A sala de treinos é um dos meus lugares preferidos da academia. Estou a ser irónico. Deve ser um espaço muito interessante para quem tem um poder que se reflete no espaço envolvente, por outras palavras, que seja visível a olho nu. Não é o meu caso. Quando pratico ninguém observa a magia no ar, apesar de, por vezes, sentirem uma comichãozinha na cabeça, coisa que não é muito comum. Ainda bem.
Estava a treinar com a A, quando o Diretor decidiu aparecer e interromper o nosso treino para pedir a atenção de toda a nossa equipa- a divisão 1.
-Aconteceu alguma coisa, Diretor? – Perguntou a A, ao mesmo tempo que segurava no ar, apenas utilizando o seu poder mental, uma mesa.
Eu já sabia a resposta, mas fiquei calado, para dar a oportunidade ao Diretor de contar o motivo da sua presença. Deve ser um pouco aborrecido ter sempre alguém pronto a quebrar o mistério dos nossos pensamentos.
-Divisão 1, como sabem, perdemos inesperadamente um elemento da divisão 7, o elemento Z- 354 e precisámos de um substituto o mais rápido possível. Esse substituto chegou hoje. Exijo a vossa presença na sala de refeições o mais rapidamente possível para lhe dar as boas vindas.
O Diretor era um homem bastante novo fisicamente, mas com uma mentalidade de 1500 anos, tudo graças ao seu dom ser a imortalidade.
-Com certeza, Diretor. – Respondeu a A, chefe da nossa equipa.
-Até já. – Afastou-se energeticamente, como se já não tivesse vivido milhares de anos.
-Devíamos ir vestir os uniformes, não? – Questionei, após ler a mente da chefe. Sorri e pisquei-lhe o olho.
-Mas que bela ideia, B. – Picou o C, provavelmente com ciúmes de eu conseguir ler as mentes das raparigas e saber o que elas querem. Mal ele sabe que a mente das raparigas é um lugar amaldiçoado por períodos, tpms e brigas.
-Eu sei. – Desviei-me das mãos deste, segundos antes de ele me dar um choque elétrico. – Ei, mete as luvas. - Bufei, enervado.
Dirigi-me para o meu quarto na torre direita do palácio, o local onde ficavam os dormitórios da divisão 1, e removi do meu armário um dos tantos uniformes iguaizinhos que tinha: camisola de lã vermelha, cor da nossa divisão, um casaco de cabedal com o símbolo da academia- a pinha, calças de ganga pretas, um cachecol preto e com pinhas vermelhas e umas botas pretas.
Olhei-me ao espelho só para confirmar que estava apresentável, antes de ouvir umas batedelas na porta do meu quarto. O meu quarto é um espaço agradável. Tem janelas grandes que dão para ver outro quarto da torre oposta, onde se situam os quartos da divisão 7. É nesse quarto que costuma ficar o elemento Z. Espreito ligeiramente para ver se o substituto já se está a acomodar ou não.
-Oi, posso entrar? – A D espreitou através da madeira, antes de empurrar a porta. – Posso. – Respondeu a rir-se.
A D tem o cabelo mais ruivo que possam imaginar e sardas pequenas a cobrir-lhe o rosto. Já está com o uniforme vestido e traz na boca uma pastilha de morango.
-Estavas aí há muito tempo?- Questionei, franzindo as sobrancelhas.
Fecho a porta do armário onde está o espelho e reparo que as cortinas do quarto da outra torre já estão corridas. Bastou desviar os olhos dez segundos para aquilo acontecer.
-A ver-te nu através da porta?- Sentou-se na cama e recostou-se para trás. Apertou junto ao peito uma das minhas almofadas e fechou lentamente os olhos, posteriormente bocejou.