CAPÍTULO 1 - ILUSTRE VISITA

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   Olha para a fachada nas cores verde escuro e areia do prédio de dois andar, com orgulho de saber que é meu. O lugar que eu comprei e construir minha lanchonete/ restaurante. Anos atrás eu nunca imaginei que pudesse ter um lugar tão bonito e meu assim e só foi possível porque sonhei e realizei com minha família.

    Todos os dias antes de entrar no lugar eu o admiro. É o meu império, pequeno e simples, mas meu. É uma espécie de renascimento para mim. Quando Antônio, o bendito do pai da Belly, morreu e nos afundou em tantas dívidas, em tantas coisas ruins que chegou a quase me sufocar. Em vários momentos pensei que nunca sairia do fundo do poço, entretanto eu tinha filhos completamente dependentes de mim. Filhos que não tinha mais ninguém. Eu não poderia me dá o luxo de desistir e não me arrependo de ter continuado. Tenho excelentes filhos que não deixam lugar para arrependimento.

     Quando eu era adolescente imaginei que aos quarenta estaria casada com filhos e muito bem sucedida. Conseguir duas dessas coisas até que não foi uma previsão tão ruim assim.

    Respiro fundo antes de juntar todo o meu cabelo com as mãos, enrolar e prende-lo no alto da cabeça com um elástico. Em pouco tempo estarei sexy com uma touca, um avental e bastante suor. Entro pela porta da frente e não demora para eu ouvir o barulho do sininho que fica a cima da porta sempre a posto para anunciar que alguém chegou.
    
— Bom dia meninas — cumprimento Anna e Lúcia, minhas funcionárias, com um largo sorriso. Já estou treinando para atender os clientes enquanto finjo que alguém é feliz em trabalhar no sábado pela manhã e de ressaca.

— Bom dia, Amélia — dizem em uníssono — A senhora parece animada hoje... — Lúcia completa.

— Só pareço — corto-a — e com você me chamando de senhora vou parecer bem menos — completo colocando minha bolsa no balcão.

— Tá, legal então — responde debochada.

    Lúcia é uma fofoqueira, sei que me viu sair ontem com um homem e estar insinuando que transei. O que infelizmente não é verdade. O cara era só um motorista de aplicativo e estava me ajudando com umas sacolas enquanto a sortuda aliança brilhava cegando meu tesão. Gato casado para mim é castrado.

     Eu até bebi ontem, mas foi sozinha em casa vendo um filme e comendo pizza. Às vezes gosto de fazer isso, agora que eu posso.

— Anna comprou as coisas que faltavam? — Pergunto entrando no meu papel mais profissional.

— Sim, estão na cozinha, só preciso saber  quais flores coloco na mesa? — indaga enquanto continua a tarefa de arrumar as mesas para mais um dia de trabalho.

      Anna é a funcionária mais eficiente que já tive. Está comigo desde a época que eu cozinhava na minha cozinha de casa com minhas crias como ajudantes. Se não fosse por ela não teríamos crescido tanto. É uma excelente moça, o único defeito é que trabalha demais e esquece do resto da vida. Já vi esse filme antes com minha filha Belly, porém vou conter, por enquanto, meus dedos de mexerem os pauzinhos e mostrar que há muita coisa bacana por aí.

— Qualquer uma que combine com essa toalha horroroso. — faço uma careta — Pensei que tivesse dito para doar ou queimar isso.

— Desculpa, não sabia. Eu que escolhi — Lúcia diz e não me parece arrependida.  

     Lúcia tem quase um mês de trabalho ainda tem muito o que aprender, só tenho a sensação que não chegará a dois meses. É preguiçosa e insubordinada. Parece de outro planeta. Costuma levar tudo ao pé da letra e pessoas assim não duram muito comigo.

— Não que isso deixe a toalha mais bonita, mas a regra é clara cada dia uma escolhe, então que seja. — pego umas cadeiras que estavam no canto e começo a posiciona-as a mesas. — O que temos para hoje?

Mamãe Vai... Casar?Onde histórias criam vida. Descubra agora