Capítulo único

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"Forgive her
For she knows
Not what she does"

Abril de 1980

Em um cubilico, desprovido de qualquer luxo imposto pela vida mundana, vivia uma jovem de cabelos tão róseos que, por infimos momentos, ela se permitia pensar na pena que seria ter que escondê-los em nome da fé.

Desde cedo, Sakura vive unicamente para honrar o chamado para vocação divina que, segundos seus pais, foi feito ao seu nascimento quando a bebê voltou a vida após ser dada como morta — algo que nem mesmo os médicos puderam explicar, então coube a fé, até então fraca, da senhora Haruno entender que aquilo só poderia ser alguma mensagem dos céus para que a família Haruno retornasse ao caminho dos deuses. E, graças a isso, Sakura viveu a sua vida em prol de um dia chegar àquele minúsculo quarto, dentro de um casarão de servas solares, localizado aos fundos da única igreja da pequena cidade interiorana de Konoha.

Sakura não sabia muito bem o que pensar dessa história, mas continuava a seguir fervorosamente o caminho já construido pela mãe.

Assim, ajoelhada na fria cerâmica, defronte à cama que, por poucos centímetros, não tornava a sua estadia um tanto quanto desconfortável, Sakura pedia para que a deusa solar protegesse a todos
naquela noite sem lua.

As noites sem lua eram caracterizadas como a noite dos demônios: onde eles, sem qualquer vigília do Deus lunar, aproveitavam para possuir as pessoas e quiçá levar algumas almas consigo. E, justamente por isso, os habitantes da pequena Konoha tem a tradição, que começou há dois anos, de se manterem acordados, em uma reza contínua até que a deusa solar aparecesse na manhã seguinte.

Em meio a suas preces, Sakura sentia que seria incapaz de pedir para que a deusa a resguardasse, junto com os habitantes de Konoha, de baixo de seu véu dourado. Ela era uma pecadora e pecadores como ela mereciam ser punidos.

Ela sabia que ele viria para fazer isso.

Ela sabia que em noites sem lua ele aparecia.

O pecado corroía cada parte do seu corpo, mas nada conseguia ser tão abrasador quanto as memórias das noites regadas a luxúria que ele conseguia proporcionar para Sakura. Aquele era o castigo de Sakura, um castigo que ela merecia, um castigo que ela se permitia sentir intricisecamente.

O calor em meio suas pernas aumentava conforme a rosada rogava pela proteção alheia. Ele estava chegando. O arrepio em seus pelos enunciava que o cheiro dele circundava o ar: a mistura amadeirada, com um leve odor da chuva que se fundia sutilmente com um aroma mentolado, fazendo Sakura sentir a umidade sugir em meio às suas pernas. A respiração falha, da jovem de cabelos rosa, e os tremores em suas pernas entregavam que ele já se fazia presente no quarto.

Naquele momento, a Haruno agradecia por estar de joelhos. Todos os seus sentidos foram tomados de si quando ela ouviu aquele suspiro que, por mais tedioso que parecesse, carregava uma lascividade tão característica de seu dono, que restava a Sakura se prender ao pouco da sanidade que insistia em permanecer em seu corpo.

— Demorei muito? — O tom divertido em sua pergunta fazia Sakura sentir um ódio de si mesma por ser tão entregue àquele ser.

— Não sei. Não estava a sua espera. — Mesmo com os olhos teimosamente fechados, Sakura sabia que ele estava dando-lhe o melhor sorriso. — Aliás, estava pedido para que a deusa solar te mantivesse no inferno de onde você veio.

Punishment - KakasakuOnde histórias criam vida. Descubra agora