capítulo único sobre uma história de amor única

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Eu não me lembro exatamente como a gente se conheceu.
Não sei a hora, nem como o dia tava lá fora, mas eu sei que as coisas mudaram a partir do momento em que você passou por aquela porta e disse "Oi. Sou a Carol".

Eu estava cansada de mais um-dia-quase-falido de trabalho e olhar pra você naquele momento me fez respirar fundo e sentir que algo poderia, finalmente, mudar na minha rotina INSUPORTÁVEL.

Okay, não quero parecer uma maníaca, mas você me fez suspirar no primeiro segundo em que trocamos olhares.

Eu me lembro de sentir seu cheiro quando você se sentou ao meu lado na sala dos professores.
Era uma essência de limão (que por sorte eu pude sentir de perto muitas vezes) que me hipnotizava todas as manhãs.

Sinto falta do seu cheiro.

Nós não tínhamos nada a ver, se você parar pra pensar.

Eu era professora de inglês, você era professora de música. Eu mal sabia socializar e você vivia rodeada de gente. Eu sequer me arriscava a cozinhar, já você... ah voce fazia questão de fazer nosso café da manhã todo santo dia.

Quando eu fecho os olhos, eu consigo sentir o seu abraço esmagador, sinto seu cheiro, sinto suas mãos curiosas tocando a minha cintura, sinto tudo isso junto. De uma vez só. Mas como se fosse um golpe certeiro, quando eu abro os olhos, você não está mais aqui.

Sinto falta do seu toque.

Uma coisa que eu não consigo apagar da memória é o dia que você chegou no carro de outra pessoa.
Eu estava pegando meu cartão para passar pela catraca do colégio quando ouvi você dizendo "Tchau" para alguém no carro e me cumprimentando rapidamente na portaria.

Depois dali, você não apareceu na sala dos professores, nem no refeitório, nem no pátio, nem no banheiro.
Onde você poderia estar, Caroline?
Eu te procurei por mais de uma hora e, depois de muito esforço, encontrei você na sala de música.
Você estava tocando piano enquanto chorava molhando as teclas de marfim e as partituras da estante ao seu lado.

Ver a sua dor, me causou dor, Carol.

Olhar para você, da porta da sala, tocando sua música com tanto sentimento e... pesar, mexeu comigo.

Não sei ao certo quando me aproximei de você e pus minhas mãos em seu ombro esquerdo, mas sei que o seu susto foi tão grande que eu me senti culpada no segundo seguinte.

Você olhou dentro dos meus olhos e fez algo inesperado. Me deu um abraço apertado.

Chorou baixinho no meu casaco e sussurrou um "Obrigada, Day".

Eu me arrepiei toda. Perdi todas as minhas resistências. Porque você, simplesmente, tinha esse poder, Caroline. O poder de quebrar as barreiras mais altas do meu coração. 

Sinto falta do seu abraço inesperado.

Depois de você me contar que a pessoa que te levou no colégio era seu pai e ele não aceitava muito bem a sua orientação sexual, eu pude perceber que você se sentia sozinha e então eu me abri com você.
Nos primeiros meses, nós tivemos uma amizade memorável, você se lembra?
A gente vivia dormindo uma na casa da outra e até cópia a chave a gente tinha.
E quando chovia, eu ia até a sua casa pra gente olhar a chuva e se consolar antes que a luz acabasse.

Sinto falta do que a gente sabia fazer com os dias chuvosos.

Lembro perfeitamente da vez que seu pai te confrontou e mesmo a gente não tendo nada, eu dei a mão para você e disse na frente dele que nós estávamos juntas, lembro de te beijar de forma rápida só pra provar que éramos um casal (e a gente era mesmo, só não sabíamos disso)... Eu lembro de tudo.

Miss you, Carol (One Shot)Onde histórias criam vida. Descubra agora