O Paciente sorriu para mim com ar de gratidão, acho eu, depois de meses e meses de trabalho, começa a ficar difícil de perceber as emoções das pessoas que se sentam á minha frente, não passa tudo de um misto de sentimentos inexistentes. E sem dizer uma única palavra saiu do meu gabinete deixando a porta aberta, não completamente mas o suficientemente aberta para o meu perfeccionista começar a matutar aquela imagem na minha mente, fazendo com que aquela pequena frincha na porta se torne uma angústia enorme. Como um enorme buraco na parede.
Senti uma vontade enorme de chamar pelo homem e obrigá-lo a fechar a porta. Mas o meu lado mais racional sobrepõe-se e faz-me não culpar aquele senhor por aquela mínima falta de atenção, a sua cabeça nunca mais irá focar-se totalmente no mundo que o rodeia, pelo que me recordo, foi diagnosticado com cancro no pulmão á uns 3 meses (Fumador compulsivo, chegou a comprar 3 maços de cigarro por dia nos seus melhores dias), suponho , apenas tinha a companhia da sua esposa e filha jovem-adulta, porém um acidente de carro que tirou a vida das duas deixou um homem doente solitário no mundo. Ouvindo apenas o expirar do fumo do seu tabaco.
Foram imensas as vezes que eu já o convoquei e aconselhei a juntar-se a algum clube com uma temática interessante para ele, ou simplesmente, viver num lar onde partilharia a sua dor com outras dezenas de pessoas que passaram pelo mesmo e continuam a ajudar-se mutuamente umas ás outras, ele sempre soube que era o melhor para ele, mas na hora de tirar as palavras da sua boca sorria e dizia alegremente que as "vozes" não o deixam sozinho. Pode parece um pouco estranho ouvir isso de alguém, mas aquele homem já viveu a vida umas 5 vezes e está aqui para dar o testemunho.Massageei as têmporas e preparei-me para receber mais um paciente.
Aproveitei que tinha a outra mão no teclado e toquei as teclas para começar a escrever a palavra-passe do meu login no computador visto que o e-mail já teria sido digitado enquanto eu fingia concordar com as afirmações estranhas do paciente seguinte. O dia ainda mal tinha começado, mas eu já estava preparado psicologicamente para iniciar sessão umas milhares de vezes durante o meu expediente. O Hospital finge importar-se com tudo mas não dá a mínima para o andar da psicologia, fazendo-nos trabalhar com computadores que saíram do mercado á 20 anos atrás ou mais não tenho a certeza.Já pensei seriamente em trazer o meu portátil pessoal para o local de trabalho, mas torna-se muito chato porque a viagem de minha casa até ao local de trabalho ainda é um pouco demorada e para piorar a minha pasta está demasiado cheia de arquivos e ferramentas associadas à minha profissão .
Como sempre coloco o meu nome "Liam Prescott".
Password "1776664" já é um código predefinido pelo Hospital quando começamos um trabalho neste estabelecimento. Primeiro obrigam-nos a trabalhar com uns computadores de merda e de seguida esperam que decore-mos uns números que nos dizem apenas uma vez no primeiro dia de trabalho.
O meu perfil abriu. No canto superior esquerdo apareceu uma pequena biografia de mim:
Nome: Liam Prescott
Idade: 23 anos
Área : Psicologia
blá blá blá
tretas tretas tretasUm pouco mais a baixo poderia escolher entre imensas opções ,como fazer receitas médicas, marcar consultas e e.t.c. É o mínimo que este Hospital nos pode conceber para nos fazer sentir minimamente importantes.
Ignorei todos as opção que estavam listada e cliquei numa outra aba, ''Marcações''.
Recebi instantaneamente uma lista das pessoas com que eu teria marcado consulto para o dia atual, e, as que já permaneciam na sala de espera.-Próximo....-Falei para mim mesmo, olhando para o ecrã do computador que já oferecia uma luz bem fraca - Billy Graham.
Ajustei o microfone com as pontas dos dedos e transmiti o som para a sala de espera no final do corredor.
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Aptidão Obscura
HorrorLiam Prescott é um jovem psicólogo recentemente formado, porém com um grande histórico de casos atendidos e bem sucedidos. Até que em uma sessão Part-time, um paciente apresenta um caso tão arrepiante que Liam se recusou a ajudar de tão estranho que...