O astro da noite refletia no largo rio. As mariposas – e outros insetos noturnos – ziguezagueavam em direção ao luar. O coaxar dos sapos atrás de parceiro era ensurdecedor e podia ser ouvido a centenas de metros. O mato pendia unilateralmente, por conta do vento da noite. As estrelas cintilavam. Um risco coloriu o infinito céu negro. Depois deste, inúmeros outros traços repetiram a ação do seu irmão. Uma chuva de meteoros havia iniciado. Caiubi não pegara no sono e assistia àquele espetáculo gratuito do lado de fora da sua taba. Nunca tinha visto antes. Pensou em acordar a mulher e a filha, porém ambas estavam em sono profundo. Era melhor deixar apenas Guaraci acordá-las. Será que Tupã provocara aqueles arranhões no céu? Ou algum deus brincalhão? Caiubi viu que toda a tribo dormia. Não sabiam o que estavam perdendo. Ele se afastou das ocas e foi para próximo do rio se deitar nas gramídeas. Caiubi viu quando um dos cortes caía com rapidez. Parecia vir na direção dele, entretanto não se mexeu, tampouco sentiu medo. Em poucos segundos percebeu tratar de uma ilusão, mas aquela luz realmente estava descendo. Talvez quando amanhecesse poderia sair em busca deles. Fechou as pálpebras e dormiu. Acordou com os raios de Guaraci esquentando seu rosto. Levantou-se e foi atrás de Dena, a mulher e Jacirema, a criança. A mulher ralhou com ele por não ter adormecido na taba. Um animal ou espírito maldoso poderia ter aparecido e ele não estaria lá para defendê-las. Respondeu que era a última vez que isso aconteceria. Depois de ter feito uma refeição com mel e abelhas assadas, disse à sua mulher que iria caçar. Era verdade, porém não ia à busca de animais, e sim dos meteoros da noite anterior. Se algum caiu, talvez fosse fácil de achar. Caiubi andejou por poucos metros até ver galhos de uma árvore quebrada. Ele estudou e concluiu que nenhum animal seria capaz de fazer aquilo. Aproximou-se dos restos da planta. A terra estava levantada e algo estava enterrado ali. Agachou e remexeu o solo até encontrar um tipo de rocha. O mineral, em algum momento, rachou-se porque havia caracteres estranhos entalhados nele, porém parecia estar incompleto. Caiubi só teria certeza disso se perguntasse a Itapoã, o pajé. Assim, correu de volta à aldeia. O suor brotava em cada poro do corpo forte de Caiubi. Chegou à aldeia e chamou o pajé. Mostrou a rocha a Itapoã. Não disse palavra, exceto convidar Caiubi para entrar na taba junto com ele. Itapoã preparou uma espécie de chá em uma cuia e tomou em um só gole. O sangue principiou a fluir melhor até o cérebro dele. Com a descarga de oxigênio e hormônios, as sinapses foram intensificadas. As pupilas dos olhos negros do pajé se expandiram. Caiubi identificou esse processo como um transe. Itapoã tocava no mineral, mas não o viu. Caiubi ponderou que o pajé estaria enxergando com os olhos da mente, em vez dos seus olhos reais. Analisou todo o objeto e depois entregou para Caiubi. O pajé disse a Caiubi que aquelas inscrições talhadas eram muito antigas. Mais antigas do que a água, a terra, o vento ou o fogo. Ele explicou que os caracteres foram feitos por mãos, mas que não eram em nada parecidas com as dele ou com as de Caiubi. Também esclareceu que foi meramente o acaso que trouxe a rocha até aqui e que ninguém mais deveria saber desse segredo. O assunto deveria morrer com eles. - Mas quem são esses seres? – perguntou Caiubi. O pajé apontou para o longínquo espaço. - Os primeiros habitantes.