxe-me o corpo da guerreira, que partida ao meio. Sua pedra é um rubi, sua pele é morena e seus cabelos dum tom azul-marinho escuro. Ela ainda estava com o seu elmo de batalha na cabeça e ainda mantinha-se acordada.

- O que exatamente aconteceu? - Eu sei que não deveria ter perguntado isso já que a guerreira estava visivelmente abalada, mas tenho que saber.
- As tropas do inimigo estão mais fortes do que antes... Todo meu exército caiu como peças de dominó... Eu falhei como líder, e-eu... Meu melhor amigo... E-ele se sacrificou pra eu continuar viva... - Ela dizia com os seus olhos tão marejados que talvez aquele amigo era algo mais para ela - Eu quem deveria ter ido, não ele, não ele... Os ratos levaram metade do meu corpo mas logo fui socorrida por outros guerreiros...
- Sei, sei... - A respondo, examinando seus pedaços e pensando em como remendá-los - Vai demorar um pouco até seu corpo estar 100%, devo avisar-lhe de que preciso de pelo menos alguns pedaços seus para conseguir reconstruir seu corpo.
- Uh... Alguns pedaços meus continuam no campo de batalha... - Ela olha para meus olhos, a angústia é visível - Você é uma nefrita, não é? É ótima em resistência... Deveria ser uma guerreira conosco... Mas se o destino lhe trouxe para cá deve ter suas razões...
Eu não respondi nada, apenas suspirei e murmurei algo como " vou recuperar os seus pedaços e moldar-te de volta ". Assim deixei meu laboratório e o hospital.

Quando estava chegando ao campo de batalha, vi que não tinha mais nenhuma tropa inimiga ou amiga, vi os pedaços, não todos, da guerreira no chão. Um ponto crucial: Também vi uma criança de porcelana com seu braço pela metade e seu rosto quebrado. Uma criança de porcelana? O que ela faz num campo de batalha? Preciso levá-la de volta para a vila nesse exato momento!