3| Bagagens

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[Capítulo Reescrito]

...

Era inverno e sentada no parapeito da janela do meu minúsculo quarto, eu observava a neve pesada caír e se espalhar na rua lá fora. No entanto, mesmo o clima um pouco incomum não podia me fazer deixar de dar atenção a briga no andar de baixo.

Os poucos pratos que tinhamos quebravam com força contra a parede enquanto Tia Sue gritava com seu namorado sobre as mensagens que ela havia pegado no celular dele com outras mulheres. Jared, silencioso como era, não falava alto o bastante para que eu o escutasse. Mas poderia dizer que ele não estava ajudando muito a julgar pelo fato de que ela ficava cada vez mais alterada.

E aquele pensamento de Tia Sue com raiva me fazia estremecer. Porque sim, eu sabia onde aquilo terminaria.

Dando as costas para o inverno e sua beleza, caminhei em direção ao pequeno espelho do quarto e observei as minúsculas cicatrizes em minhas costas. O resultado de ter sido pega fora da cama tão tarde. Um dos muitos castigos cruéis que Tia Sue reservava pra mim em seus momentos de fúria.

- Foda-se isso! Eu quero que você vá embora, Jared. Eu não preciso de você e suas bagagens na minha vida. - Ela gritou e eu escutei o baque alto da porta quando ela o bateu.

- Bagagem? - Jared riu alto mostrando que estava em seu limite. - E você acha que eu tenho bagagem? Se toca, Sue! É você quem cria a filha da sua irmã e o cara de quem você gostava debaixo do seu teto. O cara que ELA roubou de você! Então não venha me dizer que eu tenho fardos porque VOCÊ TEM PIORES!

Um estalo ecoou pela casa e eu estremeci.

Correndo para um canto do quarto, me encolhi e fechei os olhos com força. Por favor, não. Implorei silenciosamente. Por favor, de novo não.

Por favor.

Por favor.

A porta bateu novamente lá embaixo, cortando o silêncio que se fez de repente.

- Vá embora, Jared.

- Su-

- VAI EMBORA!

O som de passos rápidos.

- Quer saber? Eu vou mesmo! Não quero essa merda que é a sua vida me atrapalhando.

- Ótimo!

- E não me ligue quando estiver solitária. Porque é isso que vai acontecer eventualmente com você, Sue. Sempre sozinha, sendo a covarde que você nunca deixou de ser. - A voz dele escorria veneno. - E sempre traída.

Um rosnado furioso foi o que veio no momento seguinte, seguido de algo quebrando contra a parede.

- Vai embora daqui seu desgraçado! Some da minha casa Jared! SOME DAQUI!

E a porta se fechou novamente.

Eu, ainda encolhida no canto do quarto, comecei a chorar antecipadamente quando escutei o som dos passos pesados subindo as escadas. Minhas costas doíam com a força com a qual eu me prensava contra a parede, como se inconscientemente meu corpo quisesse se fundir a ela. Como se quisesse sumir dali.

E eu queria mesmo.

No entanto, não tive tempo suficiente para pensar sobre isso pois logo sua figura alta e magra surgiu na entrada do quarto e eu não pude me mover mais. Era como se meu corpo entrasse em completo estado de choque e mesmo meu cérebro gritando Corra! a cada 2 segundos não era capaz de fazê-lo se mexer.

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