INVESTIGAÇÃO ACERCA DA JUSTIÇA
A justiça como mera proposição coloquial nos coloca a frente da dogmática relatividade interpretativa, nos oferecendo, entretanto, um arcabouço reflexivo da estrutura base de como a mesma funciona. Através disso, podemos observar que falar de justiça, antes de tudo, é expressar-se em um conjunto triangular, onde nos parece impossível relacionar somente duas partes para chegar a um consenso, havendo necessidade de uma terceira parte que, sendo esta reconhecida pelas outras duas, coloca-se numa posição de soberania, podendo decidir para qual lado a justiça estará posicionada.
Colocando em um exemplo atual: suponhamos que alguém foi assaltado, e acabou por ter boa parte de seus bens roubados. Passado um curto prazo de alguns dias, fica sabendo que o assaltante foi preso, e haverá um julgamento para se tomar as medidas necessárias frente a justiça. Nesse pequeno caso já encontramos as duas primeiras partes - o assaltante e a vítima do assalto. A terceira parte, vista como soberana quando relacionada às outras duas, será o juiz do caso, que deverá estabelecer as medidas necessárias.
Pouco diferente das interpretações histórica-filosóficas, parece um belo jeito de fazer justiça, não concorda? Colocar uma terceira parte para decidir aquilo que for de melhor na devida situação. Entretanto, evitando afastar-se o máximo possível de toda tosquice afirmativa, certas questões assombram o âmbito da Filosofia pura:
"Como ter certeza que a terceira parte sabe o que está fazendo?";
"E aliás, o que a justiça propriamente é?".
Note que se uma dessas questões ficar como não respondida, haverá a desmoralização das instituições que intitulam-se "legais", sendo estas as que nos fazem - forçosamente - sucumbir às suas "justiças". Mas como é possível dar mais de um significado ao que é justiça? Como é possível ela mudar todo ano? Perceba que se você, ou a sociedade onde estás inserido não oferecem relevância alguma para estas questões, tornam-se, frente à Filosofia pura, seres dogmáticos, escravos de qualquer interpretação comum, não crítica.
Adiantando qualquer desfecho, isso porque estamos tratando da realidade vivencial, nenhuma das questões citadas anteriormente foram respondidas até os dias atuais. Sabe o que significa? Somos todos servos das concepções alheias surgidas a partir de revoluções sanguinária, das demagogias histéricas, da tirânica vontade totalitária, da luta de classes, do liberalismo exacerbado, de um despotismo rudimentar, da vontade teísta, da divindade não empiricamente comprovada, do capitalismo intumescido, do socialismo falido, das causas sociais não dialogadas... A lista estende-se a quilômetros. Mas qual é a razão de submetermos a isso? Nela, há duas possíveis respostas:
Não há justiça, e nascemos para levar uma vida servil às concepções alheias; ou
Há justiça, mas nossa insignificância epistemológica e cientifica não nos permite saber o que a ela propriamente é.