Presa por ela

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" 3 horas da manhã. A rua completamente deserta. Apenas o som dos meus saltos batendo contra asfalto duro, quebrava o silêncio daquela madrugada fria.

Eu já havia terminado meu expediente da noite. Minhas colegas de ponto já haviam ido para suas respectivas casas. Algumas ainda estavam com seus clientes e, outras confortavelmente em suas casas, ou até mesmo em algum beco por ai.

Há quem diga que nós escolhemos essa vida. Que estamos nela porque queremos. Mas a realidade é totalmente diferente de que muitos pensam. Eu e minhas meninas temos histórias, não estamos aqui por escolha. Estamos aqui porque essa foi a única opção que nos restou. Algumas tem filhos, outras mães doentes para cuidar, todas nós precisamos de um teto e de alimento. E dentre muitas outras oportunidades, todas nos foram negas.

E digo mais, não é fácil ser prostituta. Estamos expostas a muitas situações que comprometem nossa integridade, colocam nossas vidas em risco, de diversas maneiras. A Carla mesmo, uma colega minha, foi vítima de estrupo, por um drogado que não quis nem pagar pela noite. Ela ficou abalada por semanas. Foi muito difícil para ela, e ainda está sendo, voltar para as ruas. Mas ela precisa do dinheiro que ganha para pagar o tratamento de sua mãe.

Então, sempre que alguém me diz que estou nessa vida porque quero, tenho vontade de esfregar a cara da pessoa em todos os chãos sujos que já fui obrigada a me deitar, jogar todas as histórias e sufoco que já passei para chegar até aqui e muitas outras coisas.  Mas apenas sorrio fraco e saio de perto. Ultimamente descobri que o silêncio é minha melhor arma.

O vento frio teima em entrar pelas brechas do meu sobretudo preto. Ando abraçada ao meu corpo na tentativa falha de aumentar a temperatura. Mesmo trabalhando há anos como prostituta, eu ainda não estou acostumada a andar sozinha na noite. Principalmente, por ser mulher, e viver numa sociedade completamente machista e maldosa.

Internamente, torço para que, milagrosamente, a distancia em que estou do meu apartamento diminua. Todos esses becos escuros pelo caminho, guardam historias sombrias e angustiantes. Tento apagar da minha mente lembranças ruins que teimam em surgir como flash.

Assim que me aproximo da próxima esquina, um carro preto, rebaixado, com os faros altos se aproxima de onde estou. Tento manter a calma, mas a luz que me cega acaba atrapalhando todo meu plano. 

O carro parou a alguns poucos metros de distancia de onde eu estava. Pensei em recuar e fazer o caminho todo de volta e, fugir do possível psicopata que estava à minha frente. Mas meu lado aventureira e curioso não permitiu tal feito. Então, continuei caminhando como se aquele carro não existisse e fosse apenas invenção da minha mente fértil.

Estava tudo dando certo. Só mais dois passos e eu estaria a uma distancia segura do bendito carro. Mas como, ultimamente, o destino não anda conspirando ao meu favor. Assim que cheguei ao lado da porta do motorista, a janela se abriu. E, para minha surpresa, não havia nenhum maníaco de meia idade. Pelo contrário, era uma mulher linda, de cabelos longos, pele bronzeada e usava um óculos escuro no topo da cabeça. Posso parecer louca agora, mas tenho quase certeza de que já vi essa mulher por aqui antes, certeza. Mas o que uma mulher como ela faz, sozinha, na madrugada, numa rua estranha, de um bairro de baixo nível como esse?

-Ainda está livre, querida?

O QUE?? Como assim? Por que ela está me perguntando isso? De onde ela me conhece? Como ela sabe o que sou? O que faço? E outra, quem era essa mulher? 

-Não entendi sua pergunta?

-Não fui clara?- respondeu num tom arrogante.- Quero saber se você ainda está livre, ou não trabalha mais hoje?

-Livre? Como assim livre?- me fiz de sonsa.

-Não teste minha paciência, gata!- disse retirando seus olhos escuros.- Deixe-me ser direta. Estou disposta a lhe pagar mil dólares por apenas duas horas. É só o que eu preciso.

a garota da noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora