Ao entrar no carro de Paola ela me explica toda à bagunça que tinha ocorrido no interior do hospital, meus olhos enchem de lágrimas ao ouvir que Beth está morta, e ao mesmo tempo meu corpo se arrepia e repugna ao ouvir a atrocidade que foi feita com minha conhecida. Não é questão de proximidade ou amizade, mas quando alguém que você conhece morre, um choque instantâneo te atinge.
A médica me diz que está indo separar umas malas e trazer os pais de carro no seu apartamento, peço para ela me deixar próximo de casa e marcamos de nos encontrar na Praça do Orvalho, bem no centro da cidade, a uns 6 quarteirões do hospital e próximo de nossas casas.
Ao descer a rua ainda está escura e calma, como se não estivesse acontecendo o caos a pouca distancia dali. Resolvo ligar para Benjamin, meu amigo desde o 2° ano do ensino médio, sempre me defendeu e me ajudou com todos os meus problemas, principalmente os existenciais, apesar dele mesmo ter seus demônios para enfrentar. Bom, ele era o único com quem ainda me importava.
Demora uma eternidade para que ele atenda, e quando o celular para de chamar, a voz rouca de sono do meu amigo soa no meu ouvido
- Alô, Nick? Tá tudo bem, cara?
- Benjamin, que bom que atendeu. Estou em estado de choque, Beth acabou de morrer, a cidade está uma loucura, precisamos fugir. Me encontre em 15 minutos na minha casa.
Desato a falar descontroladamente e Benjamin tenta argumentar, mas eu só digo que explicarei tudo quando estivermos juntos, mando ele fazer uma mala de viagem e desligo antes mesmo de me despedir.
Por volta das 5 horas já tomei banho e separei alguns mantimentos, nada muito grande ou pesado, roupas e calçados já estão na minha mochila quando meu amigo bate na porta.
Abro e ele entra com cara de sono e confusão. Senta na minha cama e ele começa a me questionar.
- O que ouve Nícolas? Como assim Beth está morta?
- Houve um incidente no hospital, eu não sei bem o que aconteceu mas uma garota aparentemente morta matou a Beth, isso soa estranho eu sei. Mas fiz amizade com uma médica e ela afirmou que precisamos fugir antes que seja tarde.
Ele me olha com cara de dúvida, e sei que pensa que endoidei. Mas mesmo assim afirmo
- Não sou louco Benjamin!! É verdade, eu estava lá. Por favor, vamos comigo Benji.
Mesmo sem acreditar muito ele afirma, saímos e encontramos Paola na praça ás 6 horas em ponto. Ela está desesperada pois os pais não atendem e pelo rádio jornalistas já começam a comentar sobre o surto no centro da cidade
" Cerca de 20 mortes já estão confirmadas por um surto ocorrido dentro da instituição de saúde pública da cidade, parece que pessoas com aspectos estranhos e atitudes agressivas estão saindo andado pelas ruas da capital. A policia tenta nesse momento evacuar a área e remediar a situação. Por outro lado as autoridades públicas e o próprio prefeito Diego Vásquez não respondem as tentativas de contato feita por nós jornalistas!"
Eu bufo já dentro do carro, a caminho da casa dos pais de Paola, é típico do meu pai sumir nas situações a diversas. Uma pessoa movida pelo poder e dinheiro sempre dá o jeito de não levar nenhuma culpa. Resolvo ligar para ele, só para ver se ao seu filho ele atende, não que eu seja especial ou importante.
Em poucos toques ele me atende, um barulho forte de ventania no fundo.
- Oi Nícolas, onde você tá? vem já pro prédio da prefeitura, estamos indo embora daqui.
- O quê? Você tá fugindo?
- Não comece Nícolas, se não for vir, não enche. Já estou fazendo muito te oferecer, já que você não merecia mesmo.
- Eu não vou com você nunca, você beira o cúmulo da ignorância.
Naquele momento um grande chiado saiu da ligação. Ouvi a voz do meu pai mais fina que de costume
- Socorro!! Subam logo!!
Parece que está pendurado em alguma parte do helicóptero, pergunto por ele várias vezes mas o barulho permanece. Até que ouço um grande estrondo, um grito alto que deixa meus ouvidos zumbindo. Logo após o silencio e grunhidos, não sei como, mas naquele momento sei que ele se foi.
Minutos mais tarde a noticia é confirmada pelo rádio e ainda estou chocado. Paola me olha com cara de piedade e me deseja os pêsames. Explico a situação de convívio que tinha com o meu pai. E não sei se a resposta dela me conforta ou não.
- Independente de brigas e desentendimentos, ele era seu pai.

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Cartas para Um Morto Vivo
Paranormal"- A névoa densa e grandes nuvens de tempestade se formavam naquela cidade, na verdade cidade, civilização ou qualquer nome não era adequado a aquele lugar. Só haviam restos, restos de vidas e pessoas que foram consumidas pelo vírus, consumidos pela...