I

15 1 2
                                    

HEATING, cinco anos após a Grande Praga


 "ótimo Ellara, muito bem, atrasada novamente" pensei enquanto me levantava às pressas da cama. Na tentativa de me desvencilhar dos lençóis, acabei falhando miseravelmente e um de meus pés acabou ficando preso, me fazendo cair sentada no chão frio do meu quarto. Olhei em volta pra ter certeza que estava sozinha, Elowin tinha uma mania horrível de entrar sorrateiramente em meu quarto para pegar alguma coisa. O quarto já estava iluminado pelo sol que entrava pela brecha na cortina fina, o que me fez perceber que já estava bastante encrencada e ficaria ainda mais se não corresse. Se o susto não tinha me acordado, o frio do chão e uma dor no traseiro fizeram esse trabalho muito bem.

Aproveitando que estava praticamente sentada, saí engatinhando pelo quarto em direção ao meu guarda-roupa, enquanto tentava acordar de verdade e me preparar para mais um dia. Me apoiando na pequena penteadeira, comecei a pentear a zona que estava meu cabelo e a tentar lembrar exatamente onde estavam minhas roupas. Mesmo após dois anos nessa rotina, não conseguia chegar um dia sequer no horário. Sempre que conseguíamos um tempo a sós, eu tentava convencer meu pai a mudar o horário dessas reuniões matinais, por um motivo egoísta, eu sei, mas bastante necessário; não sou ninguém sem meu sono matinal.

Levantando completamente do chão e com esses pensamentos em mente, comecei a busca pelas roupas adequadas para o momento, que, como sempre, minha mae havia separado um dia antes, mas que eu nunca achava no dia seguinte. Tomei um banho rápido, peguei as roupas que estavam muito bem dobradas em cima de uma cadeira, próxima a janela. Me vestindo com a mesma pressa do banho, prendi meus cabelos num coque elaborado e sai do meu quarto esperando e pedindo aos deuses para não ser vista por ninguém. Seria um grande problema se me encontrassem a essa hora ainda no quarto.

Caminhando rapidamente pelo longo corredor até onde ficava o grande salão, contei, como já era de costume, as armaduras distribuídas ao longo do corredor. Distraída com a contagem, acabei esbarrando acidentalmente numa delas, o que gerou um enorme estrondo quando as peças de metal bateram no chão. Sempre que podia, eu tentava jogar uma delas fora, sempre as achei horríveis, não realçavam em nada as pinturas que tinham ao redor, pareciam que estavam perdidas entres os enormes quadros de centauros, ninfas e fadas ou deslocadas entres os delicados campos de lírios e jasmim.

Dobrando uma das muitas esquinas do castelo e já quase chegando no salão, dei de cara com as costas do meu pai, que parecia muito entretido conversando com o sacerdote Black, um velho ranzinza com as orelhas mais cabeludas e uma barba tão grande e malcuidada que um ninho de ratos fazia residência fixa lá, tinha plena certeza. Tentando dar meia voltar o mais silenciosamente possível, acabei, como sempre, esbarrando numa das malditas armadura. Meu pai virou-se imediatamente ao ouvir o barulho e me deu um olhar tão reprovador que faria até mesmo uma quimera tremer de medo.

- Com sua licença sacerdote. – Ele pediu enquanto se afastava - Você poderia ter um pouco mais de respeito por nosso compromisso Ellara - disse enquanto caminhava em minha direção

- Bom dia meu querido, maravilhoso e grande pai – eu disse enquanto beijava carinhosamente sua bochecha – sabe pai, o senhor está magnifico hoje sabia? Andou usando alguma loção nova? Esta até mais novo – falei já enganchando meu braço ao seu e usando de minha melhor ferramenta, a bajulação.

- Não adianta, eu não vou liberar você novamente, sabe que os ministros contam com a sua presença nas reuniões e logo você assumira o meu posto, o que quer dizer, mais responsabilidades – meu pai falou dando uma batidinha gentil nas costas das minhas mãos

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jan 23, 2020 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

A DESOLAÇÃO DE ASTARATHWhere stories live. Discover now