Os gregos inventaram a tragédia

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Avisos de gatilhos:

▪ Morte
▪ Violência doméstica

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Ele estava tão, tão assustado. Em um momento, o garotinho se aninhava em sua mãe no sofá, no seguinte, o pandemônio começou na forma de Gabe Ugliano entrando cambaleante em casa.

Percy sabia o que significava quando Gabe andava assim: que ele tinha que se esconder. Principalmente com aquele cheiro forte horrível que emanava do homem.

Gabe Cheiroso. Ha.

Sally também pareceu perceber o perigo, pois Percy sentiu-a ficar tensa contra si. Ela repentinamente desligou a TV quando o marido entrou na sala. O rosto de Gabe estampava raiva."Oh oh. Isso não era bom", o garotinho pensou.

Ele se enroscou mais fortemente em sua mãe.

— Percy, querido — Sally sussurou amorosamente, se desvinculando dele. Seus olhos, entretanto, estavam firmemente focados no marido. — Vá para o seu quarto, filho. Já está tarde.

Porém, quando ele se levantou e começou a caminhar na direção de seu quarto, Gabe bloqueou o caminho com um braço.

— Não, não, você fica aí, moleque — rosnou, agarrando o ante-braço de seu  enteado com força. A criança gruniu de dor, mas ainda reuniu forças para encarar o homem desafiadoramente.

— Deixe ele em paz! — Sally gritou, o terror evidente em sua voz. Ela rapidamente se levantou e correu na direção deles.

Entretanto, antes que pudesse alcançá-los, Gabe agarrou o garotinho pelos ombros e jogou-o com força contra a parede. Percy sentiu o impacto com uma dor estrondosa e abrangente, e caiu após a colisão, dando o azar de bater na quina de uma cadeira no processo. 

Sentiu um líquido gosmento molhar seu couro cabeludo. O grito de horror de sua mãe foi a última coisa que ouviu antes de tudo ficar escuro.

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Ele acordou com o barulho de sirenes. Abriu os olhos sem entender onde estava, apenas conseguia visualizar adultos de roupas brancas e de aparência urgente ao seu redor. E também uma maca do lado. Aquela... Era sua mãe? Ela estava toda pintada de vermelho.

Percy começou a gritar:

— Mãe, mãe! Eu quero minha mãe!

Uma dos adultos de roupa branca veio tentar acalmá-lo. A enfermeira segurou-o com força, falando que tudo ia ficar bem, que ele devia se acalmar. Todavia, ele continuava a se debater e gritar:

— Mamãe! Mamãe!

Subitamente, um algodão molhado foi pressionado em sua pele, seguido por uma agulha. O mundo escureceu novamente.

As próximas horas foram um borrão para o menino.

Foi levado a um quarto de hospital. Não era de um branco estéreo, como nos filmes, mas os desenhos enfeitando a parede pouco fizeram para diminuir seu pânico e seu horror ao acordar. Continuou clamando por sua mãe, sentindo-se desesperado por ninguém atender a suas súplicas. 

Até que uma mulher de olhares gentis adentrou o quarto. 

Percy imediatamente gostou dela. Apesar de ser uma pessoa de pele escura como a noite e silhueta baixa e vasta, algo nela o lembrou de sua mãe (que era uma mulher negra de pele clara e um tanto quanto magra). Portanto, ele não protestou quando a médica segurou sua mão. 

— Percy, eu sou a doutora Alice. — A voz dela estava triste. O menino não gostou disso. — Eu... Meu querido, vim responder sua dúvida sobre sua mãe. Sinto muito, querido. Ela não resistiu.

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