Heitor gosta de Murilo

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- Me diz de novo, por que eu vim?

- Pra se divertir. Deixa de ser chato.

Murilo rolou os olhos. A sala de Pedro era uma parafernália de luzes, som alto, gente dançando e tentando falar mais alto que a música. Em resumo: tudo que Murilo odiava.

- Vou pegar refri pra ti, tá? - gritou Ângelo. Murilo assentiu sem muito ânimo e observou o amigo se afastar entre a multidão de adolescentes.

Se encostou na parede e passou a mão pelos cabelos negros. Queria pelo menos um espelho pra saber se não estava rídiculo ou desarrumado, mas procurar o banheiro significava se meter no meio daquela gente e ainda ter que ver porta por porta, além de claro, esperar que estivesse vago - o que provavelmente não estava.

Ele olhou ao redor. Nos tons de azul, vermelho e roxo da festa, não conseguia identificar bem muita gente. Maioria era de sua classe, verdade, mas eram lapsos tão rápidos em meio a luz piscante que quando achava alguém, o rosto sumia de novo entre tantos outros. 

Ele cruzou os braços e bufou, esperando Ângelo voltar. Ia embora com ele. Estava preso ali pelas próximas duas horas. Que noite incrível...

Do outro lado da sala, Heitor estava cercado de pessoas num círculo. Amigos tirando onda, meninas tentando flertar e seu melhor amigo, Thomás. Apesar da companhia, seus olhos azuis não paravam de correr pela sala, buscando o rosto do menino mais lindo da turma...

- Atrás da Patrícia? - gritou Thomás, cobrindo a boca com a mão livre. A outra segurava um copo de cerveja. Heitor negou com a cabeça distraidamente, ainda concetrado em buscar Murilo. - Da Ágata então? - perguntou Thomás mais uma vez. 

Heitor se virou pra ele.

- Vai falar todas as meninas afim de mim?

Thomás bebeu um gole e suprimiu um riso.

- Nah, ia durar a noite nota.

Heitor balançou a cabeça em negação e voltou a olhar. Pôde ver numa brecha rápida. Arregalou os olhos. Lá estava.

Encostado na parede, braços cruzados e a cara emburrada de sempre. Jaqueta jeans preta e camisa também preta, calças escuras e um par de botas. Mesmo assim não parecia gótico, tinha aquela aura estilosa de modelo. E fisicamente também parecia um, aliás. "Nossa, eu tenho que parar de prestar atenção em tantos detalhes" pensou Heitor.

Ele pediu licença tão baixo que ninguém ouviu e saiu pelo meio do povo, buscando chegar do outro lado da sala sem derrubar a cerveja do seu copo. Foi difícil, mas finalmente parou ao lado de Murilo. Se xingou mentalmente por não ter se ajeitado antes. Devia estar com o cabelo assanhado e suor na cara.

- Oi.

Murilo se virou pra ele.

- Oi Heitor.

Heitor sorriu sem jeito. Murilo continuou indiferente de braços cruzados. Heitor pensou em como parecia simples perto dele, só vestia uma camisa polo e calças jeans normais. Murilo tinha pose de modelo, e guarda roupa também.

- E aí, curtindo a festa?

Murilo normalmente teria dito "não", mas após muitas repreensões de Ângelo sobre uma possível, abre aspas, "falta de simpatia", ele estava se esforçando para ser mais "suave".

- Não gosto muito de festas. - disse dando ombros. Heitor assentiu e bebeu um gole. Percebeu que Murilo não bebia nada.

- Quer? Eu posso buscar pra você. - disse, erguendo o copo. Murilo negou com a cabeça e levantou a mão.

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