Los Angeles, Califórnia.
A chuva caía fortemente pela noite, algo extremamente raro no verão se tratando de LA. A intensidade era tanta que rapidamente foi possível notar poças d'água se acumulando nos jardins das casas e ouvir os sons das gotas caindo fortemente sobre o teto. Parecia que algo completamente estranho e fora do comum aconteceria naquela noite.
Jake estava em seu quarto usando o computador, acompanhado de um carderno e canetas. Ele vestia uma calça de moletom cinza e uma camiseta azul de manga longa. Ele estava com um daqueles fones grandes e ouvia Prelude 12/21 do AFI. Bem ali sobre a mesa do computador ficava um retrato com uma foto de Jake com sua mãe, Maria. Ele ficou admirando a foto por um segundo. Ele desviou a atenção e olhou para a janela, que ficava bem ao lado. Ele notou a intensidade da chuva e levantou e fechou a persiana. Logo, voltou ao que estava fazendo.
Maria foi até o quarto de Jake e abriu a porta. Ela ficou ali parada por um momento e logo foi até ele.
– O jantar está pronto, querido. Eu fiz aquele mac'n'cheese do jeitinho que você gosta. - disse Maria, que ficou bem ao lado dele.
– Hummm, obrigado, mãe! Eu já estou indo. Só preciso terminar isso daqui antes. - disse Jake, que anotou algo no carderno.
– Lição de casa, querido?
– Sim. Matemática. Preciso entregar até amanhã.
– Eu nunca aprendi isso muito bem, mas você sempre foi muito bom em matemática, não é?
– É... Eu acho que sim, mãe.
– Sabe... Você não precisa dessa chatice de matemática. Sei que você gosta e que é bom nisso, mas não queira ficar fazendo cálculos a sua vida inteira.
– Okaay, entendi, mas de onde veio isso, mãe? Quer dizer, por que agora?
– Eu não sei, querido. Só... pegue leve nos números, ok? Eles são muito exatos. A vida não deveria ser tão... esperada.
– Obrigado por isso... eu acho.
– Não demora muito aí se não vai esfriar, ok querido? Vou estar te esperando.
– Tá bom, mãe. Já estou acabando.
– Bom garoto. Você sempre foi um bom garoto. Eu te amo por isso! - disse ela, que deu um beijo na testa dele.
– Eu também te amo, mãe. Espero que sempre saiba disso! - disse ele, que a deu um abraço.
– Eu sei, querido. Eu sei!
Maria foi em direção a janela e abriu a persiana. Ela ficou observando a chuva cair.
– “Posso escrever os versos mais tristes esta noite.” Pablo Neruda. Eu lembro quando você leu esse poema pra mim na 6ª série. Foi num dia de chuva como hoje. Foi lindo - disse ela, que seguia ali, parada.
– Foi sim, mãe. E muito muito obrigado por me lembrar desse dia incrível, mas agora eu preciso mesmo terminar aqui, está bem? - disse ele, enquanto escrevia algo.
– Tá bem, querido! Até logo!! - disse ela, que saiu e fechou a porta do quarto.Jake aumentou o volume da música logo depois que Maria saiu.
This is what I brought you, this you can keep.
This is what I brought you may forget me.
I promise to depart, just promise one thing,
Kiss my eyes and lay me to sleep.
This is what I brought you, this you can keep.
This is what I brought you, may forget me.
I promise you my heart, just promise to sing.
Kiss my eyes and lay me to sleep.
Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh
Kiss my eyes and lay me to sleep.
Jake terminou a pesquisa e deixou o caderno e as canetas em cima da cama. Ele tirou o fone e desligou o monitor do computador. Ele foi até a janela e fechou a persiana que Maria deixou aberta.
– Estou indo, mãe. - gritou ele. – Por favor, não esteja brava comigo. Desculpa pela demora. - ele riu.Jake saiu do quarto e deixou a porta aberta. Ele foi em direção ao corredor e logo chegou a cozinha.
– Pelo cheiro eu tenho certeza que está uma delícia. - disse ele, animado.
Jake percebeu que Maria não estava lá e ficou confuso. Ele viu uma garrafa de vinho vazia em cima da pia e uma taça quebrada no chão.
– Mãe!!!! Mãe!!!! Cadê você? - gritou ele, preocupado.Jake foi até o quarto de Maria e bateu na porta, que estava trancada. Ele gritou e gritou, mas ela não respondeu. Ele ficou nervoso e começou a chorar. Suas mãos tremiam e seus olhos estavam encharcados. Ele tomou distância e voltou correndo em direção a porta e a arrombou.
No momento em que Jake passou pela porta, seu corpo ficou paralizado e ele perplexo. Suas mãos e pernas trêmulas não respondiam mais e ele caiu no chão. Ali estava Maria. Ele encontrou quem procurava. Mas na verdade, ela já não estava mais ali. No meio de uma poça de sangue enorme que já tomava o quarto quase por completo, havia apenas um corpo sem vida. O corpo de Maria. E bem ao lado, uma arma, que fazia jus a abertura na testa.
Jake aos prantos, se aproximou e ficou por um tempo enorme ajoelhado bem diante do corpo sem vida de sua mãe. Tudo que ele desejou naquele momento foi que tudo não passasse de um pesadelo. Mas não foi. Definitivamente não foi!
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The Living Years
RandomAs vidas e os conflitos de um grupo de jovens que vivem em "Hidden Hills", na Carolina do Norte. Cada um tem suas próprias histórias, dramas, sonhos, traumas e realizações a alcançar. Suas vidas se entrelaçam em meio a uma trama envolvendo relaciona...