Entre O Amor E A VINGANÇA - LIVRO 1 - Degustação

Capítulo 1

Eu estava em casa, envolto em pensamentos sobre minha amada Mariana. Havíamos nos conhecido quando eu tinha 18 anos, logo depois da morte de meu pai. Foi um período difícil para mim, perder meu pai tão jovem e ter que assumir seus negócios e cuidar da família ao mesmo tempo não era fácil. Não tive sequer tempo de passar por todos os estágios do luto como uma pessoa normal.

Então, em um dia qualquer, a conheci em uma cafeteria e nossa amizade se iniciou. Mariana era uma mulher excepcional, em pouco tempo já havia fisgado meu coração. Ela sempre esteve ao meu lado e me ajudou a não desistir. Mariana era o sol que iluminava meus dias e o motivo do meu sorriso mais sincero. Cada segundo longe dela parecia uma eternidade, e meus pensamentos se concentravam nela, em sua beleza cativante e no amor que compartilhávamos.

Hoje era o dia de seu aniversário e eu pretendia fazer uma grande surpresa. Embora namorássemos há apenas um ano, pretendia pedi-la em casamento na lanchonete onde nos conhecemos. Com o coração acelerado, peguei o telefone e disquei o número dela, esperando ansiosamente por sua voz doce.

No entanto, o tempo parecia se arrastar enquanto o telefone tocava. Quando ela finalmente atendeu, sua voz carregava um tom de apreensão, algo que me causou um leve desconforto. Mas, por mais que um pequeno alerta soasse na minha mente, decidi ignorá-lo. Afinal, confiar em Mariana era algo natural para mim, pois nunca tive motivos para duvidar de sua fidelidade.

— Mariana, meu amor, estou com saudades – eu disse, minha voz transbordando de carinho e emoção. Tentava ao máximo disfarçar minhas intenções, mesmo sabendo que ela odiava surpresas. – Feliz aniversário, minha linda, podemos nos ver hoje?

Houve um breve silêncio do outro lado da linha antes de ela responder.

— Donatello, sinto muito, mas não poderei te encontrar hoje. Estou atolada com os trabalhos da faculdade e preciso focar nisso. Só poderemos nos encontrar no final de semana – explicou ela, sua voz soa distante e hesitante. Mariana suspirou. – Agradeço seu carinho, mas infelizmente não vou conseguir te ver hoje.

Um aperto no meu peito acompanhou suas palavras. Era o dia do aniversário dela, e eu havia planejado tantas surpresas, tantos momentos especiais para comemorar essa data.

A decepção se misturava com a incerteza, pois algo dentro de mim ansiava por uma explicação mais detalhada. No entanto, confiante e completamente apaixonado, escolhi acreditar em suas palavras e aceitar a situação.

— Entendo, meu amor. Sei o quanto seus estudos são importantes – respondi, esforçando-me para manter a tristeza fora da minha voz. – estarei esperando ansiosamente pelo final de semana para comemorarmos juntos. Te amo.

A ligação foi encerrada abruptamente, deixando-me com um vazio momentâneo. Tentei ligar novamente para Mariana em busca de mais informações ou apenas para ouvir sua voz novamente, mas fui recebido pelo som de um telefone desligado. Meu coração começou a bater mais rápido, uma sensação desconfortável e preocupante tomou conta de mim.

Sentado no meu quarto, os pensamentos se acumulavam na minha mente. Será que ela estava realmente tão ocupada com os estudos? Por que ela parecia apreensiva? Dúvidas e questionamentos surgiam, contrapondo o amor e a confiança que eu nutria por ela. Meu desejo de reencontrá-la no final de semana crescia cada vez mais, na esperança de que nossa conexão se restabelecesse e todas as preocupações desaparecessem.

Nesse momento de incerteza, meu coração continuava a me perturbar, mas eu estava determinado a dar o benefício da dúvida a Mariana. Nosso amor era especial, e eu estava disposto a esperar até o final de semana para entender melhor o que estava acontecendo. O amor era forte o suficiente para superar qualquer obstáculo, ou pelo menos era o que eu queria acreditar.

— Donatello? – a voz doce de Luciana invade o quarto. – Sei que é errado ouvir as conversas, mas você sabe que é como um filho para mim, mesmo eu sendo apenas uma empregada.

Um sorriso se abre no meu rosto. Luciana era muito mais que uma funcionária, ela esteve comigo desde o meu nascimento, quando meu pai a contratou como assistente pessoal. Depois da morte dele, eu não consegui vê-la longe. Ela era tudo que havia restado do meu pai. Então, fizemos um acordo de que ela moraria conosco e seria parte da nossa família. Era uma atitude que meu pai aprovaria, ele sempre tratou seus funcionários como se fossem da família.

— Deixe disso, você é como uma tia para mim – minha voz doce a faz sorrir, e ela entra no meu quarto. – Sabe, Luciana, sinto que meu relacionamento não é a mesma coisa. Sei que estou sendo um namorado negligente por conta do trabalho, talvez isso esteja afetando a forma como a Mariana me vê.

Luciana faz uma micro expressão de desprezo ao ouvir o nome "Mariana" por algum motivo estranho. Nem a Luciana nem minha mãe gostavam da Mariana. Meu irmão dizia ser ciúmes de mãe, que ambas sentiam que deviam me proteger de qualquer mulher. Até que isso fez sentido.

— Você sabe minha opinião a respeito dessa jovem – sua voz sai com desprezo, e ela revira os olhos. – Mas você já tem 23 anos, deve tomar suas próprias decisões, mesmo que isso signifique quebrar a cara.

Abro a boca incrédulo, e ela ri. Luciana às vezes era muito direta, mesmo que eu apreciasse, era algo que doía.

— A Mariana entrou nesse relacionamento sabendo que você era um homem ocupado – ela suspira e passa a mão na nuca, como sempre fazia quando ia falar algo difícil. – Não acho que essa mudança seja por conta do seu trabalho.

— Mas... Eu... – gaguejo com suas insinuações. Queria defender a Mariana, mas meu subconsciente também tinha as mesmas desconfianças que Luciana. – E agora?

Luciana me olha sem expressão facial. Sabia que ela devia estar surpresa por eu não defender minha namorada, como sempre fazia. Geralmente, agia como um leão superprotetor.

— Acho que você deveria ir visitá-la – ela sorri de lado e segura minha mão. – Faça uma surpresa, sem ligações. Leve um bom vinho e alguma comida de um restaurante que vocês gostam. Caso seja apenas uma desconfiança boba, pelo menos aproveitem uma noite juntos.