Capítulo 1

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Alguns dias pareciam ser mais fáceis do que os outros na vida da Lucas. É claro que, provavelmente isso deva acontecer na vida de todas as pessoas, mas na vida de Lucas.. Parecia que alguns dias simplesmente não eram pra ser.

Como naquela segunda-feira.



Há duas semanas, desde que seu gestor havia alterado seu horário de trabalho, Lucas vinha tentando adaptar suas horas de sono com o caminho até a empresa no trânsito caótico do Rio de Janeiro.Naquela segunda-feira, por exemplo, o sono havia derrotado qualquer força de vontade que ele tinha de pegar uma condução mais cedo para que chegasse rápida e confortavelmente no centro da cidade. Ele acordou mais de quarenta minutos após o toque do despertador que toca pontualmente as 06:46 de todos os dias, tomou um banho e arrumou sua pasta. Tudo ao mesmo tempo e com a precisão e agilidade que apenas o desespero do atraso é capaz de proporcionar ao jovem atual.


Às 07:54 ele estava no ponto de ônibus mais próximo da sua casa, felizmente era um ponto fiscalizado e por isso os ônibus costumavam ficar de 3 a 7 minutos parados ali, o que ascendeu a esperança em Luke de que talvez encontrasse seu ônibus já parado no local.

O ônibus não estava lá.

A próxima condução deveria levar de 5 a 10 minutos pra passar, segundo a fiscal, e ele resolveu sentar enquanto esperava já que não havia nada que realmente pudesse fazer aquela altura.

Lucas não se considerava um observador, na realidade ele passava a maior parte do seu tempo com a cabeça baixa ou os olhos pregados no celular. Pouquíssimas eram as vezes em que ele se flagrava observando a rotina dos locais e pessoas que o cercavam diariamente, sua mente sempre estava cronometrando as próximas horas do dias pra ter certeza de que ele seria capaz de cumprir todas as suas metas diárias e manter sua rotina.

Mas em dias como esse, em que desde o início parecia fadado a quebrar todos os parâmetros e desnivelar a rotina milimetricamente planejada de seu dia ele acabava pensando e fazendo coisas fora do seu comum. Como, por exemplo, observar a janela do ônibus que havia acabado de parar em sua frente na qual uma garota havia encostando a testa e mantinha os olhos fechados enquanto cantava uma música com a cabeça meio inclinada pra baixo.

Era verdade que a um bom par de meses ele não tinha qualquer interesse em mulher alguma, e a uns bons anos a ideia de um relacionamento lhe parecia absurda, ainda assim ele era homem e perfeitamente capaz de identificar uma beleza extrema quando a mesma estivesse a sua frente.

E ali estava.

Os cabelos castanhos estavam presos em um coque alto, mas ele podia chutar que eram ondulados, ele não pode ver seus olhos mas enquanto cantava a mulher sorriu por apenas 2 segundos e ele jurou nunca ter visto um sorriso tão perfeito em seus 24 anos de vida. Ele se viu preso naquele rosto, as maçãs do rosto eram acentuadas e coradas, o nariz pequeno e arrebitado, as sobrancelhas sobrancelhas escuras e cheias, tudo naquela mulher parecia bonito e interessante aos olhos de Lucas, o que o fez suspirar.

De repente ela abriu os olhos e, como se premeditado pelo destino, olhou diretamente para onde Lucas estava. Seus olhos eram grandes e castanhos como ele tinha suposto brevemente, por alguns segundos eles estiverem sobre Lucas de forma superficial como se estivessem vendo através de um vidro. Como se não o visse.

Tão de repente quanto o viu ela direcionou seus olhos para algo em suas mãos e o ônibus em que ela estava deu partida, tão rápido quanto a notou, Lucas a viu sumir. Como água escorrendo entre os dedos.

E durante todo o trajeto até o trabalho ele lembrou do rosto daquela desconhecida, pelo resto daquele dia ele ainda pensava naquele sorriso e quando se deitou para dormir naquela noite ele simplesmente não conseguia entender porquê não esquecia o rosto daquela mulher.

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⏰ Última atualização: Oct 18, 2020 ⏰

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