Natal dos Valentino

23 de dezembro

Já se passavam das oito horas da noite quando esperava os portões brancos se abrirem e eu passar com o carro pelos seguranças e adentrar no meu paraíso: minha casa e minha família. Eu contemplava à minha frente a grande construção imponente onde eu e Bella resolvemos que seria nossa casa no ano passado, antes de toda aquela merda dela sumir e me deixar aqui sem saber aonde estavam ela e minha filha, mas ainda bem que em um ano as coisas resolveram entre nós dois e agora estávamos aqui, ansiosos para a chegada do nosso segundo filho.

Exatamente no ano passado, uma hora dessas eu sofria desesperadamente por passar o natal sem minhas mulheres. Sei que fui ao inferno mais de uma vez quando tudo aconteceu, e dessa vez Bella me fez ver que jamais devo ser desprevenido e acreditar que as pessoas têm consertos, confesso que a perspectiva de perdê-las me fez mudar algumas coisas e no modo como agir e pensar; não queria ser que nem o velho Valentino, um ótimo marido, pai e um carrasco como comandante da nossa organização. Poucos sabem o que ele me fez ver para me construir em quem eu sou, não sou fraco, penso que devo ser inteligente, mas quando se trata do meu "tendão de Aquíles", Bella, eu me torno irracional e não consigo pensar com coerência, minha chapeuzinho é minha fraqueza, pois a amo acima de mim mesmo e entendo que ela precisa de segurança, e para provar meu amor incondicional tratei de mudar minha postura e ser implacável, cuidei de assuntos nos quais deixavam minha esposa amada e idolatrada ainda receosa e desconfiada.

A máfia não funciona mais como era antes, hoje em dia, no século vinte um, temos que ter cuidado com nossas ações, algumas podem nos envolver em escândalos ou irmos presos, já tenho coisas acumuladas na minha vida que me deixariam preso por uns 30 anos e confesso que não quero perder a oportunidade de ser pai, viver ao lado do amor da minha vida e poder comandar o legado da minha família. Vi e fiz coisas que nem mesmo tenho coragem de contar a Bella, por isso hoje com meus 43 anos tomo cuidado e tento ser cauteloso em todas minhas atitudes, mas na decisão que tomei hoje não tive escolhas, sei que talvez no ano que vem as coisas estejam pesadas e conturbadas, e meus planos de uma vida tranquila não sejam realizados.

Por enquanto é melhor não pensar em problemas e curtir minha família.

Estacionei meu Audi RR vermelho em frente à entrada sob a fachada da casa; Bella nesses cincos meses de retorno, desde meu aniversário em agosto, tem se portado com uma verdadeira primeira-dama, é recatada, cuida de nossa casa com os empregados, é um exemplo de mãe, a gestante mais linda e gostosa, além da impressionante companheira, amiga, esposa e amante.

Com seus 26 anos a cada dia mostra como se porta uma verdadeira rainha.

Mí regina!

Caminhei pelo hall da casa toda reformulada por ela, os detalhes desde os vasos italianos, a tapeçaria eram de extremo minimalismo e bom gosto, era nossa, e além de todos esses atributos Bella não só se mostrava uma excelente nova matriarca dos Valentino, mas ainda era sagaz a ponto de ver que algo de errado estava acontecendo. Sua mente astuta ia mais além do que poderíamos imaginar e agora grávida de oito meses cismou que mostraria a todos o poder e a fortaleza de nossa família. Depois do escândalo de seu sumiço no ano passado muitos e até outras divisões acharam que estávamos vulneráveis e foi onde começaram meus problemas, os bairros onde dominávamos já não estavam tão calmos, o comércio de armas, o nosso forte estava ameaçado principalmente no Brooklin onde desde a década de 80 éramos absolutos. A empresa de coleta de lixo sempre foi a fachada para acobertar nossos negócios ilegais.