UM ANO E MEIO DEPOIS
Jogaram-na do topo da pirâmide, e meu corpo estremeceu. Eu sempre morri de aflição de assistir o ensaio das líderes de torcida, ainda mais quando as coreografias eram novas e complexas como aquela do momento.
Por outro lado, a garota não me pareceu assustada – claro, com seis meninos fortes com os braços esticados numa "rede humana", prontos para te pega de sua queda, é difícil ter medo. Ela jogava-se de bom grado, esticando os braços para cima e deixando que seu corpo caísse em queda-livre. Sorrindo, sempre sorrindo. Mesmo com a música alta, sua risada ecoou pela quadra e me atingiu em cheio, deixando um sorriso ligeiramente bobo em meu rosto. Como eu amava aquela risada.
Após algumas piruetas e manobras não tão arriscadas – mas que, ainda sim, poderiam quebrar alguns pescoços –, a dança foi finalizada à perfeição. A capitã do time – a menina de cabelos longos e loiros presos num rabo de cavalo, que se jogava do topo da pirâmide sem medo algum – deu os parabéns à equipe, elogiou-os, cobrou alguns exercícios de certos participantes e os dispensou, erguendo consigo uma salva de palmas e um grito de guerra. Seu sorriso era brilhante e extremamente aberto, rasgando seu rosto de ponta a ponta.
Levantei-me da arquibancada, mas não saí do lugar. Esperei que ela acabasse de falar com dois meninos, depois com mais cinco garotas mais novas, e ficasse sozinha enquanto guardava os pompons. Uma a uma, as garotas de saia e cropped com as cores vermelho, preto e branco – as cores dos Underdogs – dispensaram a si mesmas para os chuveiros. Os meninos ainda ficaram por mais um curto período de tempo, ajudando a recolher os materiais jogados pelo chão, antes de também serem dispensados para tomarem banho. Quando o último menino adentrou o vestiário, senti que era minha deixa. Comecei a caminhar devagar arquibancada abaixo. Mesmo sem olhar para mim, Margaret Carter sabia que eu ia a seu encontro.
"Resolveu aparecer?" Perguntou-me, ainda ocupada dobrando a faixa branca com os dizeres Vão Underdogs gravados em vermelho e preto. Sorri, passando pela portinhola que dividia arquibancadas e quadra.
"Faz um tempo que não vejo um ensaio, resolvi parar para dar uma espiada..."
"Você tem a noção de que os ensaios são secretos, não tem?" E ela finalmente olhou para mim. Seus belos olhos castanhos pareciam sérios, levemente acusatórios. Franzi os lábios.
"Opa, capitã. Parece que você vai se meter em encrenca." brinquei, arrancando-lhe um pequeno sorriso. Ela deixou a faixa dobrada sobre os materiais num carrinho e colocou as mãos na cintura, jogando o peso para o pé esquerdo. Seu sorriso era cínico.
"Você é impossível, M.J." disse ela enquanto eu me colocava à sua frente, passando meus braços por seu pescoço e sorrindo para ela. De perto, era possível ver que ela era menor que eu, e eu tinha que baixar minha cabeça levemente para olhar em seus olhos. Suas mãos subiram para minha cintura e me puxaram para mais perto. Seus dedos polegares pareciam testar meu moletom, e eu ficara levemente arrepiada com seu gesto. "Já disse que essa roupa fica incrível em você?" Perguntou, subindo suas mãos pela extensão de minha cintura, depois descendo-as novamente.
"Já disse que você está toda suada e levemente malcheirosa?" Brinquei, e ela riu, desmanchando sua pose de pegadora. Ri junto. Na verdade, ela ainda cheirava a desodorante e limão, mesmo que levemente úmida de suor.
Então, Maggie me colou a seu corpo e me beijou. Senti meu peito esquentar, e levei minhas mãos à sua nuca após um leve momento de hesitação. Desmanchei o rabo de cavalo perfeito ao agarrar seus cabelos de leve, puxando-a para mais perto ainda.
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Your Favorite Cliche
Short StoryMary Juliet se sentia em um clichê adolescente péssimo toda vez que seu coração disparava ao avistar Margaret Carter; é claro que ela tinha uma queda pela líder de torcida popular, assim como boa parte da população do colégio, e é claro que ela era...