[Capítulo Reescrito]
...
Era inverno e sentada no parapeito da janela do meu minúsculo quarto, eu observava a neve pesada caír e se espalhar na rua lá fora. No entanto, mesmo o clima um pouco incomum não podia me fazer deixar de dar atenção a briga no andar de baixo.
Os poucos pratos que tinhamos quebravam com força contra a parede enquanto Tia Sue gritava com seu namorado sobre as mensagens que ela havia pegado no celular dele com outras mulheres. Jared, silencioso como era, não falava alto o bastante para que eu o escutasse. Mas poderia dizer que ele não estava ajudando muito a julgar pelo fato de que ela ficava cada vez mais alterada.
E aquele pensamento de Tia Sue com raiva me fazia estremecer. Porque sim, eu sabia onde aquilo terminaria.
Dando as costas para o inverno e sua beleza, caminhei em direção ao pequeno espelho do quarto e observei as minúsculas cicatrizes em minhas costas. O resultado de ter sido pega fora da cama tão tarde. Um dos muitos castigos cruéis que Tia Sue reservava pra mim em seus momentos de fúria.
- Foda-se isso! Eu quero que você vá embora, Jared. Eu não preciso de você e suas bagagens na minha vida. - Ela gritou e eu escutei o baque alto da porta quando ela o bateu.
- Bagagem? - Jared riu alto mostrando que estava em seu limite. - E você acha que eu tenho bagagem? Se toca, Sue! É você quem cria a filha da sua irmã e o cara de quem você gostava debaixo do seu teto. O cara que ELA roubou de você! Então não venha me dizer que eu tenho fardos porque VOCÊ TEM PIORES!
Um estalo ecoou pela casa e eu estremeci.
Correndo para um canto do quarto, me encolhi e fechei os olhos com força. Por favor, não. Implorei silenciosamente. Por favor, de novo não.
Por favor.
Por favor.
A porta bateu novamente lá embaixo, cortando o silêncio que se fez de repente.
- Vá embora, Jared.
- Su-
- VAI EMBORA!
O som de passos rápidos.
- Quer saber? Eu vou mesmo! Não quero essa merda que é a sua vida me atrapalhando.
- Ótimo!
- E não me ligue quando estiver solitária. Porque é isso que vai acontecer eventualmente com você, Sue. Sempre sozinha, sendo a covarde que você nunca deixou de ser. - A voz dele escorria veneno. - E sempre traída.
Um rosnado furioso foi o que veio no momento seguinte, seguido de algo quebrando contra a parede.
- Vai embora daqui seu desgraçado! Some da minha casa Jared! SOME DAQUI!
E a porta se fechou novamente.
Eu, ainda encolhida no canto do quarto, comecei a chorar antecipadamente quando escutei o som dos passos pesados subindo as escadas. Minhas costas doíam com a força com a qual eu me prensava contra a parede, como se inconscientemente meu corpo quisesse se fundir a ela. Como se quisesse sumir dali.
E eu queria mesmo.
No entanto, não tive tempo suficiente para pensar sobre isso pois logo sua figura alta e magra surgiu na entrada do quarto e eu não pude me mover mais. Era como se meu corpo entrasse em completo estado de choque e mesmo meu cérebro gritando Corra! a cada 2 segundos não era capaz de fazê-lo se mexer.
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SHELLBACK
RomanceA verdade é que Mariana Davers chamava atenção. E não porque era uma garota bonita daquelas que você não podia deixar passar sem dar uma olhadinha rápida (pelo menos, era o que ela achava) mas sim porque carregava no rosto a marca de um passado que...