Cartas sem destino

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Oi, quem estiver aí a ler, saiba que está tudo bem.

Ainda tenho velhos conhecidos ao meu lado, minha caneta e papel sempre vieram a me acompanhar, mas acho que não sou bom para eles, e muita pressão e sentimentos a se descarregar sobre um pequeno caderno empilhado em um monte de iguais, e uma enchente de irá, dor, choros e sentimentos despejados em minha escrivaninha, meus pequenos barcos de papel não vão aguentar mesmo fortificados com frases do eu do passado, frases de uma criança, memórias tão distantes, dias que antes eram constantes, hoje se tornam história do meu museu pessoal.

Meus dias de andarilhos de esquina, joelhos ralados e beijos de boa noite, tudo ficou e não volta mais, antes eu me via descalço na grama quente de verão, hoje nesse inverno, me vejo agasalhado, com o velho moletom que ganhei, chorando pelas memórias que não terei mais e pelas perdas, e nesse tempo frio, ainda vejo minha pele quente, querendo se esfriar, querendo se igualar ao frio que tenho por dentro.

Saio de minhas quatro paredes e fico a observa as estrelas, esperando que elas levem essas cartas, não sei para aonde, mas seu destinatário está a esperar, cartas confiadas a mim, escritor, escrivão, um homem de caneta na mão, um autônomo de alto memórias que se vem distantes, elas foram deixadas por alguém, por um remetente que desconheço, mas sinto presente ao escrever, quero que elas logo alcancem o céu, a lua, a vida ou quem sabe a morte, quero saber que carteiro pode as entrega no além, quero velas chegar nas mãos de deuses, ou espaços vazios, quero que as leiam, quero que sinta esses sentimentos, essas cores desfalcadas na papel em branco, esse tinta borrada de noites mal dormidas, quero que possam ver que minhas mãos cheias de tintas se sujaram com minha lágrimas, quero que essa cartas sem destino alcance meu passado para alertá-lo, meu futuro para confirma-se de sua existência, ou talvez meu presente.

Talvez todas essas histórias sem fim, contos de terror e poemas de amores mal feitas sejam minha forma de me alcança, ter um diálogo com o destinatário por meio de um remetente desconhecido.

PS: ele ainda está em busca de um paraíso.

Cartas sem destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora