Na segunda de manhã, Heitor sentou ao lado de Murilo. Murilo deu uma olhada, continuou escrevendo na agenda e depois parou. Olhou de novo. Franziu o cenho.
"Bom dia!" disse Heitor com um enorme sorriso. Murilo continuou com o cenho franzido.
"Bom dia..."
"Tudo bem?"
"Tá perdido Heitor?"
Heitor levantou uma sobrancelha. Os alunos ao redor chegavam fazendo barulho, arrastando cadeiras e conversando antes da primeira aula. Murilo olhou pro outro lado da sala. Todos os amigos de Heitor estavam lá, então...
"Tá fazendo o que aqui?" disse olhando de volta pra Heitor, que parecia bem acomodado e à vontade.
"Não pode sentar aqui?"
"Claro. Só achei meio... Diferente."
Laís chegou e olhou pra Murilo, balançando a cabeça e os braços em silêncio pelas costas de Heitor. Estava claro que ela também estava confusa pela súbita mudança de lugares. Geralmente ela sentava perto de Murilo. Ele a olhou e balançou a cabeça em negação, indicando que também não fazia ideia do motivo.
"Sei lá, depois da nossa conversa na festa... Achei que a gente pode conversar mais. Você parece bem legal."
Murilo assente lentamente e Ricardo, o professor, entra.
A aula começa e discorre como qualquer outra. Meio monótona, meio divertida. Muitas anotações e rabiscos na borda do caderno. Heitor não conseguia evitar. Seus olhos corriam pra Murilo toda hora. Os cabelos negros ondulados, a pele parda, os lábios rubros, os olhos castanhos concentrados no papel e a barreira invisível que Heitor pusera entre os dois desde muito cedo.
Ele sempre tivera a sensação que Murilo era inalcançável, algo muito além, e todo aquele ar de impossibilidade estava ao seu redor, como se fosse bom demais para ser conquistado. Ao mesmo tempo, Murilo parecia tão acessível. Ele sempre respondia quando Heitor lhe falava algo, conversara na festa e agora estava ali, ao seu lado, na sala de aula, literalmente centímetros de distância. Então se estava tão próximo, por que tão distante?
"Não vai anotar as coisas não, Heitor?"
Heitor piscou os olhos.
"Como?"
Murilo olhou pro caderno de Heitor e depois pro próprio, as sobrancelhas subindo e descendo.
"O professor vai apagar o quadro e tu mal escreveu."
Heitor piscou os olhos mais uma vez e um sorrisinho sem jeito surgiu no canto de seus lábios finos.
"Depois eu pego do Thomás."
Murilo olhou pra Thomás, que conversava com os colegas jogadores de futsal e estourava bolas de chiclete.
"Não sei se ele tá copiando não ein."
Heitor o olhou e voltou a olhar Murilo.
"Então posso pegar de ti?"
Murilo deu de ombros e voltou a escrever.
"Pode ser."
Heitor sorriu e até tentou anotar algo, mas Murilo ficava tão lindo concentrado...
♡
No intervalo, Heitor foi jogar bola com seus chapas. Murilo comia um sanduíche com sua amiga Laís num dos bancos da escola, próximo à quadra aberta. Ele não entendia muito bem a paixão daqueles garotos por uma bola. Jogar debaixo dum sol tinindo, num concreto queimando, se esbarrando num bocado de machos suados e sujos, gritando e se xingando...
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talvez eu goste de você
RomanceHeitor é o capitão do time de futsal do colégio, tem notas relativamente boas e é o mais próximo do conceito de sucesso e popularidade que se pode ter no Ensino Médio. E mais um detalhe, algo que esconde há anos: o crush secreto por outro menino, se...